Como os Warriors se tornaram o time mais consciente da NBA

Samir Mello
HIGH FIVE
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16 min readFeb 1, 2018

A resposta é uma combinação de vitórias, o lugar que Oakland ocupa no movimento Black Power e os estranhos tempos atuais

Por Lonnae O’Neal e Marc Spears
Traduzido por Samir Mello
Clique aqui para ler a matéria original (em inglês)

Em um determinado momento, Draymond Green se ajeita na cadeira, enquanto participa de um debate sobre atletas e ativismo na Escola de Governo da Universidade de Harvard. O ala do Golden State Warriors, que estava na cidade para enfrentar os Celtics naquela noite de novembro, havia alterado a sua rotina de dia de jogo para estar no evento, que aconteceu durante o almoço. A conversa, inicialmente, estava marcada em uma sala de aula, mas teve que ser mudada para uma sala de conferências, quando mais de 500 alunos confirmaram presença.

Vestindo tênis de marca de cano alto e uma camiseta alongada de mangas cumpridas, ele se encontra no palco, sentado em uma cadeira de madeira e brincando com o microfone. “Eu não poderia deixar de estar presente em Harvard. É como um sonho virando realidade”, declara Green, antes de iniciar seu discurso: atletas deveriam apenas defender causas pelas quais são apaixonados, ele afirma. O jogador também discute as nefastas tensões entre jovens e policiais, e a necessidade de continuar se educando sobre justiça social.

Quando um estudante pergunta sobre o que dizer para aqueles que defendem que atletas deveriam se ater ao basquete, Green joga o corpo para frente, se aproximando do público. É uma deixa para o jogador se manifestar de forma filosófica, abordando a natureza entre atletas e sociedade, embora de forma mais amigável para as mídias sociais.

E ele não deixa a desejar.

“As pessoas dizem que atletas não deveriam falar sobre política. Bem, eu acho isso engraçado, porque todo mundo acha que pode falar sobre basquete”. A plateia aplaude. É uma resposta definitiva de um cara com uma envergadura de 2.13m, a exibindo em uma arena diferente. E o momento é representativo do que nós observamos os Warriors fazer, repetidas vezes, durante o ano passado.

Atletas-ativistas negros, naturalmente, não são novidade. O boxeador Jack Johnson combateu barreiras raciais no início do século 20, Jackie Robinson integrou o baseball em 1947, Althea Gibson foi a primeira tenista negra a vencer um título de grand slam em 1956 e, 12 anos mais tarde, Tommie Smith e John Carlos ergueram seus punhos cerrados, cobertos por luvas negras, em cima do pódio, nas Olimpíadas da Cidade do México. Em 2015, um protesto liderado pelo time de futebol americano de Missouri, para combater o racismo no campus, forçou a resignação do presidente da universidade. No ano seguinte, LeBron James, Carmelo Anthony, Chris Paul e Dwyane Wade subiram ao palco do prêmio ESPY para pedirem aos atletas que se posicionassem contra a injustiça. Um grupo de jogadoras da WNBA, incluindo Maya Moore e Tina Charles, vestiram camisetas apoiando o movimento Black Lives Matter.

No entanto, esses atletas ou times estavam engajados em uma causa por um tempo limitado.

Os Warriors são completamente diferente: eles são o time mais forte da NBA, no mercado mais progressivo do país, com o técnico e os jogadores mais politicamente ativos, durante o período mais racialmente polarizado das duas últimas gerações. É um desenvolvimento evolutivo no poder e na influência do cidadão/atleta americano, com consideráveis riscos para suas reputações e subsistências. (Ver Kaepernick, Colin R.) Os “Dubs” não são simplesmente estrelas do basquete, eles são o time mais progressivo — e consciente — da história dos esportes profissionais.

Era uma manhã de fim de setembro, um dia após o armador dos Warriors, Steph Curry ter dito a repórteres que ele tinha votado para não comparecer à tradicional visita dos campeões da NBA à Casa Branca. A esposa de Curry, estava acordando o atleta, rindo.

