Como os Lakers desperdiçaram o primeiro ano de LeBron

Samir Mello
HIGH FIVE
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19 min readApr 2, 2019

Por Dave McMenamin
Traduzido por
Samir Mello
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O Los Angeles Lakers irá ficar de fora dos playoffs pela sexta temporada consecutiva. O campeonato de LeBron James terminará em abril pela primeira vez desde 2004–05, seu segundo ano na NBA, quebrando sequências pessoais de 13 aparições consecutivas na pré-temporada e oito nas Finais da NBA.

Raramente, um único momento é capaz de estragar toda a temporada de uma equipe. Para os Lakers de 2018–19, vários são os responsáveis pelo fracasso. Desde lesões, até expectativas frustradas em relação à produção de certos jogadores, passando por decisões administrativas questionáveis, a temporada mais aguardada de Los Angeles em anos se transformou em um exemplo do que não fazer que poderá ser usado pela liga por décadas. Foi assim que os Lakers chegaram até aqui.

No verão de 2017, muito antes de LeBron vestir o uniforme roxo e dourado, e antes de Lance Stephenson ser a estrela do “Air Band Cam”, no Jumbotron do Staples Center, Paul George foi trocado do Indiana Pacers para o Oklahoma City Thunder.

George, um nativo do sul da Califórnia, que há muito havia expressado seu desejo de jogar mais perto de sua casa em Palmdale, era visto como um jogador de aluguel com um contrato expirante. Ele apenas faria um pit stop com o Thunder antes de se juntar à linhagem de ótimos jogadores do Lakers. Pelo menos é o que muitos ao redor da liga assumiram que aconteceria.

Quando ele se desviou desse percurso e renovou com OKC no verão de 2018, fontes disseram à ESPN que foi uma consequência mais do que OKC fez certo do que o que o Lakers fez de errado. O Thunder fez a troca por ele, afinal, correndo um risco, sem promessas de um compromisso a longo prazo. E depois eles trabalharam para fazê-lo se sentir em casa, promovendo uma parceria com Russell Westbrook.

George nunca deu ao Lakers uma oportunidade de fazer uma oferta. Mas ele tinha bastante informação disponível sobre a administração da franquia mesmo sem ter ouvido uma palavra de Magic Johnson. Por exemplo, George jogou em Oklahoma City com Corey Brewer na segunda metade da temporada 2017–18, depois que Brewer foi dispensado por L.A. em fevereiro. Brewer compartilhou com George sua experiência com os Lakers, de acordo com fontes.

E o agente de George, Aaron Mintz, da CAA, conhecia intimamente a organização. Antes de Rich Paul, da Klutch Sports, ganhar atenção representando dois clientes no Lakers — LeBron e Kentavious Caldwell-Pope — Mintz representava ⅖ do quinteto titular, com D’Angelo Russell e Julius Randle (Mintz e Paul não são os únicos com grande influência na equipe; Jeff Schwartz, da Excel Sports Management, atualmente gerencia as carreiras de Brandon Ingram e Tyson Chandler; e Joe Branch, da Roc Nation Sports, representa Moe Wagner e Josh Hart).

Russell, selecionado com a segunda escolha de 2015, e Randle, com a sétima de 2014, foram recrutados pela administração anterior, formada pelo gerente-geral Mitch Kupchak e o vice-presidente Jim Buss.

Quando Johnson e Rob Pelinka assumiram em fevereiro de 2017, a visão deles era simples: desenvolver o talento jovem que eles já tinham, mas também limpar espaço na folha salarial para perseguir agentes livres como James, que poderiam acelerar o processo da franquia para voltar à relevância, eles acreditavam.

A primeira tarefa: se livrar de Timofey Mozgov e seu contrato de quatro anos e US$ 64 milhões, assinado sete meses antes por Kupchak e Buss, em seu último período para assinar agentes livres no comando da equipe. Johnson e Pelinka encontraram um comprador em Brooklyn, enviando Russell e Mozgov para o Leste em troca de Brook Lopez e a 27ª escolha do draft de 2017.

Desistir de Russell — um armador pace-and-space feito para a NBA moderna — com apenas duas temporadas era um risco, mas L.A. conseguiu de volta um all-star e uma pick que se tornou Kyle Kuzma. Além disso, L.A. se livrou do monstruoso contrato de Mozgov.

