Pachecando na NBA :: Cristiano Felício
Do banco do Flamengo direto para o Chicago Bulls. A improvável saga do ala-pivô brasileiro até a NBA
por Vagner Vargas
Eu confesso: na minha cabeça, Cristiano Felício estaria de volta ao NBB muito antes de a temporada 2015–2016 da NBA começar. Me enganei profundamente. Aos 23 anos e comendo pelas beiradas, como todo bom mineiro, Cristiano Felício conquistou o direito de usar a camisa 6 do Chicago Bulls. Será o primeiro brasileiro a usar o uniforme um dia ostentado pelo maior de todos os tempos.
O fato de ter conquistado um lugar entre os 15 jogadores que formam o elenco dos Bulls já é uma vitória para Felício. Depois de participar de cinco edições do NBB, defendendo primeiro o Minas e depois o Flamengo, o ala-pivô carregou consigo o status de promessa desde o começo. Falta dar o próximo passo. Ou faltava?
Na última temporada, Felício vestiu a camisa do Flamengo 39 vezes e teve uma média de 14,8 minutos em quadra. Para o pouco tempo que jogou, o ala-pivô registrou boas médias: 5,4 pontos, 4,4 rebotes e 0,79 assistências. O melhor das estatísticas, no entanto, fica no aproveitamento. Felício converteu 65,9% dos arremessos que tentou e 68,5% dos lances livres, números pra lá de bons.
Em Chicago, vai ser muito — mas muito mesmo — difícil para o brasileiro arrumar minutos. Joakim Noah, Pau Gasol e o subestimado e eficiente Taj Gibson formam o tripé do garrafão em Chicago, com o excelente Nikola Mirotic jogando também na posição 4. Para piorar, o novato Bobby Portis se destacou na pré-temporada e parece ter cavado seu espaço, sem falar em Cameron Bairstow, que também faz parte do elenco e joga na mesma posição de Felício.
Ainda assim, a convivência com jogadores de altíssimo nível por si só já fará bem a Felício. Aprender diariamente a defender e ler o jogo com Noah e observar de perto toda a técnica e inteligência de Gasol será um privilégio.
O maior problema, a meu ver, é o histórico negativo dos Bulls em relação à Liga de Desenvolvimento (D-League). Nas últimas nove temporadas, somente três jogadores de Chicago foram mandados para lá. Como os Bulls não têm uma afiliada na liga, a equipe não pode controlar o tempo de quadra que seus jogadores terão caso sejam cedidos. Ou seja, é bem possível que Felício não veja a quadra na NBA e tão pouco atue na D-League.
Para mim, a situação do ala-pivô é uma das maiores incógnitas entre os brasileiros na liga norte-americana. Realmente não dá para saber o que será de Felício nos Estados Unidos. O jeito é aguardar e acompanhar. Mas já que ele conseguiu o que parecia impossível, quem sabe o brasileiro não continue a surpreender?