Uma breve carta aberta aos personagens de One day at a time

A primeira coisa que você precisa se atentar: sim, esse texto contém spoilers. Mas na minha concepção, nada que tire o brilho de você assistir pela primeira vez ou rever esta série (mas é por sua conta em risco).

A segunda, e é um detalhe curioso que você precisa saber sobre mim, eu odeio séries de comédia com risadas no fundo. Se você precisa ter uma risada no fundo, eu já desconfio da qualidade das piadas. E sim, One day at a time é esse tipo de série que carrega várias e intermináveis risadas ao fundo.

E, o último ponto, o momento que eu assisti a esta série: 2020, morando longe de casa pela primeira vez e no meio de uma crise de saúde global.

Photo by Marvin Meyer on Unsplash

O enredo de One day at a time me fez rir e chorar em todos os episódios da primeira à terceira temporada. Sem exceção. Foi uma das poucas séries que me apeguei aos personagens a ponto de ficar sem chão ao terminar os episódios.

O que quero dividir com vocês não é apenas uma lista do que aprendi com esse enredo. É uma carta aberta a cada personagem dessa série e o quê suas experiências contracenadas me relembraram e ensinaram sobre a vida:

1. Schneider:

Muito obrigada por me fazer entender que cada pessoa tem um passado. Mas que o mais importante é o que escolhemos fazer com o nosso presente.

A vida não é fácil por si só. E cada pessoa, por mais sortuda que parece a uma primeira vista, trava batalhas internas que não são visíveis aos olhos alheios.

Você me fez acreditar que as pessoas merecem uma segunda, terceira, e quantas chances precisarem enquanto houver um fundo de verdade nelas.

E você me ensinou que um bom amigo se apresenta das formas mais aleatórias na nossa vida. E não importa a crise que nossos amigos estão enfrentando — se é um coração partido, uma crise de ansiedade ou apenas o estresse do dia a dia… Um bom amigo dá seu ombro, seu coração e sua companhia.

Agradeço por você ilustrar que família não é sempre um laço biológico. E também deixo meu muito obrigada por todas as risadas que você me arrancou.

Porém, minha eterna e maior gratidão, vai ser por me fazer entender que eu não posso desistir antes do milagre acontecer. E acredite, eu vou continuar tentando.

2. Lydia:

Ah, sem dúvidas, a personificação do melhor do que se há em uma avó. Lydia, com você eu aprendi que não devemos abrir mão do que é nossa essência — e não importa o que nos digam a respeito dela. Temos que nos orgulhar do que somos.

Com você, Lydia, aprendi que há formas e formas de defender e de tentar fazer o melhor para a nossa família. E eu vi que você também aprendeu que, nem sempre, o que achamos o melhor, o é de fato. Mas te agradeço por me ensinar que por mais difícil e doloroso que seja para as nossas crenças ou expectativas, o melhor que podemos fazer é apoiar quem amamos.

Você me fez querer preparar cafés cubanos todos os dias, e ainda, ouvindo “Azucar Negra” no último volume. Você me fez querer aprender salsa e viver um amor como o seu e o Berto.

Falando em amor, você mostrou o quão difícil é aceitar a perda de quem amamos. E tudo bem, isto é humano. E na desesperança se seremos capazes ou não de amarmos de novo, você me ensinou que o justo é sermos sinceros com aqueles que nos oferecem amor.

E obrigada, Lydia, por começar e terminar a série como uma pessoa cheia de defeitos, preconceitos e ideias completamente erradas do mundo. Porque você me fez te amar ainda assim. E você tenta melhorar ao seu próprio jeito. Você é o mais real do ser humano mais imperfeito e adorável que eu conheço.

Te amei a ponto de querer ser sua neta.

3. Victor:

Primeiro, eu realmente quero reforçar que eu não gosto de você. Se houve alguém que dilacerou meu coração nessa série, foi você. Mais de uma vez.

Meu agradecimento por você é curto, duro… Porém sincero: você me relembrou que as pessoas tóxicas podem estar na nossa família. Você me abriu os olhos para entender que um laço sanguíneo não é tudo que nos prende. Precisa de muito, muito mais para ser família.

4. Elena:

Elena, você é a adolescente consciente que eu queria ter sido. Você é o ser humano que eu quero ser quando crescer. Te agradeço por relembrar que ninguém é bom em tudo — você pode ser ótima em sustentabilidade e péssima aprender a dirigir.

Você me lembrou que a inteligência é muito mais esforço do que um dom.

Mas meu verdadeiro agradecimento é por relembrar o melhor sobre amor em todas as relações: as românticas, as familiares e as fraternas.

Também, você aprendeu que nem tudo que gostamos de fazer vai nos servir como profissão. E, sinceramente, que bom.

Mas, de tudo o que eu aprendi com você, o mais importante foi a persistência em tentar ajudar o outro a ser melhor. Você nunca desistiu de derrubar os preconceitos de sua vó ou de explicar os conceitos e termos certos à sua família. Você não fica parada frente às injustiças. Garota, você é a essência do girl power.

5. Alex:

Você é a descrição do irmão irritante. Mas protetor. Foram poucos os episódios que eu realmente senti que gostei de você. Mas houve um, em especial, que faz você estar nesta lista: você me ensinou que, às vezes, a coisa mais corajosa que podemos fazer por alguém é pedir ajuda às pessoas certas. Especialmente quando a pessoa não sabe que precisa dessa ajuda.

6. Dr. Leslie:

Quando você apareceu no seriado e na minha vida, jamais imaginaria que eu te agradeceria por aprender algo com você. Mas a verdade é que você me ensinou uma lição muito bonita: não é porque alguém não nos ama da mesma forma que nós a amamos, que ela não nos ama da melhor forma que pode.

Agora, vai de nós mesmos entendermos se o amor ofertado é o suficiente para nos fazer feliz. E tudo bem se for. Você me relembrou que todas as relações devem ser baseadas nas ações, e não nos títulos que damos a elas.

Não, Leslie, você nunca será o Berto de alguém. Mas você ainda será uma das pessoas mais especiais por perto.

E teve algo em especial que aprendi com você em um episódio específico: às vezes, nossas palavras gentis e nossa admiração real pelas pessoas são o melhor presente que podemos dar a elas — e, em algumas situações, são o que elas mais precisam e nós não sabemos.

7. Penélope:

Você é, sem dúvidas, a minha personagem preferida. Você é uma mãe cheia de defeitos. Mas você esbanja tanto amor pelos seus, que mulher, é isso que te ilustrou como uma mãe (e mulher) real.

Você me ensinou a enfrentar os medos que carregamos por mais intensos que sejam. E mostrou que não existe um jeito fácil de fazer isso. Mas com coragem e um passo por vez, é possível.

Mulher, você mostrou que persistência é o combustível para irmos além, e ver você voltando a estudar me fez ver que sonhos devem ser tirados do papel, sempre.

Nas vezes que você pensou em largar tudo, você me fez ver que quando estamos cansados demais, precisamos descansar — não desistir. E eu te agradeço por respirar fundo e continuar todas as vezes.

Você me mostrou que precisamos apoiar a luta dos nossos amigos. Que precisamos ser o ombro amigo na mesma proporção que pedimos o ombro de alguém para chorar.

Com você, aprendi muitas coisas. Porém, acredito que o principal tenha sido que a vida não é fácil, nem sempre é justa, mas tudo bem — ela vale a pena e é linda do mesmo jeito.

E a gente pode tornar a vida melhor, um dia por vez.