Steve Kerr, Bulls de 1996 e Warriors de 2015

Jogador do lendário Chicago e técnico do fantástico Golden State falou com a ESPN sobre o hipotético confronto entre as duas equipes e o resultado é sensacional

Vagner Vargas
HIGH FIVE
6 min readNov 23, 2015

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por Vagner Vargas

Steve Kerr nada contra a corrente: técnico dos Warriors gosta de falar sobre o hipotético encontro entre Warriors de 2015 e Bulls de 1996

Eu gostaria muito de ter batido esse papo com Steve Kerr, mas os créditos vão todos para Ethan Strauss, da ESPN. Se você lê em inglês e tem o mínimo interesse no assunto, clique aqui e vá para o artigo original.

Mas como eu gostei muito (MUITO!) do conteúdo da conversa entre Ethan e Steve, resolvi dar uma de tradutor. O crédito, vale lembrar, é todo do repórter e da ESPN. Esta é uma mera reprodução da conversa entre eles no nosso bom e velho português.

Steve Kerr: Tenho que começar falando sobre o meu lado humano. Então eu estava no vestiário na noite passada, assistindo ao jogo, e Jeff Van Gundy está falando sobre os Bulls de 1996 comparados a este time (Warriors de 2015). Sentado lá, eu estou tipo “droga, eu deveria estar comandando esse time, eu deveria estar lá”. Então, na coletiva de imprensa mais tarde, alguém estaria me perguntando sobre toda essa coisa dos Bulls de 1996, e eu amo isso. É muito divertido. Meu Deus, sinto falta disso. Está me matando.

Ethan Strauss: Você tem que estar mentindo. Depois de todo o calor do momento de comandar um time em um jogo, você gostaria de responder perguntas hipotéticas sobre algo que nunca vai ocorrer?

Steve Kerr: Eu gostaria! Eu amo essas coisas. É muito divertido. Obviamente é muito mais divertido quando você venceu 14 partidas e não perdeu nenhuma, mas não, eu amo esse negócio.

Ethan Strauss: Então, quais são seus pensamentos iniciais sobre este realístico confronto?

Steve Kerr: Meus pensamentos iniciais são de que é literalmente impossível comparar, porque as regras e as eras são tão diferentes. Nós iríamos sobrecarregar o lado forte do Jordan e eles diriam que é defesa ilegal; e eles colocariam a mão no Curry o tempo todo e os juízes apitariam falta. Isso faz sentido?

Ethan Straus: Faz sentido. Então vamos fazer um compromisso. A gente mantém o handcheck e tira a defesa ilegal. Como você, sendo um analista, vê as coisas acontecendo?

Steve Kerr: Ah, bem, isso é interessante. A única coisa que eu tenho certeza é que eu não teria chance alguma de marcar o Steph. Então eu diria que nós provavelmente teríamos colocado uma combinação de Scottie (Pippen) e Harp (Ron Harper) nele.

Ei, você, Steve Kerr: venha me marcar

Ethan Strauss: Você não esperava que isso fosse difícil, né?

Steve Kerr: Não. Eu acho que a gente teria — quando eu digo “nós”, estou falando sobre um ponto de vista de jogador. Quer dizer, é difícil até saber se estou falando “nós” ou “eles”.

Ethan Strauss: Isso é ridículo.

Steve Kerr: Isso é ridículo. Eu acho que o jogo iria para o small ball, porque os pivôs dos Bulls naquela época não eram ofensivos o suficiente para ficar em quadra. Tenho que dizer “os Bulls” e “os Warriors”. Não posso dizer “nós” e “eles” porque ninguém vai saber do que diabos estou falando. Então, os pivôs dos Bulls teriam que sair. Você teria uma batalha épica entre Rodman e Draymond Green.

Ethan Strauss: O ex-Bull Bill Wennington é bem confiante em relação a uma vitória dos Bulls. Você usa isso como material para o seu quadro no vestiário? Você pune Wennington de alguma forma?

Steve Kerr: (Risos) Tenho certeza de que não. Eu provavelmente não ficaria muito preocupado com o que Bill Wennington disse.

Ethan Strauss: E Ron Harper, que tem falado bastante? Você dá a ele o tratamento em que — eu sei que ele não era o melhor para arremessar de 3 pontos — Andrew Bogut o marcaria?