Em vez de ficar satisfeito com isso, Johnson não resistiu e provocou Russell durante sua saída da equipe.

“Ele tem talento para ser um All-Star. Nós queremos agradecer tudo o que ele fez por nós. Mas eu precisava de um líder”, Johnson disse dias após a troca em junho de 2017. “Eu precisava de alguém que melhorasse os outros jogadores e de alguém com quem os outros gostariam de jogar”.

Na próxima temporada, Randle — o outro cliente de Mintz com os Lakers — viu seu papel mudar, de titular para o banco, jogando muitos minutos para algo mais limitado.

Foi apenas depois que a pressão da mídia e dos fãs aumentou que o papel de Randle se estabilizou.

Pelo menos essa foi a percepção, despertando questões sobre a força da organização, já que ela poderia sucumbir devido à opinião pública.

Quatro meses depois, quando o interesse dos Lakers em James para ocupar a mesma posição de Randle se tornou público, o atleta de Kentucky novamente foi tratado como alguém secundário.

Mesmo que os Lakers tivessem controle dos direitos de Randle como um agente livre restrito, L.A. nunca fez uma oferta para ele, fontes disseram à ESPN. Isso apesar da preferência de Luke Walton e sua equipe técnica de manter Randle, como noticiado pelo The Athletic e confirmado pela ESPN.

Mintz eventualmente pediu para os Lakers renunciarem aos direitos de Randle e enviassem seu cliente para os Pelicans, onde ele assinou um contrato de dois anos, US$ 18 milhões, com uma player option no segundo ano. Randle foi conquistado, fontes dizem, pelo fato de que os Pelicans realmente o queriam — sensação que ele não teve dos Lakers.

L.A. assinou Ranjon Rondo por um ano, US$ 9 milhões, dinheiro que, teoricamente, poderia ser oferecido a Randle. Isso após os Lakers terem concordado em pagar US$ 12 milhões a Caldwell-Pope por um ano. Qualquer oferta para Randle abaixo do que Caldwell-Pope recebeu seria indefensável, considerando que Randle foi mais produtivo na temporada anterior. Especialmente com Randle jogando em todos os 82 jogos e Caldwell-Pope disponível por apenas 74 devido a questões legais.

Então, foi com esse contexto que Paul George, que usava a camisa 24 quando ele chegou à NBA por causa do ídolo Kobe Bryant, nem concedeu ao Lakers uma reunião.

Ele não desperdiçou o tempo de ninguém, organizando uma festa com Westbrook em Oklahoma City, celebrando seu novo contrato no mesmo minuto que o período para assinar agentes livres abriu no sábado a noite. As consequências da decisão de George forçaram LA a conservar sua flexibilidade na folha de pagamento, na esperança de contratar outra estrela no verão de 2019 — o que ultimamente levou ao desperdício do primeiro ano de LeBron com os Lakers.

  • 30 de junho de 2018: Los Angeles dispensa o pivô Thomas Bryant, uma aquisição da noite do draft de 2017, vinda do Utah Jazz junto com Hart, porque os Lakers não querem garantir seu salário de US$ 1.4 milhões.
  • 1 de julho de 2018: James fecha contrato de quatro anos, US$ 153.3 milhões com os Lakers.
  • 2 de julho de 2018: James embarca em uma viagem de iate para Positano, Itália, iniciando uma off-season átipica para ele, com menos basquete, não participando também dos treinos para a seleção americana.
  • 6 de julho de 2018: Caldwell-Pope renova com os Lakers por um ano, US$ 12 milhões, e Rondo assina por um ano, US$ 9 milhões, para vir para L.A.
  • 8 de julho de 2018: Lopez deixa os Lakers e assina por um ano, US$ 3.3. milhões com o Milwaukee Bucks. Ele depois conta no Lowe Post Podcast que ficou “um pouco surpreso” de os Lakers não terem se esforçado mais para mantê-lo porque ele “queria jogar lá”.
  • 10 de julho de 2018: Stephenson fecha contrato de 1 ano, US$ 4.4. milhões com os Lakers e JaVale McGee assina por um ano, US$ 2.4 milhões.
  • 17 de julho de 2018: Lonzo Ball passa por uma cirurgia de artroscopia no joelho esquerdo.
  • 23 de julho de 2018: Michael Beasley fecha contrato de um ano, US$ 3.5 milhões com os Lakers.
  • 5 de agosto de 2018: Las Vegas prevê 48.5 vitórias para os Lakers, antecipando uma vaga para os playoffs.
  • 20 de setembro de 2018: Magic e Pelinka fazem uma coletiva de imprensa quatro dias antes do media day dos Lakers: “Eu estava falando com Luke, e nós dissemos para ele não se preocupar se começarmos mal”, Johnson revelou.

