Marionetes sem Fios

Hemerson Miranda
Hemerson Miranda
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1 min readApr 15, 2022

No princípio, se é que houve princípio,
uma cidade degenerada se erguia entre
crânios e ossos, em meio a ruínas de memórias.
O vento dançava pelos escombros, pelas cavidades
úmidas que resvalam humores pútridos.

Pululavam seres de madeira contorcidos, vazios
de esperanças, sentimentos e carne.
Qual vermes escorregadios, suas juntas rangendo
sob a sinfonia de cupins e baratas, a brisa podre
sussurrando entre os orifícios, nuvens de serragem
subindo como incenso e espalhadas pelos destroços.

Os lábios e cabelos pintados das criaturas, cores foscas
que a luz do sol moribunda não consegue tocar,
eram como manchas cancerígenas desistentes.
Se moviam, autopropulsados, sem fios, sem medo,
a morte neles estava esculpida, mas se mexiam como
corpos em convulsão esperando o fim.

Caminham apenas por impulso, rumo ao precipício,
por onde se entra neste mundo, uma máquina de suicídios.
Totens da monstruosidade, suas bocas, uma lasca disforme,
recebe o vento seco que produz o som de desespero,
gritos mudos de desejo pela morte.
A quebra de seu mórbido silêncio.

Seus olhos, outros furos, abismos inquietos, o negrume do esquecimento
Espíritos não habitam madeira, mas as ranhuras desses seres podem
conter a angústia do tempo, o choro dos enforcados.
São moldes abaixo do crânio. A escuridão.

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Hemerson Miranda
Hemerson Miranda

Já pensou no dia em que os alienígenas invadirem a terra em busca de vida inteligente e todos nós ficarmos sem smartphones?