“Trump tweetou sobre você,” Ayesha disse.

“Eu peguei meu telefone”, Curry se recorda, “e havia mais de 20 mensagens”. O Presidente Donald Trump havia retirado o ainda não enviado convite à Casa Branca, já que Curry estava hesitante.

De repente, Curry, o familiar rosto da franquia, estava no centro de uma das maiores histórias políticas e esportivas do ano.

O time havia planejado se encontrar aquele dia, em seu centro de treinamento em Oakland, para decidir em conjunto se iriam ou não fazer a visita. No entanto, o dia passou com uma mistura de seriedade e estranheza. Curry se recorda das horas seguintes como sendo “surreais”.

“Eu estava tipo, ‘Ele disse que não vai convidar você. A gente ainda pode ir”’, Green conta, rindo. “Nós, honestamente, levamos na piada”.

Mais de três meses depois, antes de um treino no início de janeiro, Curry parece não ter sido afetado pelo incidente. E ele apoia as decisões de seu time: “Quando eu falo sobre estar informado, ter empatia e consideração, nós temos caras neste elenco que se encaixam perfeitamente nisso”. Sua própria compaixão vem de uma infância na qual sua mãe, Sonya, compartilhava experiências de ter nascido em uma vizinhança pobre de Radford, Virginia. “A família como um todo teve vários encontros desagradáveis com a polícia em Radford, e havia muito racismo por lá”, Curry declara.

Seu pai, Dell Curry, é o maior cestinha da história dos Hornets. E, embora a família vivesse de forma confortável, Steph afirma que sempre teve a consciência de ser negro — e de suas obrigações com os negros ao seu redor. Ele frequentou uma pequena escola de Ensino Médio cristã; dos 360 alunos, talvez 14 eram afro-americanos.

“Nós todos compartilhávamos a mesma mesa, então nós tínhamos um grupo bastante próximo, que entendia que nós éramos diferentes naquele espaço. Acho que aprendemos a proteger a nós mesmos, nossa identidade e celebrá-la”, ele conta. E quando ele jogou basquete amador com crianças negras que estudavam em escolas públicas próximas, ele entendeu as diferenças entre os mundos em que habitavam — como algumas famílias tinham dificuldade em encher o tanque para dirigir até um torneio fora da cidade, mas também que “nós todos tínhamos algo em comum que poderíamos valorizar uns nos outros”. Era uma mentalidade de companheirismo, para a equipe e para a cultura, que ele levou até a idade adulta.

E, embora a confusão no Twitter do ano passado tenha sido estranha porque colocou Curry contra o presidente dos Estados Unidos, foi apenas um exemplo extremo do que diversos jogadores dos Warriors estão fazendo.

No último verão, Curry e o ala Andre Iguodala, que investiram em start-ups de tecnologia, organizaram uma conferência de tecnologia para jogadores da NBA. “Eu estou tentando escancarar a porta para o meu povo”, declara Iguodala. Em outubro, depois que a ESPN noticiou que o dono do Houston Texans, Bob McNair, havia comparado os protestos dos jogadores da NFL com “presos controlando a prisão”, Green postou no Instagram que, devido ao contexto histórico, a NFL deveria “parar de usar a palavra dono”. Outros jogadores, com os alas David West e Kevin Durant, encontraram propósito ao contar suas próprias histórias e falar sobre suas crescentes consciências raciais. O técnico Steve Kerr frequentemente aborda assuntos políticos em suas entrevistas. Em fevereiro de 2017, ele tuítou: “Eu assino o The Washington Post porque fatos importam”.

O que será que os permite desviar, com tanta autoridade e tão publicamente, dos tópicos que a sociedade normalmente aceita ouvir de jogadores profissionais de basquete? Pode-se argumentar que é o direito deles como cidadãos exercer suas garantias democráticas de participação e engajamento civis, em serviço do ideal americano fundamental de formar um país mais unido. Porém, não é nada disso. O motivo são todas essas vitórias que eles têm acumulado.

