A troca por Blake Griffin pode ser uma armadilha em direção à super-mediocridade

Vagner Vargas
HIGH FIVE
Published in
11 min readJan 30, 2018

Por Zach Lowe
Traduzido por
Samir Mello e Vagner Vargas
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Blake Griffin é um jogador altamente habilidoso em seu auge. Quando você leu que o Los Angeles Clippers o trocou por uma escolha de primeira rodada, levemente protegida, e um jovem ala-pivô que a franquia talvez tenha interesse em renovar o contrato em julho de 2019, a sua reação foi provavelmente: só isso? Eles só conseguiram isso por Blake Griffin?

E se os Clippers não renovarem com Avery Bradley nesta offseason, ou com Tobias Harris daqui a duas temporadas, então eles trocaram Griffin — o melhor jogador da (em sua maior parte patética) história da franquia crescido em casa — por uma escolha de primeira e uma de segunda rodada.

No entanto, no presente momento, esse provavelmente foi o melhor negócio que os Clippers poderiam ter conseguido por Griffin. Ele está no primeiro ano de um monstruoso contrato de cinco anos, o qual o pagará aproximadamente US$ 35 milhões por temporada — e quase US$ 39 milhões em 2020–21. Ele tem um preocupante histórico de lesões. O Detroit Pistons poderia acabar pagando Griffin e Andre Drummond quase US$ 70 milhões combinados, em dois anos. Considerando que eles têm, literalmente, nenhum talento para desenvolver a longo prazo ao redor dos dois, e menos opções de trocas depois do último negócio feito, a situação não parece muito positiva.

Os Clippers vislumbraram a sua própria versão desse duro cenário, e resolveram escapar — iniciando um processo de reconstrução que pode produzir resultados diversos.

Os Pistons conseguiram o melhor jogador nesta troca. Durante toda a sua carreira na NBA, Griffin atuou com um pivô ao estilo de Drummond, embora Drummond seja um melhor passador (e pior defensor) que DeAndre Jordan. Eles podem encaixar. Porém, Detroit arriscou pagar uma tonelada de dinheiro para imitar o trio Chris Paul — Griffin — Jordan, com Reggie Jackson no lugar de Chris Paul. Ops. Detroit conseguirá mais do que isso — nós chegaremos lá — mas é quase impossível ver qualquer rota que resulte em algo além de uma “super-mediocridade”, chegando a algo em torno de 50 vitórias.

E é importante lembrar: talvez a super-mediocridade, com múltiplas aparições em playoffs, no meio da Conferência Leste, seja ok para os Pistons. Eles, obviamente, consideraram esse resultado. Eles estão com dificuldades de lotar uma nova arena, e em risco de ficar de fora dos playoffs pelo segundo ano consecutivo. Ser uma versão dos Hawks da era Joe Johnson pode ser um ótimo resultado para eles.

Para os Clippers, é tentador comparar esse negócio com as trocas envolvendo Paul George e Jimmy Buttler na última off-season. Os Bulls conseguiram mais por Butler, e isso estava claro na época, antes de Kris Dunn se desenvolver e Lauri Markkanen começar a doutrinar em quadra. Os Pacers provavelmente conseguiram mais por George, em um contrato expirante, embora ninguém — nem mesmo os Pacers — soubesse na época. Butler e George são ligeiramente mais jovens que Griffin, que fará 29 anos em março. Então os Clippers venderam Griffin barato, certo?

Não necessariamente. O contrato dele está fechado. Muitas das lesões de Griffin aconteceram por acaso, mas lesões por acaso vão somando conforme o jogador vai ficando mais velho. Problemas recorrentes com o joelho precederam alguns desses acidentes. O atletismo de Griffin já decaiu um pouco.

Griffin é um ala-pivô que não protege o garrafão, e só desenvolveu um arremesso de 3 nesta temporada. Sem esse arremesso do perímetro, ele é uma antiguidade na NBA moderna — uma casualidade da matemática. George e Butler são alas que atuam em diferentes posições e conseguem arremessar, passar e defender em alto nível. Eles são a NBA moderna. A troca por Griffin lembra menos esses negócios, e mais do Hawks despejando o monstruoso contrato de Joe Johnson nos Nets, recebendo, em retorno, escolhas de draft (e um bando de jogadores com os quais os Hawks não se importavam).

