Mistérios sonoros: Velmas revelando o melhor do underground
As entrevistadas da semana mostram que as mulheres podem ser qualquer coisa que desejem: detetives (como quem inspirou o nome delas), cientistas, líderes e, claro, estrelas do rock. Mas, afinal, quem é a mulher que inspirou as “Velmas”?
A conexão simbólica do nome da banda vem de uma das personagens mais icônicas da cultura pop: Velma Dinkley, de “Scooby-Doo”. Conhecida por sua inteligência, coragem e estilo inconfundível, Velma sempre foi um símbolo de empoderamento feminino, mesmo antes desse termo ganhar força. A escolha do nome da banda parece, portanto, uma homenagem a essa personagem que, com seu espírito investigativo e destemido, inspira gerações de mulheres a desafiar estereótipos, se destacar e liderar em qualquer área que escolham.
Essas integrantes literalmente trazem o verdadeiro significado de "Girl Power", sendo uma banda totalmente composta por mulheres — uma baiana e as demais paulistas. Começaram há poucos meses, mas já mostram que carregam a música no sangue. Assim como o rock, que começou com uma mulher, a norte-americana Sister Rosetta Tharpe, elas não estão de brincadeira quando chegam aos palcos, fazendo covers de artistas e bandas femininas renomadas. O estilo da banda passa por Post Punk, Pop e até Grunge. Ficou curioso para conhecer mais? Cola na grade e leia abaixo nossa entrevista com as meninas!
QUAL O REAL SIGNIFICADO DO NOME DA BANDA?
Luisa: Não foi nenhuma escolha extremamente pensada. No nosso primeiro ensaio, a gente brincou sobre uma linha de baixo de um dos covers que a gente toca ser muito parecida com uma música do Scooby Doo — e descobrimos que todas tinham a mesma personagem favorita. Era um nome meio provisório, mas a gente se apegou.
COMO TUDO COMEÇOU E QUAIS FORAM OS PRIMEIROS MOMENTOS?
Luisa: Eu sempre quis ter uma banda só de mulheres, mas nas poucas tentativas que eu fiz não ia pra frente, e por isso tinha desistido. Mas eu voltei a pensar nisso depois que peguei mais firme nas aulas de batera, meu namorado deu uma força tremenda e decidi arriscar de novo. Nosso primeiro ensaio foi muito massa, porque eu não tinha a menor ideia se a gente de fato ia se entender e curtir tocar juntas, e rolou um amor à primeira vista.
Bárbara: A primeira vez que a gente se reuniu pra compor juntas foi muito gostoso, a gente fez um churrasco e saiu com uma música, haha. O primeiro show na Av. Paulista foi surreal também. Mais recentemente teve outro momento belíssimo que foi o nosso show no Cine Jóia, no fechamento do WME, a convite da School of Rock. A gravação do EP também foi inexplicável, choramos horrores.
DE ONDE VOCÊS SÃO?
Hendy: Eu sou de Itapetinga, na Bahia, e as meninas são de São Paulo.
SE APRESENTEM E DIGAM QUE INSTRUMENTOS TOCAM.
Daniella Moraes no vocal, Bárbara Mazzi na guitarra, Hendy Almeida no baixo e Luisa Migueres na bateria.
COMO VOCÊS DEFINEM CADA UMA?
Hendy: Eu amo que, mesmo a gente gostando de muita coisa coletivamente, cada uma tem influências musicais bem diferentes. A Lu adora pagode, a Dani é super fã de Michael Jackson, a Bá é Swifter e eu amo Paramore. A gente traz pra banda várias influências que a gente se encontra também, e apresenta para as outras. Tem MUITA música do nosso repertório que eu conheci com elas e amaria ter conhecido antes.
QUAL A IDADE DE VOCÊS?
Dani (30), Bárbara (25), Hendy (28) e Luisa (35).
QUE MOMENTO QUE VIRAM QUE A MÚSICA ERA O QUE QUERIA PRA VIDA?
