Lucas Giato
Hello Band
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3 min readJul 8, 2024

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RESUMO DA OBRA #1

A BALADA DA MADAME FRIGIDAIRE

A “Balada da Madame Frigidaire” é uma faixa de 5:00 e compõe o álbum “Elogio da loucura” do cantor Belchior, de 1988. Este que ao longo da carreira, compôs letras que vão de declarações de amor até criticas políticas e sociais.

A canção aborda a cultura do consumismo, e expõe a idealização do objeto, que passa de um item de utilidade, para um equipamento que além de suas funções, supre qualidades humanas.

Durante o início da letra, o eu-lírico deixa claro o apego sentimental ao objeto “revolucionário” que “injetou-se em sua veia”, e que o sentimento que foi despertado, cresce e toma um lugar social em sua vida, superando inclusive a importância de relações interpessoais, conforme o trecho: “Já passou de minha amante, virou superstar, a mulher ideal, mais que mãe, mais que a outra. Puta amiga!”, e que se estende ao refrão com: “Pra que Deus, dinheiro e sexo? Ideal, pátria e família? Pra quem já tem Frigidaire” onde a tamanha relevância do produto acaba tornando outros tópicos e necessidades da vida, inúteis quando comparados a ele.

A passagem: “Que brancor no abre e fecha sensual, dessa Nossa Senhora asséptica. Com ela eu saio e traio a televisão, rainha minha e de vocês”, além de mostrar que o '' endeusamento '' de bens não é particularidade do eu-lírico, sendo algo já presente na sociedade, também traz a consciência de não haver exclusividade da geladeira, e que na realidade há a coexistência dela com outros itens que também são supervalorizados pelo ser humano.

Antes do último refrão, a letra prossegue com: “Inventores de Madame Frigidaire, peço bis, muito obrigado! Afinal, na geladeira, bem ou mal, põe-se o futuro do país, e um futuro de terceira posto assim na geladeira, nunca vai ficar passado.” Neste raro momento, a geladeira é posta em sua função de “preservar”, utilizando de maneira ambígua a palavra “passado” que é popularmente colocada para se referir ao alimento que “passou do prazo de consumo”, junto a expressão “terceira” que é usada para classificar algo com má-qualidade, o compositor faz a critica de que mantendo as coisas como estão, os resultados serão os mesmos.

Algumas referências artísticas são citadas também, como no trecho “Essa deusa da fertilidade, Ready Made a lá Duchamp” e o “Mr Andy, o Papa Pop” e serão explicadas abaixo:

O Ready Made de Duchamp – Duchamp foi um pintor e escultor que ousou durante o século XX, utilizava itens do cotidiano para transmitir outro significado, e por se tratar de objetos já prontos, compartilhou a ideia de que a construção do objeto não seria a arte, e sim a ideia empregada pelo artista que seria de fato importante.

Sobre Andy Warhol, o “Papa da Pop Art”, em sua carreia mesclou elementos publicitários e relações de consumo, gerando questionamentos sobre o sistema de produção e o consumismo. Dentre suas obras, há a arte feita com latas de sopa Campbell, que expôs a agilidade da produção em cadeia e a repetição, que tornaram-se procedimentos difundidos na sociedade, principalmente na indústria.

Comparado aos dias atuais, uma obra que data do século passado e que utiliza referências do mesmo século, traz a ideia de que o consumismo não é de hoje, e é algo a ser questionado quando tido de forma exagerada, assim como também deve ser pensada a importância de um bem material e qual o seu papel de fato, para que outras partes da vida não sejam atingidas. Neste aspecto, podemos usar de exemplo a progressão de uso do celular, que antes era tratado apenas como um meio de comunicação, hoje é um item imprescindível no dia-a-dia, com diversas utilidades, porém, que traz como consequência de sua dependência, o transtorno chamado de Nomofobia.

Com dados da Universidade McGIll, para uma pesquisa feita em 2022, o Brasil foi apontado como 4º colocado no ranking de Vício em Smartphone.

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