Da defesa ao ataque: uma análise do invicto Paulistano

Vagner Vargas
HIGH FIVE
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6 min readDec 14, 2015
Time de Gustavo de Conti (D) começou a temporada com oito vitórias em oito jogos. Foto: De Lima/Dubem

por Vagner Vargas

Oito jogos, oito vitórias. Este é o impressionante retrospecto do Paulistano no começo da temporada 2015/2016 do NBB. Único invicto no certame até então, os paulistanos deixaram Bauru e Flamengo — os principais favoritos ao título — para trás de uma maneira surpreendente.

Comandado pelo ótimo Gustavo de Conti, o Paulistano tem uma base veterana em quadra, comandada por Caio Torres e Kenny Dawkins e reforçada por nomes como Valtinho, Gruber, Jhonatan Luz e Toyloy. Além deles, o time conta ainda com os jovens Gemerson e Arthur Pecos na rotação.

O Paulistano está longe de ser um time de estrelas, como Bauru e Flamengo, então qual o segredo para um começo de temporada tão fulminante, com direito a vitória sobre o próprio Fla no caminho e verdadeiros atropelamentos contra Minas e Pinheiros?

Caio Torres (E) e Dawkins (D): principais pontuadores do Paulistano na temporada

A equipe teve duas partidas transmitidas até agora — 108 x 101 no Basquete Cearense e 101 x 77 no Pinheiros —, o que dificulta qualquer análise mais profunda. Mas com base no pouco visto na TV e internet e com a ajuda das estatísticas, é possível ter uma noção do motivo do sucesso do Paulistano.

Ataque

Em termos de pontos por jogo, o Paulistano tem o terceiro melhor ataque do NBB, com média de 84,5. O elenco de Gustavo de Conti não é dos que mais acelera o jogo (8º em termos de pace), mas aposta bastante nos arremessos de fora.

O Paulistano é o time que mais arremessa de três pontos no NBB — 27,1 bolas por partida — e o segundo que mais converte — 11,1. O segredo, no entanto, não está apenas na quantidade, já que a equipe de São Paulo tem o segundo melhor aproveitamento no quesito: 41%. Apenas Paulistano e Brasília (líder no quesito) convertem mais de 40% dos arremessos de três no NBB.

Outro dado que chama a atenção é o baixo número de lances livres conquistado pelos comandados de Gustavo de Conti. O Paulistano cobra em média 15,1 lances livres por duelo, ficando à frente apenas da Liga Sorocabana no quesito (15,0). O aproveitamento é de 75,2%, mediano considerando os adversários.

Se não cava tantas faltas quando ataca a cesta, o Paulistano tem se destacado também no jogo coletivo. O time é o quinto com a melhor média de assistências por partida, com 16,9, o que pode ajudar a justificar o maior número de arremessos de fora e o bom aproveitamento. Além disso, a equipe aparece apenas em 11º em termos de desperdício de bola no NBB, o que mostra que os jogadores têm cuidado bem da laranja.

Aí entra também a individualidade do grupo. Caio Torres, por exemplo, é um pivô que gosta de jogar longe da cesta e arremessa tanto de média quanto de longa distância. Já o armador Dawkins é excelente no um contra um e nas infiltrações, o que exige atenção redobrada dos protetores de aro dos adversários e abre espaço para os jogadores de perímetro do Paulistano.

Kenny Dawkins cercado por cinco jogadores do Minas e de olho na cesta. Foto: De Lima/Dubem

Outro que tem contribuído bastante para o sucesso do time nos arremessos de fora é Jhonatan Luz. Embora seus minutos em quadra tenham diminuído em relação aos números da carreira (19,1 minutos em 2015–16' contra 24,5), os chutes de fora nunca caíram tanto. Jhonatan tem convertido impressionantes 65,4% das bolas de longa distância, disparada a melhor marca da carreira e muito acima de sua própria média no NBB: 38,1%.

Defesa

Mas como para vencer no basquete não basta colocar a bola na cesta, o Paulistano tem feito um trabalho mais do que decente do outro lado da quadra. A parte defensiva, pelo menos nas estatísticas, tem sido exemplar e certamente um dos pilares para a ótima campanha da equipe até agora.

Mais uma vez vale ressaltar: algumas coisas não são possíveis de se analisar sem assistir às partidas. Não dá para saber como o Paulistano tem feito as dobras, se tem trocado a marcação apostando na versatilidade dos jogadores, ou se tem feito as rotações rapidamente para contestar os arremessos. Como tem faltado transmissões, vamos nos apegar mais uma vez aos números.

Shilton tenta o arremesso: Gruber contesta e Dawkins e Caio prontos para o rebote

O Paulistano é a segunda equipe que menos tem sofrido pontos no NBB. Os adversários marcaram, em média, 71,2 pontos por partida. Mas este é apenas um detalhe diante de outras estatísticas que achei bem mais reveladoras.

Por exemplo: o Paulistano está longe de ser uma das potências do campeonato em termos de tocos. É apenas a 10ª equipe com mais bloqueios. Por outro lado, é a quinta que menos comete faltas no NBB. Aliando isso ao fato de que os adversários têm convertido 48,5% das bolas de 2 pontos contra o Paulistano — a quarta melhor marca do campeonato —, creio que seja seguro dizer que o time faça um trabalho bastante decente protegendo o aro.

Mas não é só isso. O Paulistano se destaca também na marcação no perímetro. O time tem levado uma média de apenas 6,5 bolas de longa distância por jogo em 23,2 arremessadas. Ou seja, o Paulistano tem limitado os rivais a um aproveitamento péssimo de 27,9% nos tiros de fora. Um número excepcional.

Por fim, vale ressaltar o rating defensivo do Paulistano, o segundo melhor do NBB, e os rebotes. A equipe tem sofrido 100,4 pontos a cada 100 posses de bola, ficando atrás apenas do Flamengo neste quesito. Já nos rebotes, o time é o segundo melhor na marca geral, com 38,2 por jogo.

Vai ter recorde?

Após um começo tão arrasador, já é possível pensar em algo a mais para o Paulistano? É verdade que o NBB tem um histórico de equipes que caem de rendimento na segunda metade do campeonato, mas não custa nada divagar, não é mesmo?

Até hoje, o Bauru de 2014–2015 teve o melhor desempenho da história da competição na primeira fase. Foram 28 vitórias e apenas 2 derrotas na temporada passada. Um aproveitamento absurdo de 93,3%. O Flamengo de 2008–2009 vem logo atrás, com 26 vitórias e 2 derrotas na primeira temporada do NBB, em 2008–2009. Aproveitamento de 92,9%.

O Paulistano ainda tem 20 jogos pela frente, o que é muita coisa, mas dado o desempenho inicial do time de Gustavo de Conti, creio que não seria nada impossível de alcançar. Resta saber se a equipe terá capacidade para manter o ritmo impressionante das oito primeiras rodadas.

Fator zica

Só um registro: o Paulistano volta à quadra pelo NBB nesta terça-feira, 15 de dezembro, contra o São José, fora de casa. Caso a equipe sofra sua primeira derrota na competição, este post não se responsabiliza.

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