Muito mais que um jogo

Vagner Vargas
HIGH FIVE
Published in
4 min readDec 4, 2015

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por Vagner Vargas

Eu amo o basquete. Que jogo, meus amigos, que esporte. Lances fantásticos, enterradas que nos fazem levantar da cadeira e erros que nos obrigam a esbravejar com a tela da TV mesmo estando milhares de quilômetros distante. Às vezes as pessoas não entendem por que uma vitória nos deixa tão contentes e como uma derrota é capaz de arruinar completamente nosso dia.

É simples: o basquete é muito mais que um jogo.

É fácil esquecer que aqueles seres humanos de mais de 2m de altura que fazem o esporte parecer algo simples são humanos como todos nós. É comum julgar quando eles cometem erros, dentro e fora de quadra, e cobrar quando são qualquer coisa que não perfeitos.

Mas a verdade é que nós também não somos. Nenhum de nós. Metaforicamente falando, todo mundo já errou uma bandeja sem marcação no contra-ataque, todo mundo já deixou o jogador que deveria marcar de perto escapar, todo mundo já errou um arremesso que seria o da vitória.

Por isso eu sempre gosto muito de situações que humanizam o esporte. Gestos simplórios, como um jogador oferecer a mão para ajudar o rival a se levantar ou dar atenção a um torcedor. É o que me faz lembrar que todos que estão ali em quadra podem ter seus dias ruins, podem ter problemas em casa ou podem simplesmente estar de mal humor.

Eu escrevi cinco parágrafos só pra dizer que quero mostrar um vídeo que assisti hoje, me deixou realmente emocionado e me fez pensar em tudo isso. Encontrei o vídeo na página do Facebook do Triple Double, do meu amigo Luís Araújo, de quem vou me dar a liberdade de roubar a tradução a qual ele investiu tempo para fazer.

Primeiro vou postar o vídeo, depois contextualizar. Acho que assim é mais bacana e é possível assistir ao vídeo duas vezes de formas bem diferentes.

Popovich: Estamos no ar?

Sager: Sim, estamos

Popovich: Honestamente, preciso te dizer que esta é primeira vez que estou gostando de dar essa entrevista ridícula que somos obrigados a dar. É porque você está aqui, de volta com a gente. Seja bem vindo de volta, querido

Sager: Obrigado. Estive no hospital por alguns meses esperando fazer isso de novo

Popovich: Agora me faça algumas perguntas inúteis

Sager: Você tirou os cinco jogadores de quadra durante o primeiro tempo. É porque o time já jogou na noite anterior ou porque você estava insatisfeito?

Popovich: Eles estavam jogando como lixo. Então eu coloquei caras diferentes. Você teria feito a mesma coisa

Sager: Vocês tiveram um aproveitamento de 35% nos chutes. Está feliz com a seleção de arremessos?

Popovich: Feliz? Se estou feliz? Craig, vamos lá…

Sager: Estou feliz por te ver

Popovich: Eu também, meu querido. Amo você

Como prometido, vamos contextualizar.

O senhor com o terno engraçado chama-se Craig Sager. É repórter de quadra da NBA desde que me entendo por gente. Faz o mesmo trabalho há muitos e muitos anos e é bastante querido pela comunidade do basquete. Virou um ícone, mesmo sem ter feito um arremesso sequer.

Craig Sager e sua maravilhosa coleção de ternos: marca registrada

O outro, de cabelo branco, a maioria de vocês deve conhecer. É Gregg Popovich, um dos maiores técnicos que o basquete já viu. Ele treina o San Antonio Spurs e vai assumir a seleção norte-americana no futuro.

Pop é conhecido por não ser um grande fã das entrevistas de quadra. Não é nenhum segredo que ele acha esse bate-papo pouco útil para a vida de todos. Assim, ele sempre dá respostas curtas e grossas e acabou também virando um personagem engraçadíssimo.

Popovich e sua tradicional cara fechada durante as famosas entrevistas

A entrevista acima foi na verdade um reencontro. Sager ficou muito tempo afastado do trabalho batalhando um câncer. Sua falta foi bastante sentida por público, jogadores e treinadores. A luta foi dura, mas Sager voltou a fazer o que mais gosta e a rápida conversa com Popovich me deixou realmente emocionado. Foi um daqueles momentos dos quais eu falei ali em cima, que mostra como esses caras que a gente vê na TV são frágeis como todos nós.

Vida longa ao basquete, a Craig Sager e a todos que fazem parte e gostam desse esporte sensacional. Digo e repito: é muito mais que um jogo!

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