O ‘artivismo’ de Bia Ferreira

Kevilen Bergaminho
Hello Band
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3 min readOct 6, 2021
(Foto: Divulgação)

No dia 01 de outubro começou, em sua primeira edição, o festival online e gratuito “Negras Melodias Show”, um projeto do “Universo AfroMusic” que visa contemplar performances de artistas negros com seus projetos autorais.

O festival destacou performances diferentes e exclusivas, propondo um olhar de apreciações sonoras que une o presente, passado e futuro da história da música negra.

O público pôde conhecer as composições de Josyara; se emocionar com a parceria de Nina Oliveira e Theodoro; flutuar nas possíveis utopias de Hever Alvz e Melifona; ouvir sobre ancestralidade com Melvin Santhana, entre outras atrações.

Como destaque desse evento, vamos relembrar a importância da cantora, compositora e produtora musical, Bia Ferreira, que se apresentou no dia 03 de outubro, cuja transmissão foi realizada no canal do Youtube “Universo Afromusic”.

Bia Ferreira é uma multi-instrumentista nascida em Minas Gerais e criada em Sergipe, que trabalha com música desde os seus 15 anos de idade. Ela se define como “artivista” e sempre buscou fazer revolução e ativismo com sua arte. Suas músicas são fortes e cheias de suas experiências sobrecarregadas em cada verso, com influências em ritmos como: blues, soul, jazz, reggae, funk e R&B.

Com ascensão independente no cenário musical, ela propaga sua voz para conscientizar, educar e trazer informações que dizem respeito às pautas raciais, ao feminismo, à luta LGBTQIA+, à intolerância religiosa, entre outros assuntos necessários.

Em seu genial repertório, a cantora aborda os temas citados anteriormente como uma maneira de revolucionar e “ensinar tecnologias de sobrevivência” ao povo preto e LGBTQIA+. Bia define sua música como MMP (Música de Mulher Preta), também trazendo palco para discutir o feminismo, entretanto modula um recorte dentro do próprio movimento para abrir debates referente ao racismo.

Na canção “De Dentro do Ap”, por exemplo, Bia Ferreira fala sobre um feminismo que não faz um contorno de classe, enfatizando também a vivência de mulheres negras, que não veem representatividade dentro do feminismo branco. A letra mostra como algumas ativistas têm discursos superficiais e não ousam enxergar além da sua própria realidade, como apontado no verso:

“Quantas vezes você saiu do seu apartamento
E chegou no térreo com um prato de alimento
Pra tia que tava trampando no sinal
Pra sustentar os quatro filhos e já tá passando mal de fome?
Quando foi que cê parou pra perguntar o nome
E pra falar sobre seu ativismo?
Quando foi que cê pisou numa favela pra falar sobre o seu
Fe-mi-nis-mo?”.

Em entrevista para o “Brasil de Fato” em 2019, a instrumentista comentou e reforçou o discurso pregado em suas composições: “Não é contra as mulheres brancas, não é contra o feminismo. É a favor de um feminismo que não olha só para o seu umbigo. É um feminismo que pega seu carro e vai na favela buscar as manas que não tem a grana do busão”.

Em outro momento de sua carreira, Bia chega a citar que “não existe feminismo se você não defender a vida das mulheres negras e não defender a vida das mulheres trans, que são as que mais morrem no Brasil”.

De forma didática, a ‘artivista’ também expõe o discurso racista na canção “Cota Não é Esmola”, escrita em 2011, tendo um reflexo da realidade, após a cantora entrar em uma universidade, no ano de 2009, e a mesma perceber a falta de pessoas pretas dentro das salas de aula. A letra é voltada à uma resistência antirracista, veiculado em programas de TV, juntamente aos protestos nas ruas contra o corte de verbas na educação e contra proposta de lei que quer acabar com as cotas raciais nas universidades.

Não há dúvidas sobre o impacto que Bia Ferreira vem deixando sobre as pessoas e por meio de sua arte, ela continua trazendo representatividade e informações durante seus shows.

A cantora se apresentou dia 30 de setembro em Coimbra e dia 03 de outubro em Lisboa, Portugal. Além disso, irá se apresentar no dia 10 de outubro no espaço cultural “La Frida”, onde funciona também a “BiciPr3ta” no Santo Antônio, Além do Carmo.

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