Na abertura da temporada, fora de casa contra o Portland Trail Blazers, parecia que os Lakers não conseguiam acertar um arremesso.

Eles finalizaram 7 de 30 para três (23.3%), e Nik Stauskas, dos Blazers, quase teve um desempenho semelhante sozinho (ele acertou 5 das 13 cestas de Portland para 3). Os Blazers venceram por 128 x 119.

O primeiro jogo em casa, duas noites depois, foi pior. Os Lakers perdiam para o Houston Rockets no começo do último quarto quando, na metade do período, James Harden colidiu com Ingram em um contra-ataque. Ingram empurrou Harden após o apito, e levou uma falta técnica.

Os ânimos se acirraram. Rondo cuspiu no rosto de Chris Paul. Paul encostou no rosto de Rondo. Os dois armadores trocaram socos, e Ingram voltou para a briga, dando socos que não acertaram.

Um jogo apertado virou uma derrota de 124 x 115, com os Lakers anotando 1 de 9 para três no último quarto e 8 de 32 no total (25 %). L.A. estava 0–2. Ingram foi suspenso por quatro jogos pela confusão. Rondo foi suspenso por três.

Com apenas dois jogos, os problema mais flagrantes que o time enfrentaria durante toda a temporada já haviam emergido: dificuldade de arremessar para três e de manter todos os seus jogadores disponíveis.

O fato de Ball ainda estar se recuperando de uma cirurgia feita na off-season e James entrando em forma apenas tornou o trabalho mais difícil. E sem Lopez ou Bryant no elenco e tentativas mal-sucedidas de colocar Kuzma ou Beasley como pivôs, a única saída foi colocar Johnathan Williams, um calouro não recrutado, para ser o reserva de McGee.

Nos sete primeiros jogos, os Lakers tentaram 93 escalações diferentes — segunda maior marca da liga — e Walton teve dificuldades para encontrar algo que funcionasse.

Após um início 2–5, Johnson chamou Walton para uma reunião, expressando seu descontentamento e exigindo melhores resultados do seu treinador.

O papo de Johnson na pré-temporada sobre paciência foi só isso: papo. As ordens mudaram antes que L.A. tivesse jogado 1/10 da temporada.

  • 29 de outubro de 2018: Os Lakers perdem de 124 x 120 para o Minnesota Timberwolves, que estão 2–4 — dias após os Wolves terem perdido por 30 pontos contra Milwaukee — com 32 pontos de Jimmy Butler. James, após Walton ter alterado seu padrão de substituições no primeiro quarto, parece confuso.
  • 5 de novembro de 2018: o esporro de Magic em Walton se torna público.
  • 6 de novembro de 2018: Chandler assina com os Lakers após ter sido dispensado pelo Phoenix Suns, um time comandado pelo gerente-geral James Jones, companheiro de longa data de LeBron. Chandler assume as obrigações de pivô reserva, mandando Williams de volta para a G League.
  • 14 de novembro de 2018: Rondo fratura sua mão direita tentando amortecer uma queda durante uma vitória de 126 x 117 em cima dos Blazers. Ele perde os próximos 17 jogos.
  • 5 de dezembro de 2018: Ingram torce o tornozelo em uma vitória de 121 x 113 em cima do San Antonio Spurs. Ele perde sete jogos.
  • 15 de dezembro de 2018: Stephenson recebe uma falta técnica por tocar air guitar contra o Charlotte Hornets. Os Lakers vencem por 128 x 100.
  • 16 de dezembro de 2018: McGee perde o primeiro de sete jogos consecutivos devido a uma pneumonia.

Em 18 de dezembro, três dias antes de os Lakers receberem os Pelicans pela primeira vez na temporada, James foi perguntado pela ESPN sobre como seria jogar com Anthony Davis.

“Seria incrível”, James disse. “Claro que seria incrível”.