Dani Moraes: Não tive um momento específico em que eu me dei conta disso. A música sempre foi algo que me acompanhou por toda vida. Sempre que busco lembranças mais antigas da minha infância , vem eu cantando. Em certo período da minha vida eu acabei me afastando da possibilidade de estar num palco. Sempre fui muito retraída e tímida. Só para ilustrar esse aspecto, o meu marido só descobriu a minha paixão por cantar no nosso casamento, quando eu decidi entrar cantando Fascinação da Elis Regina na cerimônia. Mas quando eu resolvi olhar para dentro e buscar o meu propósito de existência, a música estava lá, e foi a primeira coisa que me fisgou, me resgatou . Estar num palco é quebrar todas as barreiras dos medos e timidez. É evoluir e ir além. Hoje mais que nunca, eu respiro música.
Bárbara: Acho que descobri mesmo no fim da adolescência depois de muito insistir em outras áreas. Mas na hora de decidir o que eu queria fazer da vida não consegui escolher outra coisa.
Hendy: Desde sempre, estive imersa em ambientes musicais, mas por um tempo, eu me via apenas como uma apreciadora da música. Apesar do meu interesse pelo baixo, foi somente em 2020 que decidi mergulhar de cabeça e explorar essa paixão com mais dedicação. Eu estava curiosa para ver se o processo de aprendizado da música se assemelhava ao aprendizado de programação, uma área com a qual eu já estava familiarizada. O ponto de virada para mim foi quando tive a oportunidade de tocar em uma banda e vivenciar de perto todo o esforço envolvido na criação e apresentação musical. Ver o trabalho colaborativo e a energia coletiva no palco foi uma experiência transformadora. Foi ali que percebi o quão profundamente eu queria me envolver com a música. A experiência de criar em grupo, de me inspirar em artistas que fazem parte da minha própria trilha sonora e, finalmente, de compartilhar isso com pessoas que se identificam com o nosso som, solidificou minha decisão de seguir esse caminho com mais intensidade.
Luisa: Eu até agora não me sinto no “lugar certo” tocando, compondo, gravando. A verdade é que eu sempre quis estar perto da música de alguma forma, mas não botava fé que estaria tocando num palco um dia. Mas acho que o encontro com as meninas foi tão especial, que todo dia eu me sinto mais segura e confiante — acho que o lugar certo foi criado pela presença delas.
COMPARTILHEM SUAS EXPERIÊNCIAS PRÉVIAS E ESTUDOS MUSICAIS ANTES DE TEREM A BANDA.
Hendy: Em 2021, comecei a tocar baixo na banda de apoio de Danna Lisboa. Em 2023, me juntei à banda Velmas como baixista e também iniciei como vocalista na banda Bicho Solto.
Bárbara: Estudei música na faculdade e me formei em 2022. No mesmo ano comecei a tocar com um quarteto instrumental e entrei banda mrs bloom como baixista.
Dani Moraes: Meu maior mentor da vida foi Michael Jackson. Eu cresci ouvindo todas as músicas dele. Desde o The Jackson 5 até as músicas póstumas e não lançadas. Hoje percebo que tudo que eu sei de técnica vocal, veio dele. Estudei canto por um curto período em uma escola de música pequena na Vila Romana , depois fiz mais um período na School Of Rock , em Perdizes . Fiz parte de 2 bandas de rock clássico , já cantei em bares e aniversários , permeando vários estilos musicais.
Luisa: Eu toquei por muitos anos em bloco de Carnaval e já tive uma tentativa de banda tendo zero experiência com bateria antes. Mas as coisas começaram a andar mais depois de começar a tocar com outros alunos da School of Rock — que foi onde eu conheci a Dani, aliás.
COMO TEM SIDO O CRESCIMENTO DA VELMAS DESDE O INÍCIO ATÉ HOJE?
Luisa: Foi tudo meio que no susto, haha. A gente começou a tocar juntas pra se divertir fazendo covers de mulheres icônicas do rock e do pop. Foram pouquinhos shows em 2023, mas em 2024 a demanda aumentou muito, a gente começou a querer tocar em lugares mais desafiadores, e surgiu essa vontade de fazer músicas nossas.
Bárbara: Acho que nem existia uma expectativa de deixar os covers de lado tão cedo, mas foi tão natural… A gente tinha coisas parecidas pra dizer, sonoridades que queria experimentar, e percebeu que tinha um material que faria sentido pra um EP.
COMO VOCÊ APRESENTARIA SUA BANDA PARA QUEM CHEGOU AGORA NESSA ENTREVISTA?
