BIXA TRAVESTI— MÚSICA E CORPO COMO REVOLUÇÃO

Carla_Oliveira
Hello Band
Published in
3 min readFeb 13, 2024
Retirada do Google

Eu já cansei de falar, já perdi a paciência
Você fingi não escutar, abusa da minha inteligência
Mas eu tô ligada, seu processo é muito lento
Vou tentar te explicar mais uma vez o fundamento

E se você não aceitar, pode doer, pode machucar
Que eu nem lamento (Vai!)

Bixa travesti de um peito só
O cabelo arrastando no chão
E na mão sangrando um coração
Bixa travesti de um peito só
O cabelo arrastando no chão
E na mão sangrando, um coração

O lance é muito simples
Não tem nenhum mistério
Pode ir saindo com o pau entre as pernas
Acabou o seu império

Tô vendo de camarote
O fim do seu reinado
Rindo muito da sua cara
De cãozinho abandonado

Na verdade, eu mudei de ideia
Te fiz uma bela surpresa
Quando tiver indo embora, não esquece
Deixa seu pau em cima da mesa (Vai!)

Bixa travesti de um peito só
O cabelo arrastando no chão
E na mão sangrando um coração
Bixa travesti de um peito só
O cabelo arrastando no chão
E na mão sangrando um coração

Bixa travesti de um peito só
Bixa travesti de um peito só
Bixa travesti de um peito só
Bixa travesti de um peito só

Bixa só, trava só
Bixa só, trava só
Bixa só, trava só
Bixa só, trava só

Lançado em 2019, Bixa Travesti é um documentário que aborda a trajetória pessoal e também profissional da cantora, compositora, atriz e ativista social trans brasileira, Linn da Quebrada.

Expoente crescente do rap e do funk brasileiro, Linn é uma artista completa que está à frente de seu tempo. Seu repertório é marcado por letras que nos atravessam, performances que impactam e que trazem densas reflexões sobre os vários tipos de violência sofridos pela sua classe, a LGBTQI+.

Assim como a música, o documentário é intenso do começo ao fim, carregado de provocações e analogias. Para além da sua história, a artista canta um mundo de questões relacionadas não só ao seu corpo, ela canta e, ao mesmo tempo, discute diversas mazelas sociais, em especial o preconceito, o desamor e a constante violência sofrida por todos os corpos considerados de menor valor por aqueles que acreditam estar no direito de maltratar e destratar quem não se assemelha.

O que está por trás deste doc é a ousadia de Linn em usar do seu corpo e de suas letras como armas prontas para atirar, não em sua defesa, mas para atacar, visando revolucionar e desestruturar todo um sistema que oprime e reprime a todo momento e em todo lugar.

Vale citar que, para além de rimas bem estruturadas, Linn usa de diversos macetes para tornar suas músicas e suas performances o mais conexas possível, tudo tem relação entre si, letra, melodia, ritmo, batidas e expressões. Tudo isso faz dela, não apenas, uma artista completa, mas também complexa, o que faz do seu trabalho algo memorável e também político, já que discute questões pertinentes a sociedade.

É isso, espero que tenham gostado do texto e que após a leitura estejam dispostos a desfrutar desta obra incrível ganhadora de diversos prêmios, em especial o Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2018 e o Prêmio ABRA de Roteiro em 2020.

Até a próxima!

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Carla_Oliveira
Hello Band

Estudante de Letras-Inglês, apaixonada pela escrita, pela leitura, pela pintura, pela dança e por gatos. Aqui jaz um pouco de mim e espero que também de você.