Embora a temporada estivesse estável — os Lakers registraram um recorde de 18–9 nos últimos 27 jogos antes da partida contra Brooklyn — a conversa foi um lembrete do peixe grande que LA queria pescar.

Uma fonte próxima da reunião de três horas que James teve em sua casa com Johnson, na véspera de sua decisão de vir para os Lakers, disse à ESPN que o nome de Davis nunca foi citado quando os dois se encontraram para discutir planos futuros. Porém, quando os Lakers assinaram com Rondo, Stephenson, Beasley em contratos de um ano após George ter ficado com o Thunder, a mensagem era clara: L.A. estava determinado em juntar James a um agente livre de respeito no verão de 2019 — com a possibilidade de melhorar o elenco por meio de uma troca até mesmo antes disso.

De acordo com fontes, os Lakers foram umas das várias franquias a sondar Butler antes de o jogador ser trocado para Philadelphia, por exemplo.

Uma fonte dentro do time disse à ESPN que eles não sentiam que James estava 100% envolvido com os jovens do time antes da trade deadline.

Claro, a diferença de idade entre James (34), e jogadores em seus 20 e poucos anos pode ter contribuído com qualquer aparente distanciamento. Em outubro, James disse que seus filhos de 14 e 11 anos introduziram ele a muita coisa da cultura pop que seus companheiros assistiam e ouviam.

Em Miami, James atuou com dois All-Stars, Dwyane Wade e Chris Bosh. Em sua segunda passagem por Cleveland, ele atuou com dois All-Stars amadurecendo, Kyrie Irving e Kevin Love. Os companheiros de James em L.A., embora ricos em potencial, não tinham o mesmo perfil. Davis tinha.

A discussão de James sobre Davis foi julgada como aliciamento por alguns gerentes-gerais, citando uma conexão em comum com o mesmo agente, Rich Paul.

Com Davis sob contrato até 2020, a única forma que LeBron experimentaria a “incrível” experiência de jogar ao lado dele — sem ter de esperar terminar suas duas primeiras temporadas como um Laker — seria L.A. trocar suas peças para trazer O Monocelha para South Bay.

O apoio de James causaria turbulência no vestiário dos Lakers.

“Os únicos jogadores cujo desempenho não foram afetados pelos boatos de negociações foram James e Rajon Rondo”, uma fonte dentro do time disse para a ESPN.

Qualquer jogador com aspirações de jogar basquete profissional e ter uma carreira na ensolarada Los Angeles poderia apenas esperar por circunstâncias fora de seu controle.

  • 25 de dezembro de 2018: James sofre uma lesão na virilha contra o Golden State Warriors. James perde 17 jogos nas próximas cinco semanas. É a maior lesão de sua carreira de 16 anos. Os Lakers vencem por 127 x 101.
  • 28 de dezembro de 2018: James chega ao Staples Center com um copo de vinho tinto antes da derrota de 118 x 107 para os Clippers. Los Angeles registra 3 vitórias e 7 derrotas em seus 10 primeiros jogos sem James.
  • 19 de janeiro de 2019: Ball, usando tênis da Big Baller Brand, torce severamente o tornozelo após colidir com James Ennis III, dos Rockets, no terceiro período da partida, tendo que ser carregado para fora da quadra por seus companheiros. Os Lakers conseguem estragar uma liderança de 21 pontos e perder por 138 x 134 na prorrogação.
  • 22 de janeiro de 2019: No Lowe Post podcast, a dona dos Lakers Jeanie Buss apela para sua diretoria resistir à tentação de fazer mudanças drásticas na trade deadline apenas para satisfazer o desejo da organização de voltar aos playoffs.
  • “Eu acho que Magic tem sido paciente, eu acho que Rob Pelinka tem feito coisas incríveis em termos de dar flexibilidade ao nosso elenco e não pegar atalhos apenas para se classificar para os playoffs e perder na primeira rodada”, Buss afirma. “Eles veem a situação e estão tomando providências. Você tem que ser paciente porque as coisas não mudam do dia para a noite. Eu acho que é incrível, estarmos onde estamos, em apenas dois anos. Eu acho que nós superamos as expectativas em dar uma nova cara a esse projeto e eles não vão tomar atalhos e prejudicar nossos talentos por uma solução rápida”.
  • 28 de janeiro de 2019: Davis exige ser trocado pelo Pelicans publicamente. Como diversos times ao redor da liga, os Lakers preparam um pacote para oferecer.
  • 2 de fevereiro de 2019: Walton chama a atenção de diversos jogadores por abordagens egoístas após uma derrota de 115 x 101 para os Warriors.
  • 5 de fevereiro de 2019: em meio a uma vergonhosa derrota por 42 pontos para os Pacers, uma das imagens inesquecíveis da temporada surge: James sentado em uma ponta do banco, sozinho, com diversos assentos vazios entre ele e o próximo companheiro. James tipicamente senta no fim do banco, mas com fãs em Indiana gritando “LeBron vai trocar você!” para os companheiros, a percepção é temerosa.