A não ser que ocorra uma calamidade, os Warriors são favoritos para chegar às Finais pelo quarto ano consecutivo. E vencer, Green afirma, os empodera de diversas maneiras: “Em primeiro lugar, você recebe atenção o tempo inteiro. Segundo, você é um campeão, eles querem ouvir o que você tem a dizer. Você está fazendo algo tão sensacional que isso te dá uma voz…Ninguém se importa com o que um perdedor tem a dizer”.

Como descreve o gerente-geral Bob Myers, “eles são um time talentoso, com uma variedade de líderes de forte caráter”, e isso os proporciona alguma credibilidade em relação às suas opiniões fora do basquete. “No entanto, ao mesmo tempo, eu acho que é algo que você tem que proteger. Parece funcionar com a gente, porque nós vencemos. Mas e se nós não estivéssemos bem? Essa histórias ainda seriam escritas? Essas opiniões seriam ouvidas?”

A história que os Estados Unidos contam para si mesmo, é a de que o sucesso — nos esportes e em demais áreas — depende da competitividade, disciplina, trabalho duro e personalidade. O esporte é tão essencial quanto a religião para reforçar esses valores na nação, explica Harry Edwards, um escritor, ativista e consultor para os Warriors e os 49ers, e que organizou o Projeto Olímpico para os Direitos Humanos, em 1968, que resultaram nos protestos na Cidade do México. “O esporte conta com escribas, santos finados (Vince Lombardi, Red Auerbach) e halls da fama sagrados, além de objetos sacros”. Um exemplo é “a bola que Hank Aaron rebateu pra fora do estádio quando ele quebrou o recorde Babe Ruth, a qual as pessoas pagam milhões para obter”.

Quando atletas vencedores — ainda mais atletas vencedores negros — questionam o valor de definições amplamente aceitas, isso motiva uma acentuada discordância civil. Kaepernick ou Carlos ou Mahmoud Abdul-Rauf se transformaram em hereges e foram punidos de acordo. Porém, os Warriors acumularam tanto crédito por meio das vitórias que eles não são apenas venerados, como amplamente ouvidos.

Toda a disciplina, inteligência, força de vontade? As vitórias provam que isso funciona, argumenta Edwards. No entanto, o ativismo de Golden State nos faz refletir se isso funciona tanto para pessoas em Oakland e no Leste de St. Louis como para o Sul de Chicago.

O fato de que eles precisam continuar dizendo que tudo isso independe das vitórias mostra que vencer na Bay Area é uma coisa completamente diferente.

O proprietário de uma loja de roupas chamada DOPE ERA, Mistah F.A.B (apelido de Stanley Cox) reflete sobre os Warriors serem, de fato, o time mais politicamente progressivo de todos os tempos. Além de empresário, ele também é rapper e um ativista comunitário, autor de um rap freestyle definitivo sobre os Warriors. Agora, ele se lembra de Smith e Carlos, e cita os Clippers usando camisetas do avesso durante o aquecimento como forma de protesto aos comentários racistas do, então dono da franquia, Donald Sterling, em 2014. “No entanto, eu não consigo pensar em nenhuma outra equipe brigando por relevância social da forma como os Warriors estão fazendo hoje”.

Alguma parte disso é motivada pelo próprio clima de Oakland. Por mais da metade de um século, Oakland e a Bay Area foram sinônimos do movimento de conscientização negra, Angela Davis e os Panteras Negras. Eles receberam, de braços abertos, o Movimento pela Liberdade de expressão, protestos anti-guerra e a contracultura de Haight-Ashbury. As cidades próximas à baía tem sido propulsoras dos direitos LGBT, de movimentos anti-fascismo e do Black Lives Matter.

