Gabriel Vinicius
Heterodoxos
Published in
3 min readAug 7, 2020

--

Heterodoxos? Quem são? O que fazem? Onde vivem? O que comem?

Bom, em resumo e se serve de consolo, somos iguais a todos, entretanto, não fazemos parte do clube de economia tradicional, que ascendeu, controlou e ainda domina grande parte do debate público há décadas.

Ainda com dúvidas? Então vamos conversar mais um pouquinho.

Quando falo em um clube de economia tradicional, me refiro à economia dita ortodoxa, considerada como sendo o mainstream econômicoque é em geral ensinado nas grandes universidades pelo mundo, angariando alto grau de investimentos para suas pesquisas — , que se utiliza do instrumental e da abordagem neoclássica em suas análises (microfundamentação, maximização de lucros e utilidade, equilíbrio geral, expectativas racionais e etc). Tudo o que não utiliza a mesma técnica é colocada em um saco que recebe a alcunha de economia heterodoxa (estruturalista, pós-keynesiana, marxista, austríaca e etc) e vale ressaltar que ser heterodoxo não significa rechaçar por completo o instrumental ortodoxo, escolas que criticam um ou mais dos sagrados pressupostos neoclássicos acabam caindo para os confins da heterodoxia.

O problema é que na maior parte dos grandes centros de estudos e nos principais periódicos internacionais, existe uma certa dificuldade em se publicar artigos e estudos que não recorram ao ferramental citado, e se ainda não bastasse, o próprio debate público foi solapado pelos modelos altamente matematizados, juntamente com o linguajar técnico, rebuscado, que afasta e melindra a população em geral, e se tem algo que não pode ser normalizado de jeito nenhum é a exclusão da sociedade de algo que a afete diretamente em seu dia a dia, fora também o desserviço feito ao se limitar o debate interno na disciplina, afetando drasticamente o seu desenvolvimento, principalmente aqui no Brasil, já que em qualquer área do conhecimento, a inclusão e o embate de novas ideias e perspectivas só geram um único resultado possível e desejável: a evolução.

Obviamente que a matemática é de extrema importância e desconfie de qualquer um que diga que economista heterodoxo não sabe fazer conta, a econometria e os modelos econômicos aparecem em nossas análises, só não são frutos da abordagem predominante, abordagem essa que quando necessário (e lhe convém) decide assimilar para si áreas estudadas pela heterodoxia, como foi feito no caso da economia comportamental. Muitos consideram os modelos matemáticos os verdadeiros vilões, e eles não são, eles são abstratos e não abarcam todas as variáveis da realidade, o problema é quando decisões da máquina pública, que afetam a vida de todos, passam a ser influenciadas por economistas que acham — seja por cegueira ou por interesses — que não há erros em seus modelos e que o problema estaria na realidade que não funciona do jeito que deveria, ou seja, como em seus modelos pretensamente racionais, perfeitos e equilibrados.

Somos economistas com amor ao método empírico, às ciências humanas e especificamente à necessidade de se olhar para a história como condição inevitável para se alcançar um futuro melhor para todos, pois quando falamos de economia estamos falando de uma ciência social, à serviço do bem-estar do povo e por isso tecemos as críticas necessárias e nos valemos de abordagens alternativas, extremamente necessárias nos dias de hoje quando a disciplina econômica no Brasil e no mundo clama por mudanças, por mais que infelizmente tal metamorfose não seja do interesse de certas pessoas, primordialmente as que costumam sempre ter um espaço garantido e privilegiado na grande mídia tradicional.

Por fim, nesse blog você vai encontrar textos dos mais variados possíveis, até textos considerados ortodoxos também, não temos preconceito com nenhuma visão econômica, todas abordagens possuem seus prós e contras, mas entendemos acima de tudo a importância de ouvir o diferente e de sacudir essa área do conhecimento tão rica, tão inovadora e tão apaixonante, que parece ter estacionado no espaço e no tempo.

Porque heterodoxos?

Está explicado, e dito isso, sejam todos bem-vindos.

--

--

Gabriel Vinicius
Heterodoxos

Graduando em Ciências Econômicas na Unicamp e aficionado em Ficção Científica