O Mar
As lágrimas que chorei formaram um rio,
um rio fino, descuidado.
Tinha uma ou duas gotas de alento,
a maioria era de mal amado.
Havia dias de sol
que o rio quase secou.
Eu pensava que bom que secasse,
que bom que evaporasse
toda aquela dor.
Mas depois haviam semanas de chuva.
E o rio crescia
e crescia
e quase me engolia.
Eu ia levando
seguindo aos prantos
mas caminhando.
Caminhei um dia,
dois dias,
um ano.
Dei um passo
dois passos
e vários quilômetros.
E ainda haviam dias de sol
semanas de chuva
meses de tempo bom
anos ruins…
Encontrei uma criança,
criatura ingênua,
que me disse assim
“Que belo rio que caminha,
que corre e dá vida,
um dia quero ter um rio assim!”
Ao que eu respondi
“Não seja tola,
criança boba.
É melhor desejar ser sempre feliz.”
Mas na ingenuidade insistente ela me sorri:
“Se não tivesse dores,
se não houvessem os rios,
todo o caminho com flores,
seriam apenas quadros.
E quadros vazios.”
Eu ia levando
seguindo aos prantos
mas caminhando.
Caminhei um dia,
dois dias,
um ano.
Dei um passo
dois passos
e vários quilômetros.
Um dia sentei,
a descansar.
Caminhei tanto
Já não sabia o quanto!
E ao erguer os olhos vi:
depois de uma faixa de areia
até onde a terra se cola ao ar,
eu via água e mais água…
Ouvi o chamarem de Mar.
E perguntei a uma velha senhora:
o que era o Mar?
E ela respondeu:
“Menina, o mar é onde todos os rios vêm parar”
Eu me achava triste por carregar um rio
Mais triste é quem carrega o Mar.
Eu perguntei a velha senhora,
se todos temos um rio,
uns profundos
outros rasos,
uns estreitos
e outros largos,
quem de nós pode carregar um mar?
E a senhora sorriu debochada,
quase caiu na risada,
“Menina, menina…
Nós não podemos carregar o Mar,
o Mar é o alento de todos
traz o vento e o remanso,
traz a chuva e a faz parar.”
“Então ele é o fim?”
A velha suspira:
“Menina, menina…
O Mar é só uma prova de amor
que não importa o tamanho da dor,
um dia ela há de parar.”