Sentado atrás da cesta da Quadra 1, no centro de treinamento dos Warriors, Durant se recorda da pobre vizinhança em Washington, onde ele cresceu, refletindo sobre as formas como ele evoluiu no tempo em que saiu de lá para chegar até aqui. “Você pode sentir essa cultura quando você chega aqui”, afirma Durant, que assinou com os Warriors em 2016 e foi nomeado o MVP das Finais do ano passado. Quando criança, ele vivia perto da Pennsylvania Avenue, “há 16 km da Casa Branca”. Ele sabia aonde dava a rua em frente a sua casa, quem vivia ali e o que significava ser Chefe de Estado, ele se recorda, embora Durante frequentemente se desligasse de todas essas lições cívicas, junto com tudo que estivesse acontecendo fora da quadra.

Ele se refere ao seu bairro como 95% negro e com “80% de nós vivendo em condições de pobreza”. Ele também revela que estava tão focado em sair de lá que fez vista grossa para as dificuldades que as pessoas estavam passando. Era uma parte de sua alma que ele mantinha dormente, e, às vezes, ele gostaria de poder falar para o Durant mais jovem para que ele abrisse os olhos e oferecesse mais esperança e alegria para “as pessoas que estavam com dificuldades, da mesma forma que eu estava com dificuldades”. Porque felicidade negra é resistência.

“Caminhando pelo centro de Oakland, dirigindo pelo Leste da cidade, chegando aos jogos todos os dias, você pode notar que alguém lutou e morreu por essas ruas pelas quais passamos”, Durant conta. Uma vez que você tem esse conhecimento, é impossível ignorá-lo. Alguns pensam se essa conexão com a comunidade irá continuar após os Warriors se mudarem para a arena Chase Center, em São Francisco, na temporada 2019–20. Por enquanto, Durant está focado no que pode controlar: “Você deve apreciar as pessoas que construíram essa comunidade. E não é por causa dos Warriors, mas eu acho que estamos fazendo um ótimo trabalho em acrescentar a algo que já era incrível. Agora, com o time que temos, nós estamos meio que liderando o movimento por sermos uma equipe socialmente consciente. Um bando de caras querem começar a conversa sobre como nós podemos ser melhores enquanto nação, enquanto comunidade.”

Antes de todos treinos, os jogadores do Warriors se encontram próximos de um grupo de 20 cadeiras em um dos cantos da quadra próximas à sala de musculação. Kerr está de pé, em frente ao grupo, e fala sobre o planejamento para o treino, a rotina dos próximos dias e outros assuntos. Diferentemente da maioria dos times da NBA, “outros assuntos” geralmente incluem os últimos tweets de Trump, a eleição para o estado do Alabama ou o reinado do falecido Moammar Gadhafi na Líbia.

É uma pequena universidade da conscientização em frente à TV onde eles assistem vídeos dos jogos, uma conversa espontânea pautada pelos eventos do dia e pelas paixões daqueles que se sentem compelidos a falar. Eles compartilham o que sabem e fazem notas mentais sobre o que não sabem para se informarem melhor após o fim do treinamento.

Kerr faz parte de um pequeno grupo de técnicos brancos conhecidos por serem reflexivos e francos sobre raça, política e justiça social. O grupo inclui o técnico dos Spurs Gregg Popovich, Phil Jackson, ex-técnico dos Bulls — ambos treinaram Kerr — e Stan Van Gundy, dos Pistons.

“Quando eu cheguei, eu tinha a impressão de que o técnico Kerr era um cara mente aberta sobre tudo”, Durant revela. “E eu ouvi que a organização inteira era assim. Mas quando você pra trabalhar e a gente conversa sobre o Trump vencer a eleição antes dos treinos e de um jogo, e se nós vencessemos um campeonato, o que aconteceria — esse tipo de coisa faz você pensar sobre o que está acontecendo fora do basquete.

“E isso faz nossas mentes se mover e trabalhar. E agora, eu estou envolvido com tudo o que acontece no mundo. Quando você é inocente e só pensa no que te interessa no dia a dia, você tende a esquecer sobre o mundo lá fora. Jogar nos Warriors te dá um gostinho das duas coisas: seu amor pelo esporte, mas também o mundo real. Eu gosto muito disso”.

