The Rise and Fall de Lana Del Rey
Reembarcando no debut da artista que viria a definir os sonhos e decepções de uma geração
“Feet don’t fail me now, take me to the finish line”, são as primeiras palavras do que viria à ser a introdução ao mundo de uma das artistas mais enigmáticas dos últimos tempos. Primeiras palavras essas que apresentam o que seu primeiro projeto, Born to Die (2012), tem como intenção: narrar uma sonhadora Lana Del Rey (nome artístico de Elizabeth Grant) em seus primeiros contatos com o mundo da fama, do glamour, dos diamantes, de milionários com idades para serem seu pai: estamos, de camarote, no portão do início da jornada de uma vida que Lana Del Rey nunca mais saiu.
Assim como a personagem Dorothy, do romance “O Mágico de Oz” (1939), nossa protagonista percorre um caminho de tijolos amarelos, que, em seu caso, como cantado na canção Radio, são cobertos de ouro, segundo seu pai, um influente empresário que ascendeu na vida durante o auge do conceito do sonho americano, passando essa filosofia nacionalista à diante para sua filha. Ao seguir os conselhos do pai, Lana incorpora uma persona digna de estrelas de Hollywood dos anos 50, tal como Marilyn Monroe: bela, inocente, dramática, que tem como objetivo o amor e o dinheiro. Se tornando, assim, de certo modo, muito relacionável para jovens garotas que almejam essa fantasia.
Como em muitos momentos na vida, nos dedicamos à um grande sonho, criando diversas idealizações sobre esse objetivo, que, às vezes, correspondem às expectativas, mas, muitas vezes não. Esse conflito permeia o projeto, ao questionar em diversos momentos, se ter tudo que ela sempre quis, no âmbito material, seria o suficiente para sua felicidade: para concluir que, na verdade, não. Lana parece tentar ocupar um vazio que as luzes de Los Angeles não conseguiram preencher, saindo à procura de homens dignos de terem saído da obra clássica de F. Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby”, que ás vezes são como sempre sonhou, como em Lolita, que leva o nome do famoso (e polêmico) livro de Vladimir Nabokov e na maravilhosa faixa deluxe Lucky Ones, no entanto, na maioria das vezes, não consegue viver no presente, concebendo uma previsão pessimista de que o romance irá acabar, como em Born To Die, Million Dollar Man e Without You, ou até que seu companheiro pode vir à morrer, nítido nas faixas Dark Paradise e no hit Summertime Sadness. Para Lana, seus sonhos nunca a farão totalmente felizes, então, a única opção é a morte.
Com isso, há de se notar o tom depressivo que acompanha a artista durante sua jornada para se tornar uma estrela. Contribuindo para uma romantização da estrela decadente, que possui tudo, mas sente que não possui nada, noção esta já, de certa forma, prevista desde sua adolescência turbulenta, em que se envolveu com álcool e drogas, mesmo vindo de um berço de ouro, como relembra nas faixas Carmen e This Is What Makes Us Girls. Lana precisa estar devota à algum motivo, não importa o que custar, se sacrificando imensamente em prol deles como em Blue Jeans, ou cantada em Video Games: “It’s all for you, everything I do”, se assemelhando com Elaine, protagonista do terror The Love Witch (2016), que conta a história de uma bruxa obcecada pelo amor, enfeitiçando diversos homens, mas nenhum parece ser o ideal, o que acaba os levando à morte, se coincidindo ainda mais com os relatos de Del Rey, sobre praticar bruxaria, inclusive contra um dos homens, definitivamente, menos ideais do mundo atual, o presidente dos EUA, Donald Trump.
Ao pensar nos âmbitos técnicos do disco, o debut de Lana não poderia ser mais influente no indie pop dos dias de hoje. Com artistas como Billie Eilish conquistando as charts ao adicionar batidas trap em suas canções (nítidas em Born To Die como na faixa National Anthem, música esta que conta até com a participação do rapper A$AP Rocky no videoclipe), Lorde e Angel Olsen introduzindo metais e violinos em seus consagrados discos indies, Del Rey consegue juntar todas essas características, um vocal inconfundível e adicionar um de seus maiores, se não maior talento: a escrita, a tornando uma compositora nata, e mais do que isso, uma grande contadora de histórias.
Depois de investigar o interior e exterior da mente de Lana nesse projeto, é possível caminhar, cair, chorar, e rir se imaginando em uma banheira de diamantes junto à cantora. Há de se constatar, também, que ela conseguiu mais do que um dia sonhou, se tornando a junção de uma figura relacionável, e ao mesmo tempo, o sinônimo da fantasia, da lenda, de um mito no meio musical. Com isso, ao fisgar à todos em seu primeiro álbum, não existe outra afirmação: foram feitas muitas vítimas de uma poção do amor e devoção feita por Lana Del Rey, poção esta cujo o efeito não tem data de validade para acabar.