Sem dúvidas, o tempo de Luke Walton como assistente técnico dos Warriors foi um sucesso total — ele venceu o título em 2015 e guiou o time para um recorde de 39–4 como técnico interino na temporada seguinte.

E mesmo que ele não tenha conseguido levar um dos Splash Bros. com ele para Los Angeles, Walton poderia tentar replicar pequenos elementos da invejável cultura de Golden State.

Sua primeira tentativa? Recriar o quadro competitivo de Steve Kerr, usado nos treinos para registrar vitórias individuais.

“Poderia ser qualquer coisa”, o assistente técnico dos Lakers, Clay Moser — o homem responsável por fazer os registros no quadro — explica. “Poderia ser um rachão. Poderia ser uma competição de arremessos. Pode ser um cara acertando a resposta de uma pergunta. Tipo, nós perguntamos para ele, ‘Ei, qual é a fraqueza de jogador X?’, e se ele respondesse corretamente, nós daríamos uma vitória para ele”.

Serviu como uma forma de igualar o elenco. Mesmo um jogador tão condecorado como LeBron, com aparições em All-Star games, MVPs e títulos não conseguiria pontos extras em um treino. E vice-versa. Mesmo que um jogador ainda não tivesse feito nada substancial na liga, ele poderia se destacar nos treinos. Para citar Rasheed Wallace, ‘o quadro não mente’.

“Quando nós passamos pelo quadro e vemos como está a pontuação e quem está vencendo, serve como motivação para o próximo jogo”, Caldwell-Pope afirma. “Tipo, ‘Eu vou tentar conseguir tantas roubadas de bola’. Não importa o que acontecer”.

Para o pivô segundanista Ivica Zubac, que recebeu 20 DNPs (não jogou por opção do treinador) em seus primeiros 27 jogos nesta temporada, o quadro se tornou sua salvação.

“Significa muito”, Zubac disse em dezembro. “As pessoas não me veem porque eu não estou na rotação. Então eu sei que estou fazendo um bom trabalho quando eu me vejo no segundo lugar no quadro. Eu sei que estou fazendo algo certo e significa muito para a minha confiança”.

Quando Zubac finalmente conseguiu minutos significativos, ele teve médias de 17.7 pontos e 8.7 rebotes, incluindo uma performance de 18 pontos e 11 rebotes no Natal.

Zubac — recrutado como um pivô cru de 2,15m e 108kg no segundo round de 2016 — se transformou em um prospecto viável sob a tutela de Walton.

E então, na trade deadline, o prospecto se foi. Os Lakers enviaram Zubac e Beasley para os Clippers por Mike Muscala, primariamente com o objetivo de liberar uma vaga no elenco para uma possível caminhada pensando nos playoffs.

Os Lakers tinham planos de contratar um arremessador, como Wayne Ellington, ou outro pivô, como DeAndre Jordan ou Enes Kanter, ou possivelmente até entrar em um acordo com Carmelo Anthony.

Nada disso aconteceu.

Desistir de Zubac para adicionar um jogador de impacto ao elenco teria sido um sacrifício necessário. Trocar um jogador promissor para liberar a vaga de Beasley — que os Lakers poderiam simplesmente cortar — pelo Muscala, que arremessou 20.8% da linha de 3 em seus primeiros 11 jogos com os Lakers, foi uma ferida autoimposta.

Pouco tempo após a trade deadline, o consultor dos Clippers, Jerry West — que passou mais de 40 anos com os Lakers como jogador, técnico e executivo — foi a um jantar com velhos amigos com laços com os Lakers, de acordo com fontes. Ele não conseguia acreditar em como Zubac caiu em seu colo. Os Clippers, fontes dizem, nunca ligaram para os Lakers para perguntar sobre Zubac. A oferta foi feita e eles aceitaram de bom grado.