Steve Kerr: Ah. Sim. Tem uma boa chance de Bogut ficar responsável por marcar Ron Harper. É aí que o triângulo entra no jogo. Eu vou saudar o triângulo aqui. Era muito difícil fazer esse tipo de coisa no triângulo por causa da movimentação constante e das ações. Você tinha muita habilidade para fazer as pessoas irem de um lado para o outro e muitos cortes por trás. Teria sido bem difícil fazer esse tipo de coisa contra o triângulo.

A conversa aqui entra em um momento engraçadinho, em que Ethan e Kerr fazem piada sobre a dificuldade do técnico lidar com ele próprio aos 30 anos como jogador. Mas pouca coisa produtiva saiu aqui, já que eles ficaram fazendo gracinhas com De Volta para o Futuro e uma realidade alternativa em que Kim Kardashia seria a ditadora dos Estados Unidos. A única coisa que daria para aproveitar é quando Kerr disse que daria uma dica a si próprio: “Não faça a cirurgia nas costas”.

Voltando…

Ethan Strauss: Você está preocupado com o fato de que poderia vencer a si próprio com 30 anos de uma forma tão feia que seu eu não ouviria seus conselhos?

Steve Kerr: (Risos). Sim, exatamente. É engraçado, quando eu comecei a trabalhar como comentarista de videogame alguns anos atrás e virei o técnico dos Warriors, um dos caras do NBA 2k disse, rindo: “No próximo ano você vai poder jogar, ser técnico e comentarista no mesmo jogo.”

Ethan Strauss: Então, como você atacaria a si próprio? O que você faria?

Steve Kerr na época de jogador: parte da dinastia dos Bulls

Steve Kerr: Bom, você sabe, o que torna os Warriors um time tão único é a versatilidade. Seria uma pesadelo para mim jogar contra eles, pois eu não encontraria ninguém que eu pudesse marcar. Ninguém consegue marcar Steph, então eu teria uma missão impossível tentando. Eu não sei nem por onde começar. Mas ofensivamente nosso time não escolhe quem marcar. Nossa filosofia é “deixar as coisas virem”. Nós apenas corremos com a bola e a fazemos se mover, passes, cortes, movimentação e todas essas coisas.

Ethan Strauss: E quanto ao confronto Rodman x Draymond que você mencionou, quem se daria melhor nessa?

Steve Kerr: Isso seria divertido de assistir, não seria? Você sabe, Draymond é um jogador mais habilidoso em termos de controle de bola, abilidade de criar jogadas e arremessar, essas coisas. No entanto, acho que Dennis foi uma verdadeira inspiração para o Draymond em termos de raça e rebotes. Ninguém pegou rebotes como Dennis desde que ele jogou. Ele tinha uma maneira de impactar o jogo emocionalmente que me lembra muito o Draymond. Imagino que teríamos algumas faltas técnicas envolvidas. Talvez uma briga ou duas.

Ethan Strauss: Você enxerga Michael Jordan marcando Steph por longos períodos? Você enxerga Scottie Pippen marcando Klay Thompson por longos períodos?

Steve Kerr: Bom, acho que a grande semelhança entre os dois times é a versatilidade defensiva. Nos Bulls, Johnny Bach (ex-técnico na faculdade e dos Warriors) costumava chamar Scottie e Michael de dobermans. E Scottie, Michael, Dennis e Ron Harper, aqueles caras podiam trocar tudo. Foi o primeiro time que eu fiz parte que eu vi trocas de marcação das posições 1 a 4. E nós podíamos trocar de 1 a 5 quando Kukoc estava em quadra. Então, de algumas maneiras, aquele time foi o precursor dos Warriors. Com o confronto entre eles, você poderia ver os 10 jogadores trocando de marcação entre si.

Ethan Strauss: Você tem alguma vantagem desleal por ter estado imerso no ataque do time que você estaria enfrentando como técnico?

Steve Kerr: (Risos). Não mesmo. Não mesmo. Eu não tenho certeza de que isso ajudaria muito.

Ethan Strauss: Então, preciso de um palpite de você neste assunto muito sério. Nesta situação hipotética em que o handchek é permitido e você pode usar qualquer tipo de defesa, qual é o placar final?

Steve Kerr: Sem comentários

Ethan Strauss: Você não vai comentar sobre um jogo hipotético que nunca vai ocorrer?

Steve Kerr: É. Eu me recuso a comentar o placar deste jogo hipotético que nunca vai ocorrer.

Ethan Strauss: E se o jogo for disputado em Plutão?

Steve Kerr: Bom, se for disputado em Plutão, então eu acredito que o jogo seria definido em um step-back de 3 pontos do Curry marcado pelo Jordan no último segundo. E nós nunca vamos saber se a bola entra ou não.

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