Isso não é justo com Griffin. Ele é melhor agora do que Johnson era na época, e quase três anos mais jovem. Porém, o risco que Detroit corre é semelhante do que aconteceu com Johnson no Brooklyn.

Não havia muita demanda por Griffin, de acordo com fontes ao redor da liga. Alguns bons times com grandes sonhos estavam desanimados pelo seu contrato. A maioria dos bons times já são caros demais para absorver o negócio sem enviar alguns de seus melhores jogadores.

Cerca de meia-dúzia ou mais times estão tão fora de qualquer briga por playoffs que enviar suas melhores escolhas de draft ou jovens jogadores por um cara de quase 29 anos não faria qualquer sentido. Os Lakers, talvez, seriam um possível exceção, apenas porque eles têm ambições claras e imediatas em relação a agentes livres. Todos sabemos que eles precisam de espaço na folha salarial para assinar com dois agentes livres de contrato max, e Griffin, obviamente, atrapalharia esse plano. Porém, outro caminho seria: consiga uma estrela agora, e use-a como isca para a segunda.

Os Lakers tem Brook Lopez e seus US$ 22 milhões de contrato expirante para ajudar a equiparar os salários. Porém, eles parecem não ter se interessado seriamente por Griffin, de acordo com fontes na liga. Talvez não fosse um negócio viável; os Lakers já trocaram sua escolha de primeira rodada de 2018.

O contrato máximo para veteranos, que vale 35% do salary cap, é uma das peças mais complicadas de se mover — e um dos tipos de contrato com mais potencial de estrago na liga. É um comprometimento máximo que acompanha os jogadores até que eles já não estejam mais em seus auges. Os Bulls e os Kings trocaram, respectivamente, Butler e DeMarcus Cousins para evitar lidar com isso. Nós todos celebramos quando Wizards assinou com John Wall um contrato que vai até 2019–20. O que nós vamos pensar quando Wall estiver ganhando US$ 44 milhões em 2012–22 — e ele tiver 32 anos?

Foi preciso uma franquia como Detroit: intermediária, desesperada por vitórias, relevância e contente em ser um time de playoff bom, desde que Griffin e Drummond permaneçam juntos.

Os Clippers poderiam ter conseguido mais por Griffin em alguns momentos da última temporada, porém, os times raramente conseguem controlar o timing de trocas envolvendo estrelas. O valor de Griffin para trocas, provavelmente, esteve no auge na temporada 2015–16, quando ele só estava sob contrato por mais uma temporada e meia. Os Clippers venceram diversos jogos naquela temporada sem ele — como eles frequentemente fizeram, desde que Paul e Jordan estivessem saudáveis — , e haviam pensado em trocá-lo.

Ele passou a maior parte daquela temporada, incluindo os meses anteriores e posteriores à data-limite para trocas, lesionado, após ter socado um funcionário da equipe. Antes daquela temporada, os Clippers eram fortes demais para considerar trocá-lo. Após, ele se transformou em um contrato expirante, diminuindo seu valor para trocas. Agora, ele está com um mega contrato. Os Clippers decidiram não assumir o risco de um possível declínio ou outra lesão que esvazie ainda mais seu valor.

Uma palavra sobre lealdade: Os Clippers se esforçaram para chamar Griffin de um “Clipper por toda a vida”. Conforme eu revelei aqui no início da temporada, os Clippers tentaram convencer Griffin a renovar com a equipe construindo um museu de mentira para o atleta e aposentando seu número — literalmente levantando uma bandeira até o teto da arena, enquanto música tocava em um Staples Center vazio — em uma “cerimônia falsa”. (Eles obviamente retiraram a faixa e a guardaram em algum lugar.)