Fontes dizem que os presentes à mesa de jantar compartilharam uma gostosa risada à custa dos Lakers.

  • 8 de fevereiro de 2019: Após adquirir Reggie Bullock e Muscala na trade deadline, Pelinka anuncia os jogadores como “os fazedores de diferença” que L.A. estava procurando.
  • “Eu olho para Bullock e Muscala e minha esperança é que eles sejam como Julian Edelman”, diz Pelinka, fazendo referência ao wide receiver do New England Patriots que superou uma suspensão no início da temporada para virar MVP do Super Bowl. “É apenas um jogador, mas ele pode ter tanto impacto na química do time como um todo, e eu espero que esses dois caras possam vir e ter um impacto semelhante”.
  • 9 de fevereiro de 2019: presente em um jogo do Michigan State, Johnson diz para a imprensa que ele planeja se juntar aos Lakers em Philadelphia para ajudá-los a superar as gafes da trade deadline. “Eu vou abraçá-los e dizer que temos de nos unir e que nosso objetivo ainda é possível, se classificar para os playoffs”.
  • 10 de fevereiro de 2019: Antes do jogo em Philadelphia, Johnson diz para a mídia parar de tratar os jogadores como bebês. Ele também revela que Ben Simmons pediu um treino, mas o GM dos Sixers Elton Brand disse não. Os Lakers perdem por 143 x 120. Qualquer boa vibe construída a partir do game winner do Rondo no último segundo contra Boston rapidamente se dissipa.

Na esquecível temporada de 2012–13, foi em Memphis, Tennessee, que toda a disfunção e bagunça dos Lakers ficou evidente.

Bryant, Dwight Howard, Steve Nash e cia. se reuniram para falar sobre suas frustrações em uma sessão de treinamentos, deixando Howard próximo de lágrimas no vestiário, de acordo com fontes. Howard teve de ser persuadido a se juntar ao time em quadra após a reunião.

Em um dia de folga, em Memphis, após uma derrota por 128 x 115 para um Pelicans sem Anthony Davis, em 23 de fevereiro, o time dos Lakers liderado por LeBron, teve sua própria reunião para aparar as arestas. Rondo organizou uma reunião só para jogadores com o objetivo de “entender melhor uns aos outros”, uma fonte do time disse à ESPN.

O timing foi motivado por James, que na noite anterior havia revelado para a imprensa suas próprias frustrações, questionando abertamente a experiência de seus companheiros de time assim como sua preparação para encarar o desafio de se classificar para os playoffs. “Quantos sabem como é chegar lá se você nunca esteve lá antes”, James refletiu, declarando depois que ele nunca se acostumará com derrotas. O fato de que a arena de Davis foi o local escolhido por James para falar sua verdade apenas ampliaram a força das críticas, já que Davis foi o jogador cobiçado pelos Lakers.

A reunião em Memphis foi um tipo de resposta. Diversos jogadores pediram a palavra. Alguns jogadores focaram na linguagem corporal de James durante o ano. LeBron aceitou as críticas, dizendo para os seus companheiros que tentar eliminar comportamentos como baixar os ombros e dar olhadas cheias de julgamento é algo que ele tem tentado fazer durante toda sua carreira.

Na noite seguinte, James pareceu ter assimilado bem as críticas, abraçando seus companheiros durante pedidos de tempo, parecendo envolvido e dando instruções na defesa — ainda assim os Lakers perderam, 110 x 105, para um time dos Grizzlies que havia perdido 17 dos seus últimos 20 jogos.

“Só porque a reunião foi positiva não significa que nós vamos vencer os próximos 25 jogos”, uma fonte do time disse à ESPN.

Após o jogo em Memphis, os Lakers continuaram a afundar, anotando 2 vitórias e 10 derrotas nos próximos 12 jogos.

  • 2 de março de 2019: Na Conferência da MIT sobre estatísticas avançadas, Jeannie Buss critica a cobertura da imprensa sobre a perseguição dos Lakers a Davis.

“Teve muita repercussão e coisas escritas sobre uma potencial troca na trade deadline — tudo falso”, Buss disse. Durante um painel diferente, Buss disse, “O maior desafio são as ‘fake news’, sobre como nós, supostamente, iríamos trocar todo o nosso elenco por um certo jogador, o que simplesmente não seria verdade. Mas essas histórias vazam e prejudicam nossos jovens jogadores. Não foi justo”. Os comentários foram feitos menos de um mês após Magic Johnson ter reconhecido publicamente as conversas com os Pelicans e dito que New Orleans estava negociando de má fé.