West, duas vezes all-star, afirma: “Steve e eu, quando nós interagimos, basquete é a última coisa sobre a qual conversamos”. Por anos, sem cobertura da mídia, West promove seu próprio protesto durante o hino nacional. Ele é sempre o último da fila, e com um pé atrás em relação ao restante do time, uma demonstração silenciosa sobre assuntos de raça, educação, mortalidade infantil e a expectativa de vida dos negros.

Antes de assinar com os Warriors em 2016, como um agente-livre, West diz, ele esperava que Green fosse franco e Curry culto. Porém, o interesse de Kerr em política e o seu apoio à curiosidade dos jogadores e engajamento foi, para West, uma revelação. “Ele chega e fala do nada, ‘Bom dia, rapazes, olha essa merda acontecendo no Alabama’. Sabe? É bastante espontâneo”.

Em um dia no meio de dezembro, um repórter está sentado com Kerr na lateral da quadra 1, no centro de treinamento dos Warriors. Ele pergunta sobre a vitória do Democrata Doug Jones sobre o Republicano Roy Moore, na eleição extraordinário do Alabama. Moore havia sico acusado de assédio sexual contra menores. Kerr começa a responder de forma cuidadosa, depois se solta: “Eu acho que foi um momento no qual nós podemos tirar alguma esperança. Mas eu não quero que isso soe como um problema de liberais x conservadores. É uma questão de caráter. E eu nem conheço Doug Jones. Eu apenas sei que ele não molesta jovens meninas, então isso já é uma vitória”.

Enquanto bolas são quicadas e outros barulhos de academia ecoam pelo ambiente, Kerr faz um paralelo entre a queda do Império Romano e os perigos do fracasso interno. Quando ele não está fixado em basquete, Kerr se interessa por história e política, um foco que ele encoraja em outras pessoas. “Não é apenas importante do ponto de vista de todos sermos cidadãos e seres humanos e deveríamos saber o que acontece no mundo, mas também é essencial para os jogadores terem equilíbrio em suas vidas”.

Nenhum outro assunto o empolga mais do que o controle de armas, algo relacionado com a história de sua família. O pai dele, Malcolm Kerr, foi presidente da Universidade Americana de Beirute, quando ele foi assassinado em 1984.No entanto, Kerr diria que se interessaria pelo assunto de qualquer maneira. É loucura, ele afirma, “que nós não podemos concordar sobre o quão sensível é a questão, que nós podemos viver em um país onde mais de 500 pessoas podem ser baleadas de um quarto de hotel e a próxima medida do governo é ser menos rigoroso com medidas relacionadas a armas”.

Kerr revela ser guiado por uma expressão usada por Popovich — pelo acaso do nascimento. “Pelo acaso do nascimento, você viveu a vida que você viveu. Eu vivi a vida que eu vivi. É importante pra todos nós nos colocarmos no lugar do outro”. Ele explica que sua capacidade de ter empatia foi modelada por viagens e pela diversidade que ele experimentou como companheiro de time de jogadores latinos e negros. “Você compartilha o vestiário com pessoas que viveram vidas muito diferentes de você e enxergam o mundo de forma diferente de você. É muito saudável”.

E o cara que contratou Kerr? Ele apoia tudo isso. “Quem sou eu para dizer para eles como pensar, o que sentir?”, Myers questiona. “Tudo o que eu aconselho para nossos jogadores é, se eduque, tente falar de forma inteligente sobre algum assunto. Pesquise, tente olhar para ambos os lados. Então, se você tem algo a dizer, diga”.

Em uma noite de dezembro, os Warriors acabaram de ser derrotados pelo Mavericks por 112 x 97, e Iguodala, que terminou o jogo com apenas 2 pontos mais 10 assistências, está em seu vestiário. Ele não está falando do jogo, mas sobre o passado, e a consciência da situação que ele precisará para o presente e para o futuro.