Cinco meses depois, ele sai da equipe sem poder dizer nada. Times e jogadores falam coisas o tempo inteiro apenas por falar, por que eles precisam dizer a coisa certa no momento certo. Porém, os Clipper exageraram com a história do “pra sempre”. (Eles falaram a mesma coisa sobre DeAndre Jordan, por sinal. Fiquem atentos). Eles poderiam apenas ter dito, “nós amamos Blake e estamos felizes por ele estar de volta”. Eles não precisavam armar um grande show sobre Griffin ser um Clipper para sempre. Isso custará a eles um pouco de credibilidade a curto, curtíssimo prazo, mas essas manchas dificilmente são eternas. Todo mundo sabe que isso é um negócio. Mas as declarações que envolviam ser “para sempre” pareciam exageradas na época, e soam absurdas hoje em dia.

Apesar disso tudo, esse é um bom negócio para os Clippers. A pick de Detroit é protegida se cair nas quatro primeiras escolhas. Eu ainda aposto que os Pistons não irão aos playoffs nesta temporada — eles estão quatro jogos fora, uma grande margem na marca de 50 jogos — então, os Clippers têm uma boa chance de conseguir uma escolha na loteria.

O problema é que eles estão muito atrás no processo de uma reconstrução total, tendo entregado escolhas de primeira rodada em negócios ridículos envolvendo Jeff Green (vindo) e Jared Dudley (saindo). Eles conseguiram uma de Houston no negócio por Chris Paul, mas, instantaneamente, a encaminharam para os Hawks, para que eles pudessem se livrar do contrato de Jamal Crawford — e assinar com Danilo Gallinari. Esse negócio faz cada vez menos sentido.

Por sinal, não sei se essa troca faz com que seja mais provável que Jordan e Lou Williams sejam negociados. Os Clippers estão feliz de se livrar do contrato de Griffin e conseguir uma boa escolha no draft em retorno. Eles ainda vão ouvir e fazer propostas envolvendo Jordan e Williams e esperar que algo bom surja. Mas a urgência que existia em negociá-los 48 horas atrás não existe mais.

Os Clippers também podem trocar Bradley por outra escolha, contanto que eles não tenham que absorver mais salários. Se eles renovarem com Jordan e deixarem Bradley e Harris saírem, eles poderiam correr atrás de grandes estrelas em 2019 e 2020. Se não renovarem com nenhum deles, poderiam entrar na disputa por duas estrelas. Os Clippers, sob o comando de Steve Ballmer, estão confiantes de que eles poderão ser um destino cobiçado pelos jogadores. Times ruins raramente são o alvo dos jogadores. Os Lakers estão em uma sequência de quatro temporadas com campanhas negativas.

Harris pode ajudar com isso. Ele ainda tem 25 anos e melhora a cada temporada. Os Clippers não terão espaço para investir em 2019 se Jordan, Gallinari e Harris ainda estiverem sob contrato — muito menos se Bradley também estiver. Mas sempre há uma maneira ou outra de se movimentar se os Clippers realmente surgirem como opção para os jogadores sem contrato. (Os Clippers certamente esperam atrair/implorar para que LeBron assine com eles no verão, mesmo que ainda não tenham — pelo menos agora — a possibilidade de abrir espaço dentro do teto salarial para isso.)

Os Pistons não serão um destino atrativo sob nenhuma circunstância. Por isso eles fizeram essa troca, e praticamente todas as trocas sob o regime de Stan Van Gundy. Bradley estava com um pé para fora da franquia desde que as chances de playoffs começaram a desaparecer. Eles estavam encarando a possibilidade de pagar um grande contrato para Harris depois da próxima temporada. Eles poderiam ter deixado os dois irem embora ao fim dos contratos e abrir espaço salarial, mas esse espaço tem menos valor para os Pistons do que tem para pelo menos outras 20 de 30 equipes da NBA.

Olhando por esse lado, Detroit trocou uma escolha de primeiro round e algum alivio salarial que não adiantariam de nada. Eles estão desesperados por um armador com Jackson fora, e eles conseguiram um dos melhores jogadores de garrafão passadores de todos os tempos. Drummond está distribuindo cerca de 4 assistências por 36 minutos — um número monstruoso para um pivô. Eles vão poder trabalhar o jogo de pivô para pivô na meia quadra. Griffin vai receber a bola em movimento na linha do lance livre, enxergar o marcador de Drummond chegando perto para ajudar e fazer o passe para o companheiro — a mesma coisa que ele virou um mestre em fazer jogando com Jordan, chegando ao ponto de que ele quase literalmente podia executar a jogada de olhos fechados.