  • 2 de março de 2019: Os Lakers perdem de 118 x 109 para o Phoenix Suns, e LeBron acrescenta um lance para as videocassetadas da temporada, tentando repor a bola em jogo e fazendo ela bater na parte de trás da tabela, resultando em uma posse perdida. “Foi uma burrice da minha parte”, James disse.
  • 6 de março de 2019: Perdendo por 13 pontos para o Denver Nuggets com apenas dois minutos restando, os Lakers rolam uma bola de reposição pela quadra. James espera ela chegar até a linha de 3 pontos antes de pegá-la. Paul Millsap tenta roubar a bola, fazendo com que James saia de quadra. No minuto final do jogo, Rondo é substituído e se senta junto com a torcida, longe do banco do time. Rondo já fez isso antes, mas o comentarista Mark Jackson o critica durante a transmissão. “Não tem desculpa para isso”.
  • 8 de março de 2019: Os Lakers se reúnem no centro de treinamento em El Segundo, Califórnia, para tirar fotos da equipe. Ilustrando a confusão da temporada, diversos membros da equipe técnica usam camisas pólo diferentes para a sessão — um detalhe que foi esquecido após o time ter demitido Carlos Maples, responsável pelo equipamento da equipe, no começo da temporada.
  • 9 de março de 2019: No mesmo dia que os Lakers anunciaram que Ingram perderá o resto da temporada devido a uma trombose venosa em seu ombro direito, é noticiado que a torção no tornozelo de Ball também o retirará do resto da temporada. Ingram atuou em apenas 52 jogos, e Ball em 47. A temporada de calouro de Lonzo durou apenas 52 jogos devido a uma lesão no joelho. LeBron, Ingram, Ball e Kuzama jogaram, juntos, em apenas 23 jogos. Os Lakers tiveram 15 vitórias e 8 derrotas nesses jogos.
  • 17 de março de 2019: L.A. estraga uma liderança de 11 pontos com 3:44 restando no quarto período no Madison Square Garden. Mario Hezonja bloqueia a potencial cesta da vitória de LeBron nos segundos finais. LeBron tem aproveitamento de 4/15 no último quarto — os 11 chutes perdidos são a pior marca de sua carreira em um quarto.
  • 22 de março de 2019: os Nets oficialmente eliminam os Lakers de conseguir uma vaga nos playoffs. D’Angelo Russel, antiga pick 2 dos Lakers, anota 21 pontos.
  • 28 de março de 2019: Brook Lopez anota 2/5 da linha de 3, totalizando 181 cestas de 3 na temporada. Caldwell-Pope lidera os Lakers com o maior número de cestas de 3 da equipe, com 127.

Durante um treino matutino na última sequência de jogos fora de casa dos Lakers, James observa seus companheiros arremessando ao redor do perímetro. Algumas bolas caíram, outras não. Algo comum em um treino. Em uma conversa com a ESPN, James reflete sobre os arremessos perdidos durante a temporada e se pergunta como as coisas teriam sido diferentes caso algumas daquelas bolas de 3 tivessem caído.

Aqueles erros no primeiro jogo da temporada no Moda Center nunca pararam de acontecer — conforme as últimas semanas da temporada se aproximam, os Lakers são os últimos no quesito arremessos de três convertidos livres (quando o marcador mais próximo está a mais de 1.5m de distância do arremessador).

Pela primeira vez em anos, James não estava cercado por arremessadores de alto nível. E pela primeira vez em anos, seu time não iria jogar os playoffs.

O que James pensou sobre a experimentação dos Lakers? Como ele viu a ideia de priorizar playmakers em detrimento de arremessadores.

“Esse experimento?”, James perguntou sobre a montagem do elenco em sua primeira temporada em L.A.

James olhou para a quadra por um momento, voltou sua atenção para a conversa novamente, fez um bico, colocou a língua para a fora, e fez o seguinte som:

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Samir Mello
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Jornalista do portal Metrópoles e Mestre em Tradução pela City, University of London; passagens pelas redações do Jornal de Brasília e Correio Braziliense