De volta para o futuro, ecologicamente falando

Gracielle Higino
Hipótese Nula
Published in
2 min readMar 16, 2016

imaginou como seria o cerrado brasileiro cheio de mamutes? Os campos com bois e porcos selvagens, os bosques europeus repletos de lobos? Isto pode não estar tão distante da realidade. Uma proposta de restauração de ecossistemas pela reintrodução de espécies selvagens (ou mesmo pela “de-extinção” de espécies), o “rewilding”, ou refaunação, tem levantado uma grande polêmica dos debates sobre conservação.

Mammoth safari by Raul Martin

O simpático E. O. Wilson anda bastante preocupado com a elevada taxa de extinção das espécies. Ele diz, acertadamente, que a única solução para reverter esta situação é preservar o máximo de habitats que pudermos. Sabemos que os ecossistemas são emaranhados de “bloquinhos” interconectados e que frequentemente as coisas dão errado se um destes blocos se perde. Uma paisagem pode ser completamente modificada pela extinção local de uma espécie. A proposta da refaunação tem a ver com a restauração de habitats pela reintrodução de espécies que tinham um papel importante na paisagem. Veja este exemplo (o vídeo é curtinho!) de como a presença de lobos em um parque nos Estados Unidos influenciou até o curso dos rios!

A refaunação, portanto, tem o potencial de aumentar o número de habitats disponíveis “economizando espaço”, ou seja, restaurando áreas sem uso ou já protegidas, mas que ainda não recuperaram a biodiversidade que tinham antes dos impactos ambientais chegarem.

Até aí tudo bem, certo? Na verdade algumas pessoas não gostam de imaginar lobos ou bois selvagens soltos por aí, mas, bem, elas superam. A maior polêmica está na de-extinção [importante ressaltar que nem todo mundo que defende a refaunação defende a de-extinção]. Considerando que os ecossistemas evoluem e mudam naturalmente, até que ponto é sensato tentar reproduzir espécies que foram extintas?

Os critérios para selecionar espécies candidatas à de-extinção, segundo o projeto Revive&Restore, levam em consideração a disponibilidade de habitat, o tempo desde a extinção, o controle dos fatores que levaram à extinção da espécie e os benefícios que isto traria para outras espécies. É preciso conhecer cada detalhe da espécie para garantir que o investimento gigantesco nesta “ressurreição ecológica” não termine em um grande desastre ambiental.

[veja como o CRISPR pode ajudar na “ressurreição” de espécies extintas]

Tudo isso é muito difícil de entender agora. As técnicas de refaunação precisam ser testadas e estudadas exaustivamente até que se torne uma opção efetiva de conservação. Além disso, a refaunação não substituirá as técnicas já conhecidas e utilizadas, mas deverá ser integrada aos planos de manejo, será uma ferramenta a mais. Se tudo der certo, quem sabe um dia voltaremos a ver os Dodôs por aí?

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