Griffin vai carregar a bola para o ataque depois de pegar o rebote, acrescentando imprevisibilidade ao time. Detroit vai executar pick and rolls entre Griffin e Drummond. Eles vão colocar Griffin na posição 5 para não ter que colocar Eric Moreland em quadra. Uma dupla Griffin-Jon Leuer pode ser interessante uma vez que Leuer se recupere.

Drummond e Griffin são ótimos jogadores. Provavelmente não o bastante para justificar o investimento de cerca de US$ 60, 70 milhões. Drummond é uma estrela no Leste. Griffin não seria uma no Oeste este ano mesmo se tivesse tido uma temporada sem lesões. Construir uma defesa top 10 ao redor dos dois será um desafio.

O talento ao redor dos dois não inspira muita confiança. Os Pistons estão começando o próprio projeto do começo. Eles selecionaram Stanley Johnson e Luke Kennard no draft em vez de Devin Booker e Donovan Mitchell. E isso não é um exercício de hipóteses. Eles discutiram entre escolher Booker ou Johnson quase até a hora de tomar a decisão, segundo fontes.

Eles têm US$ 28 milhões combinados em 2018–19 investidos em Leuer, Langston Galloway, Ish Smith e Josh Smith. (Sim, aquele Josh Smith. Ele não joga pelos Pistons desde dezembro de 2014, mas ele ainda o pagam US$ 5,3 milhões por temporada até 2019–2020.)

Jackson parecia perto do auge fisicamente nesta temporada até sofrer uma lesão no tornozelo. Mas mesmo no auge ele ainda é um armador regular na NBA. Jogando em 85% de seu potencial, ele é um pouco pior do que isso. O time provavelmente não terá uma escolha no draft deste ano.

Johnson tem potencial e Kennard já converte 43% de seus arremessos de 3 pontos. Reggie Bullock é um reserva útil, embora não tenha conseguido uma vaga de titular enquanto Bradley estava machucado.

Todos esses caras vão melhorar, como ocorre com jovens jogadores. Detroit precisa que um deles fique realmente bom, por que não está claro como eles vão conseguir chegar perto de construir um bom time no perímetro ao redor de Griffin e Drummond. Você consegue chegar somente até um determinado ponto executando seu ataque pelos seus pivôs passadores.

A evolução de Griffin chutando de 3 pontos certamente teve a ver com o investimento dos Pistons nele para jogar ao lado de Drummond. Griffin merece bastante crédito por converter 34% das bolas de 3 chutando quase 6 por partida — de longe um recorde em sua carreira. Se ele se mantiver saudável, ele vai ter arremessado mais bolas de 3 nesta temporada do que em todas as outras combinadas.

Alguns defensores até correm para cima dele nestas situações agora, o que permite que ele use seu arsenal de fingir o arremesso e infiltrar, que é letal.

Mas essa evolução ainda parece quase mecânica, como se fosse contra o que Griffin é e deveria ser. Ele precisa de tempo e espaço para arremessar. Os marcadores ainda o deixam solto no perímetro para intensificar a marcação perto da cesta, e ainda assim às vezes têm tempo de voltar para contestar seu arremesso. E os 34% citados, uma marca levemente encorajadora para ele, ainda está abaixo da média da liga. Van Gundy não vai poder espalhar seus jogadores e apostar no pick and roll, os Pistons não vão espaçar a quadra o suficiente para isso.

Griffin fez todas essas mudanças para adequar seu jogo a Jordan. É como se ele fosse um quadrado tentando se encaixar em um círculo, mas ele fez tanto esforço para entrar que acabou ficando preso na metade do caminho.

Agora ele vai ter que tentar novamente. Ele é bom o suficiente para isso, uma legítima estrela da NBA. Mas isso também pode acabar prendendo as duas equipes na mediocridade por um longo período.

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