Theremin, o pitoresco progenitor-ancestral da música eletrônica
O Theremin (ou teremim, aportuguesado) é considerado, em toda a história da relação entre a produção de instrumentos musicais pela humanidade, o primeiro instrumento de fonte sonora inteiramente eletrônico. Não à toa, que o dito instrumento musical foi carinhosamente alcunhado pelos teóricos musicistas, historiadores e conhecedores ávidos do âmbito da música, de “Avô dos Eletrônicos”.
Para carregar consigo tamanho título, decerto, o próprio instrumento consequentemente traz em sua bagagem técnica, cultural e histórica um percurso interessantíssimo.
História
O nome Theremin é oriundo do último nome do criador do instrumento, Leon Theremin. Nascido na cidade de São Petersburgo, ainda em uma Rússia de cenário monárquico pré-revolução, em 28 de agosto de 1896, Leon Theremin foi um engenheiro e inventor que, além de produzir o dito instrumento musical, também foi personagem principal na criação de outras invenções, sendo a segunda mais conhecida (em tradução literal) “A Coisa”, utilizada como ferramenta de escuta de espionagem para auxiliar o governo soviético perante assuntos discutidos na embaixada estadunidense na nação, o alarme doméstico anti-furto (que utilizara de tecnologia similar à do Theremin), dentre outras invenções (ou proto-invenções), que, decerto, possuem suas influências em objetos e tecnologias até a contemporaneidade.
O desenvolvimento e consequente criação do instrumento musical inédito deu-se no ano de 1920, precisamente, em meados do mês de outubro, logo após os prelúdios da conturbada Guerra Civil Russa. Após o pleno desenvolvimento subsequente ao testar o protótipo em sua nação-mãe, Leon passara a aventurar-se Europa afora por oito anos a fio demonstrando em inúmeros países seu instrumento eletrônico revolucionário e pitoresco (que, compreensivelmente, fascinara em uma amálgama de curiosidade e estranheza quem via o musicista tocar sem contato propriamente dito, conjuntamente ao ouvir-se a sonoridade peculiar do Theremin), e, em 28, Leon Theremin viajou aos Estados Unidos, onde patenteou seu instrumento, associado à RCA (Radio Corporation of America).
Infelizmente, o timing do lançamento oficial do Thereminvox foi inconscientemente mal-calculado por Leon, já que o lançamento no mercado dera-se pouco após o Crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 29, fazendo com que a estendida crise econômica prevalente em um largo escopo afetasse em larga escala as vendas do Theremin.
Apesar de, comercialmente, o Theremin ter sido um fracasso, culturalmente, este encantara audiências entusiastas cada vez maiores, como bem ocorrera nas primeiras demonstrações no continente de origem do inventor. Sobretudo, após Clara Rockmore, uma ávida musicista especializada no Theremin, tornar-se a porta-voz mais conhecida do instrumento no período, realizando concertos em turnês nos Estados Unidos.
Conquanto, após a deixada súbita (e muito teorizada, graças ao mistério levantado envolvendo sua nação de origem e os objetivos desta) de Leon Theremin dos Estados Unidos, em 38, antecedendo concomitantemente o apogeu da Segunda Guerra Mundial, o Theremin gradativamente fora deixando de ter espaço nos interesses culturais populares como outrora tivera, com a recorrente justificativa de sua complexidade de manuseio e o surgimento de novos instrumentos eletrônicos “mais agradáveis aos ouvidos” e menos complexos para serem tocados.
Não obstante, mesmo tendo isto em vista, ainda assim, pequenos grupos de entusiastas do instrumento aqui e acolá prevaleceram, compensando a quantidade pela qualidade, permanecendo leais ao interesse até hoje (em que ouso dizer, assim como eu) e, especialmente, mantendo o Theremin vivo.
A Anatomia e Funcionalidade do Theremin
O método de controle de sonoridade do Theremin é realizado pelo musicista que o toca através de duas antenas de metal (uma reta, posicionada na vertical, e outra em um formato visualmente similar à oblongo, na horizontal) que através de um sensor de movimento, capta automaticamente as respectivas posições e mínimas movimentações das mãos, punho e dedos de quem toca. A exata distância entre as antenas de metal determina, respectivamente, a frequência (controlada costumeiramente com a mão direita) e a amplitude (usando a mão esquerda) das melodias reproduzidas pelo instrumento.
Apesar da presença da tecnologia similar à do rádio no Theremin com as antenas, as mesmas não recebem nem transmitem sinais de rádio, mas sim, apenas servem como placas de um capacitor, isto é, armazena pequenas cargas de eletricidade em um campo elétrico que permite, com as especificidades do instrumento feitas precisamente para a amplitude da sonoridade, que faça-se música, reproduzindo, destarte, a amálgama de voz humana em tons quase etéreos e algo excêntrico, desconhecido, quase, por assim dizer, marciano.
O Theremin na cultura pop
O Theremin, graças à sua sonoridade tipicamente intrigante e única, inspirou consequentemente os entusiastas do instrumento a aplicarem-no em trilhas sonoras de filmes e séries em que a temática casa perfeitamente com a essência sonora do Theremin: Ficção científica, com uma pitada de suspense incógnito.
Dentre as obras aclamadas na história da cinematografia contemporânea que usaram o instrumento, pode-se mencionar O Dia em que a Terra Parou, de Robert Wise (1951), Os Caça Fantasmas, de Ivan Reitman (1984), e, recentemente, até mesmo na trilha sonora do seriado da Disney+, Loki, de Kate Herron (2021).
Conjuntamente, o instrumento acabou também fazendo com que mais musicistas se tornassem ávidos entusiastas, caindo nas graças de cantores, grupos e bandas populares, tais como The Beach Boys, na introdução da canção Good Vibrations, Jimmy Page da banda Led Zeppelin, em diversas apresentações de clássicos como Whole Lotta Love, e, especialmente, para representar o Brasil no amor pelo Theremin e utilização deste em canções, Os Mutantes, em que, até hoje, em carreira solo, Rita Lee demonstra sua paixão pelo instrumento, performando-o com ainda mais energia que de costume em seus shows.