Como os Warriors conseguiram Kevin Durant

Samir Mello
HIGH FIVE
Published in
6 min readJan 4, 2017

Por Ramona Shelburne (Com colaboração de Zach Lowe, Ethan Sherwood Strauss, Marc Spears, Marc Stein e Royce Young)
Tradução de Samir Mello
Ilustração por Alvaro Tapia Hidalgo

Foi no feriado de 4 de julho do ano passado que Kevin Durant divulgou no site Player’s Tribune a carta que anunciava para o mundo sua saída do Oklahoma City Thunder para somar forças a Stephen Curry, Klay Thompson, Draymond Green e Cia. no Golden State Warriors. A decisão de KD continua dando o que falar.

Exatamente seis meses depois do anúncio, o site da ESPN publicou uma reportagem com algumas interessantes passagens dos bastidores da negociação. O conteúdo, que também fará parte da próxima edição da revista da ESPN, foi traduzido pela High Five Translations Co. Esperamos que gostem!

A resposta de Steve Kerr foi, obviamente, “sim”. Não houve pausa para considerar se adicionar Kevin Durant a um time que conseguiu 73 vitórias iria afetar a química. E também não houve nenhuma preocupação se o quatro vezes cestinha da NBA iria desequilibrar o delicado ecossistema que o técnico havia criado. Kerr não precisou ser convencido. Ele havia sido membro de duas dinastias da NBA — uma em Chicago, com os Bulls de Michael Jordan, a outra em San Antonio, com os Spurs de Tim Duncan — e sabia o que era necessário para sustentá-las.

A única dúvida seria se Durant teria a coragem de partir corações em Oklahoma City.

“Eu sabia que ele estava próximo”, disse Bruce Fraser, assistente técnico dos Warriors e o melhor amigo de Kerr. “Mas eu pensei que ter de dizer não para pessoas que ele ama seria mais difícil e doloroso para ele do que dizer sim para os Warriors”. KD, afinal, era um homem que havia caminhado pelas ruas de Moore, Oklahoma, após o bairro ter sido destruído por um tornado em 2013 — e, depois, ter doado US$ 1 milhão para a cidade. Ele era um um homem que, quando foi nomeado o MVP da NBA em 2014, disse para o povo de Oklahoma que, “Você é derrubado, mas continua levantando, continua lutando; é o lugar perfeito para mim”.

OKC estava apostando nessa lealdade. Foi só devido a uma improbabilidade histórica que times como os Warriors, os Clippers e os Spurs tinham espaço suficiente no teto salarial para tentar contratar Durant. No passado, uma franquia teria de destruir seu elenco para sonhar com uma superestrela do nível de um KD. Porém, quando o teto salarial aumentou em quase US$ 25 milhões com adição das cotas de TV, isso criou uma oportunidade sem precedentes. No fim, tudo dependeria de Durant — e do que ele queria. De qualquer forma, a NBA nunca mais seria a mesma.

Durant se concentra na Bay Area

A origem da maior transação da NBA desde “A Decisão” não começou em julho, na verdade. Ela teve início em fevereiro, no Super Bowl 50, que aconteceu em Santa Clara, Califórnia. Ali, com dois dias de folga antes do jogo entre OKC e Warriors no sábado a noite, Durant tem uma rara chance, no meio da temporada, de explorar a Bay Area. No domingo a noite, ele comparece ao Super Bowl, credenciado como um fotógrafo oficial. Quem também foi ao jogo? Draymond Green e Stephen Curry, o último, ao lado do campo, tocava os tambores dos Panthers. De acordo com fontes, foi nessa ocasião que Oklahoma City começou a perceber que, se havia um time que poderia roubar sua estrela, esse time era Golden State.

Thunder inicia as reuniões

Na última semana de junho, com o período para contratar agentes livres se aproximando, Durant se reúne com os companheiros de Thunder Russell Westbrook e Nick Collison e o assistente técnico Royal Ivey na BOA Steakhouse, em West Hollywood. Durante a refeição, Wesbrook, em um esforço para convencer Durant a ficar em Oklahoma City, pergunta para o ala o que ele faria diferente. Aqueles que estiveram presentes no restaurante naquela noite deixam o local com a impressão de que Durant iria retornar.

OKC para KD: Por favor, assine já!