Luisa: Eu espero que fique claro pra quem ouvir as nossas músicas o quanto a gente ama tocar juntas, o quão divertido e libertador é fazer músicas com uma banda assim. O mais importante sempre foi a gente se olhar ali no palco ou no estúdio, e ver a outra ali arrebentando, sabe? A gente curte ser banda mesmo, no sentido de grupo mesmo, se apoiando e torcendo umas pelas outras, saindo pra fofocar. E essa sintonia acaba transbordando.
NOS CONTEM TUDO SOBRE O NOVO EP QUE SAIRÁ EM BREVE, QUE SÓ PELO NOME JÁ PROMETE SER MUITO BOM!
Luisa: Para o EP a gente escolheu cinco músicas que trazem bastante da nossa essência. Umas linhas mais pesadas de bateria e guitarra com um baixo groovado. A Dani gravita muito bem no contraste do doce ao rasgado também. Enfim, as músicas são bem diferentes, mas todas têm intenções muito claras, a gente curte mensagens bem diretas nas letras, também ama debochar de algumas neuroses, então tem um tiquinho de sarcasmo também.
PARA OS NOVOS OUVINTES QUE MÚSICAS INDICARIAM?
Dani Moraes: A preferida de todas as integrantes da banda é a “Witch in The Making”. Mas nosso primeiro amor enquanto estávamos compondo as músicas sem dúvida foi “Zombie Girl”. As duas possuem uma atmosfera que representam a essência da banda.
QUAIS SÃO AS FONTES DE INSPIRAÇÃO DE CADA INTEGRANTE?
Hendy: Paramore, Lianne La Havas, Radiohead, Pitty, Rita Lee, Fleetwood Mac, Pixies, WIllow e Hiatus Kaioyte.
Luisa: No Doubt, Joan Jett, Fanny, Breeders, Smashing Pumpkins e Sleater-Kinney.
Bárbara: The Beatles, Aerosmith, Joni Mitchell, Boygenius, Taylor Swift e Ella Fitzgerald.
Dani Moraes: Michael Jackson , Diana Ross , LP, Grace Jones, Sade, Janis Joplin, Amy Winehouse , Kate Bush, Etta James, Nina Simone, Stevie Wonder, Cyndi Lauper . De nacionais: Rita Lee, Elis Regina, Marisa Monte, Vanessa da Mata, Liniker.
EM QUAIS REDES SOCIAIS PODEMOS ACOMPANHAR O TRABALHO DA VELMAS?
Bárbara: O lançamento do nosso primeiro EP será na primeira semana de outubro, mas até lá a gente vai compartilhar um pouco do que vem por aí pelas nossas redes, pelo @velmasband. E a nossa campanha do Catarse está aberta para receber apoiadores, com recompensas que a gente criou com muito carinho:
Instagram: https://www.instagram.com/velmasband
YouTube: https://youtube.com/@velmasband
Tiktok: https://www.tiktok.com/@velmas.band
Campanha para o EP: https://www.catarse.me/velmas_ep
VÍDEO DA CAMPANHA DO EP:
COMO SEMPRE, PEDIMOS PARA AS BANDAS DEIXAREM UM CONSELHO PARA QUEM TAMBÉM ESTÁ COMEÇANDO E POSSA ESTAR SE SENTINDO DESANIMADO SOBRE A CARREIRA MUSICAL. O QUE DIRIAM PARA SEUS COLEGAS DE PROFISSÃO QUE COMPARTILHAM O MESMO SONHO?
Luisa: Talvez você nunca se sinta pronta pra algumas coisas, mas isso não deveria te impedir de fazer o seu rolê. Tocar um instrumento, fazer um show, gravar um disco. Fazendo com carinho e dedicação, coisas boas virão. E depois encontre pessoas que acreditam e se conectam com o que você faz. Ouça o que elas têm a dizer, isso vai te ajudar muito a entender os próximos passos. :)
QUAL MENSAGEM FINAL VOCÊS DEIXARIAM PARA QUEM ACABOU DE CONHECÊ-LAS?
Luisa: A gente é isso que vocês tão vendo mesmo. Um grupo de mulheres que se encontrou e resolveu expor as suas maiores verdades por meio de música. E com certeza outras pessoas se identificam com essas vontades, frustrações, felicidades e inseguranças. Pra nós, estar no palco e tocar as nossas músicas são coisas que nos trazem autoconfiança, e se a gente consegue fazer outras pessoas se sentirem assim também, não tem nada melhor.