O Lobo da Estepe
Harry Haller é um homem inquieto, como tantas pessoas o são. Um espelho. Harry é uma dicotomia onde o homem e o lobo vivem em seu interior, com humores e desejos diferentes. O incômodo de nosso protagonista é resumido nessa frase da página 89:
“Uma vida fácil, um amor fácil, uma morte fácil — tais coisas não eram para mim.”
A vida de Harry recebe uma reviravolta quando ele recebe um folheto nomeado de O Tratado do Lobo da Estepe e conhece Hermínia, que serão seus condutores para a desconstrução do misantropo e entediado Harry.
O descontentamento, como já li em livros como Memórias do Subsolo, Pergunte ao Pó e O estrangeiro, permeia todo o livro. Harry vive uma incapacidade de ficar satisfeito, em um incômodo de viver. Enquanto o Homem predomina, o Lobo se irrita, se inquieta, se enfurece. Quando o Lobo predomina acontece o mesmo com o Homem. Perdido entre dois mundos nosso herói busca a redenção através da morte, da destruição de si mesmo e sua dualidade. Busca uma liberdade.
“Quero mais. Não estou satisfeito em ser feliz, não fui criado para isso, não é este o meu destino. Meu destino é exatamente o contrário.”, pág. 83.
A chegada de Hermínia é o ponto de mudança em sua vida, onde mundos novos se abrem diante de si e onde ele começa a se desconstruir, se reinventar. Hermínia tem um poder enorme sobre ele e diz que vai fazer com que se apaixone por ela e mais, tem um pedido que lhe fará que não poderá negar, tem que jurar que não pode negar e é esse pedido que trará enfim redenção a ele.
O Lobo da Estepe é o segundo livro de Hermann Hesse que leio. Demian foi para mim uma das melhores leituras. Apesar de diferirem bastante, são um grito contra um estilo de vida. Sobre O Lobo da estepe, Hesse, na Nota do Autor, resume com propriedade a revelação dada através da jornada de Harry Haller:
“É claro que não posso nem pretendo dizer aos meus leitores como devem entender a minha história. Que cada um nele encontre aquilo que lhe possa ferir a corda íntima e o que lhe seja de alguma utilidade! Mas eu me sentiria contente se alguns desses leitores pudessem perceber que a história do Lobo da Estepe, embora retrate enfermidade e crise, não conduz à destruição e à morte, mas, ao contrário, à redenção.”