“Eu sei sobre pessoas que cresceram da mesma forma que eu, e eu sei sobre a luta deles e eu sei sobre como as coisas estão preparadas de forma que impedem eles tenham sucesso”, afirma o jogador, um veterano de 14 anos que cresceu em Springfield, Illinois. A vida é assim, ele diz para o seu filho de 10 anos: “Você é negro, você é um homem afro-americano”, então você precisa estar consciente do seu ambiente.

E você tem que escolher as coisas que você permita entrar em sua mente. Iguodala, recentemente, leu o livro The Beautiful Struggle, de Ta-Nehisi Coates, e acabou de terminar Things Fall Apart, o clássico romance Africano, por Chinua Achebe. “Eu fico atento a tudo que adentra o meu cérebro. Embora ainda tenha algumas besteiras ali, algumas coisas bem-humoradas. É uma luta constante”.

É essa curiosidade determinada que diferencia os Warriors, afirma Edwards: “Eles são o melhor time, o mais informado, o mais inteligente, o mais crítico e politicamente importante da era deles”.

É uma era formada por imagens de policiais atirando em cidadãos, um conjunto de vídeos assistidos por jogadores, que reconhecem que seu privilégio e relativa imunidade não se estende a pessoas que se parecem com eles, ou a algum ente querido. É uma era na qual perguntas fundamentais sobre raça e igualdade, as quais nós achávamos que tinham sido respondidas, estão ressurgindo.

É, também, uma era na qual atletas, especialmente na NBA, tem tanto poder financeiro quanto a habilidade de se conectar a milhões de pessoas via redes sociais. Eles podem apertar o botão de enviar sem a permissão de um técnico ou gerente-geral. Nem mesmo Ali conseguia espalhar sua mensagem sem intermediários.

Os tempos atuais tanto formataram os problemas quanto motivaram respostas. Como os homens e mulheres que vieram antes deles, os Warriors estão respondendo ao chamado do momento.

O ativismo de atletas negros começou com a luta por legitimidade, depois, por acesso, até chegar à dignidade e poder. E essas batalhas existiram em um contexto mais amplo. Você não pode falar sobre Jackie Robinson e a integração nos esportes sem falar sobre o movimento pelos direitos civis. Você não pode falar sobre Jim Brown ou Arthur Ashe sem discutir o movimento Black Power. E, agora, você não pode falar sobre Kaepernick, os protestos durante o hino nacional, e o ativismo político do Golden State Warriors sem o contexto do movimento Black Lives Matter.

Quando Green relacionou a crítica à palavra “dono” à história dos homens brancos e da força de trabalho escrava, o dono dos Mavericks, Mark Cuban, exigiu que ele se desculpasse. Green respondeu dizendo: “Eu não espero que ele entenda…ele não sabe a sensação que eu tenho quando eu ligo a TV e vejo um homem negro desarmado levar um tiro de um policial”. Tais comentários, instantaneamente, se tornaram parte do debate sobre raça no país.

De acordo com Kerr, nem sempre será assim. “A reviravolta é inevitável, e ela irá chegar”, afirma Kerr. “Quando nós não estivermos vencendo tanto, a reação, talvez, será diferente às palavras dos jogadores, suas posições relativas a causas sociais e aos atletas ativistas criarem novas formas de influenciarem a América”.

Kerr afirma que os Warriors não gastam tempo pensando sobre esse futuro ou sobre o lugar deles na história. Ao invés disso, o técnico mais consciente no time mais reflexivo da história dos esportes profissionais motiva os seus jogadores a manterem o padrão: Diga o que você sente, “desde que você seja verdadeiro às suas convicções”.

A história cuidará do resto.

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Samir Mello
HIGH FIVE

Jornalista do portal Metrópoles e Mestre em Tradução pela City, University of London; passagens pelas redações do Jornal de Brasília e Correio Braziliense