Na quinta-feira, 30 de junho, como parte da primeira reunião de Durant como agente livre, o GM do Thunder, Sam Presti e o GM assistente, Troy Weaver, pedem para que KD faça algo um pouco diferente: embora durante anos, Durant sempre tenha adentrado a arena do Thunder pelo estacionamento localizado na área de abastecimento, eles o instruem a encontrá-los em frente ao estádio, onde eles o acompanham por uma entrada que fica próxima a uma imensa faixa com uma estampa de KD. A esperança deles era lembrar Durant, visualmente, de sua importância para a franquia e assegurar a assinatura dele durante a reunião — e chegar a um acordo com Al Horford no dia seguinte. Nada disso aconteceu. Durant vai embora pela área de abastecimento, depois, de jatinho privado, vai para a região dos Hamptons, um destino para férias onde ele e seus representantes podem ficar reclusos.

Guerreiros…Venham brincar!

Um dia depois, a primeira reunião oficial de Durant com Golden State acontece nos Hamptons…com um defeito. Os Warriors prepararam uma demonstração de realidade virtual, na qual Durant usa óculos especiais para reviver a experiência de assistir um jogo na Oracle Arena do lado da quadra. Curry, vindo de uma viagem no Havaí, está lá, junto com Green, Klay Thompson e Andre Iguodala. Quando o óculos não funciona, o núcleo de Golden State é forçado a improvisar. Durant não parece se importar, feliz de socializar com as estrelas dos Warriors, cara a cara. “Nós perguntamos para ele quantos campeonatos ele achava que poderíamos vencer da forma que o time está montado atualmente”, Green disse ao site The Undefeated. “Quantos campeonatos ele conseguiria sem nós? Quantos nós poderíamos vencer juntos?” Horas após a reunião, Curry diz para Durant, por mensagem, que ele não se importa sobre quem seria o principal jogador da franquia e sobre quem receberia mais reconhecimento ou venderia mais tênis.

Klay faz uma graça!

Enquanto isso, alguns funcionários da equipe temem que seriam justamente os tênis que poderiam frear a negociação. Durant é atleta da Nike. Curry é o principal garoto-propaganda da Under Armour. Durante a reunião, Curry argumenta que Durant se juntar aos Warriors e ser campeão seria excelente para ambas as empresas. Thompson, que estava começando a perder o foco, segundo alguns presentes, faz uma pergunta sobre a sua menos conhecida patrocinadora chinesa: “E vai ser bom para a Anta também?” Todos os presentes riem.

Festa em Boston

No sábado, 2 de julho, os donos do Celtics, Wyc Grousbeck e Stebe Pagliuca, o GM Danny Ainge e o quarterback dos Patriots Tom Brady voam para o aeroporto de East Hampton para se encontrar com Durant. Os jogadores presentes: Isaiah Thomas, Marcus Smart, Kelly Olynyk e Jae Crowder. Thomas, Olynyk e Crowder posam para fotos com Brady ao lado do jatinho dos donos dos Celtics e, durante a reunião, o grupo de Boston joga a ideia de KD se juntar a Horford — sem saber que Durant já havia ouvido a mesma coisa dias antes em Oklahoma City. Mesmo assim, Durant se encontra com Boston por quatro horas. Nas horas e no dia seguinte, diversas fontes pela NBA acreditam que Boston teria conseguido assinar com Durant caso os Warriors houvessem vencido as Finais — já que Durant não ia querer ser visto como o cara que pulou a bordo de uma dinastia.

O pior dos feriados

No domingo, 3 de julho, mais de meia dúzia de funcionários do Thunder optam por ficar por perto caso Durant queira conversar novamente. Eles tentam reservar um quarto em East Hampton. No entanto, sem lugar para ficar durante o feriado de 4 de julho, os membros do grupo, que incluía o dono Clay Bennett, o GM Sam Presti e o técnico Billy Donovan, se apertam em uma mesa do restaurante TGI Fridays para um jantar antes de compartilhar quartos em um Holiday Inn Express distante. Mal eles sabem que, a essa altura, Durant já está focado nos Warriors.

Durant arruma uma ligação em conferência com o dono dos Warriors Joe Lacob e o GM Bob Myers; ele está preocupado em como os Warriors vão protegê-lo das críticas caso ele decida se juntar a eles. Em determinado ponto, quando Durant diz: “QUANDO eu for”, Lacob perde a linha, pensando que Durant havia acabado de entregar seus planos. Enquanto isso, temendo o pior, os membros do Thunder esperam no hotel por uma ligação. Na manhã seguinte, Durant liga para informá-los de sua decisão, poucos minutos antes de anunciar para o mundo que iria se juntar aos Warriors. No fim das contas, a lealdade dele a OKC tinha um limite.

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Samir Mello
HIGH FIVE

Jornalista do portal Metrópoles e Mestre em Tradução pela City, University of London; passagens pelas redações do Jornal de Brasília e Correio Braziliense