O que eu gosto não é bom!

Aeruh
Hello Band
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4 min readMar 16, 2021
Imegem da empresa spotify com logo de fundo desfocado, e fones de ouvidos.
Imagem: tudocelular

Hoje, onde todo mundo tem acesso a conteúdos infinitos, não saber o que fazer se torna algo normal. Para isso se cria uma cultura de especialistas e críticos que fazem a triagem do conteúdo para o público. Outra forma são filtros feitos por algoritmos das plataformas. Nesse excesso de conteúdo, ouvir o que se quer, se torna o padrão. Com essa forma de consumo, o gosto começa a se prender num círculo vicioso de bolha. As críticas às empresas já sabemos. Mas e nós, o público? Como estamos reagindo a isso?

Dados mostram que há uma desigualdade de consumo de música na internet. 1% dos artistas monopolizam 90% da audição nos serviços de streaming. Sabemos que as grandes gravadoras sempre dominaram o mercado. Mas por que a internet não quebrou o domino delas? Digo, por que todo mundo continua ouvindo a mesma coisa, ou ligando para a lista da Billboard? O Grammy será esta semana(14), e tem discussão se o The Weeknd merecia alguma indicação. Merecia? Não sei.

troféu da premiação grammy. O formato do prêmio é uma vitrola de ouro com uma base quadrada preta que segura a vitrola.
credito: grammy.com

Mas a discussão que eu procuro enfatizar é: Por que o meu gosto, que deveria ser livre, acaba favorecendo uma bolha de grandes empresas? Pense bem, o nosso gosto é moldado de alguma forma. Seja família, educação, origem social, o meio age sobre o que sentimos e gostamos. Não tenho envergadura intelectual para discutir Bourdieu ou Indústria Cultural.

Porém, qual o sentido de ouvir o artista do momento, senão uma função social? Isso é válido e não tem nada demais. Não falo de experiência estética. Mas por que os artistas independentes se saíram tão prejudicados por um meio que deveria lhes favorecer.

Não vou entrar na cultura do cancelamento, nem na discussão de qualidade de algum artista, mas o que faz um artista ter tanto engajamento nas redes? Essa pergunta me leva às redes sociais. Ligando às fakes news, o engajamento só fez da rede um lugar mais tóxico. Citando um exemplo, algo que começou com a eleição do Obama, termina com o Trump.

presidente obama ao lado do presidente trump. Obama com a cabeça erguida. trump, olhando fixo para frente.
credito: exame.com

Até onde vai a bolha? Digo, até onde sou manipulado? Talvez, nem importe. Todo mundo está no mesmo barco. Até os donos das empresas, afinal, Facebook e Spotify podem falir. E o diferencial, é aqui. O Dinheiro. O 1% dos monopolizadores ganham muito mais que o resto. E falar desses um 1% dá mais audiência. Os artistas não famosos — os 99% — não conseguem ter uma visibilidade, não por falta de interesse do público, ou falta de marketing do artista, mas por causa de uma plataforma que só se importa com números. Plataformas como Spotify ainda não saíram do vermelho. E não é o vasto catálogo deles que dará dinheiro, mas um grande artista que atraia play. O investimento em podcast é um resultado disso.

A importância dos números, como o Instagram, não foi o esperado da cauda longa do Chris Anderson, os pequenos hits não se sustentam. E o domínio que os grandes artistas têm, prejudica a diversidade na internet. Nem o crowdfunding foi o suficiente para mudar o cenário. Se lembra do Myspace? Aquela interação e contato que o artista poderia ter com o público. Isso mudou as coisas e se artistas como Lily Allen e Arctic Monkeys saíram dali, foi por causa dessa cultura.

gráfico que decrescer para direita. A esquerda é muito alta. A direita vai ficando pequena, mostrando as vendagens de pequenos mercados.
credito: Site Laparola.com.br

O cenário da pandemia só ressalta a diferença entre os grandes e os pequenos. Até para fazer show clandestino, você precisa de grande público.

A conscientização dos usuários nas redes sociais, pode mudar algo. Está todo mundo saturado com as empresas de tecnologia e seus algoritmos. E década que começa, já deu um passo para mudanças.

Não acho que Cris Anderson esteja tão errado. Nem sou contra os grandes artistas e gravadoras, tem espaço para todo mundo. Internet é isso. Mas a ganância por números, que parecia ser democrático, acabou se tornando autoritário para todos.

Textos referências:

http://sonarcultural.com.br/opiniao-o-spotify-esta-criando-bolhas-e-nao-estamos-vendo/

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