Virando a sala de aula de cabeça pra baixo!

Marcos V. C. Vital
Hipótese Nula
Published in
5 min readApr 20, 2016
http://xkcd.com/895/

Parte 1: na qual quero falar um pouquinho da minha experiência como professor — pra depois seguir para o que interessa. ;)

Já faz algum tempo que eu estou com um monte (um monte!!!) de ideias mais ou menos (mal) organizadas na cabeça sobre ensino — tanto de uma forma geral quanto sobre coisas específicas, sobre as disciplinas que eu ministro, a maneira como dou aulas de cada assunto e coisas assim. Ando lendo, pensando, planejando e discutindo algumas coisas com os alunos aqui do LEQ, e acho que chegou o momento de organizar as ideias. Nada melhor, então, que começar a escrever sobre isso, pra ajudar a colocar tudo no lugar — e, de repente, ter novas ideias batendo um papo com vocês que estão lendo por aqui. ;)

Mas aí, depois de ler um pouco mais, abri o o computador e comecei a ter dificuldade com o bom e velho “por onde começar?”… :p Depois de brigar um pouco com as ideias, começar a escrever e depois apagar uns parágrafos, resolvi voltar um pouco atrás e começar do começo: falando um pouco sobre como me tornei professor, por que estou aqui e etc e tal. A minha esperança é que, fazendo isso, fique mais fácil continuar depois e explicar melhor o que eu tenho em mente para o futuro. Se der certo (e espero que dê), esta será uma postagem inicial sobre o assunto, que tem o potencial de ser dividido em algumas (muitas?) partes aí pela frente.

Ah, sim: o título deve fazer sentido depois, nas próximas partes. ;)

Então tá, começando do começo…

Se tem uma coisa que eu descobri bem cedo na minha formação, láááá quando eu estava fazendo meu curso de graduação em Ciências Biológicas, é que eu realmente gosto (muito muito) de ensinar. E isso é bastante curioso, pois eu sempre fui uma pessoa muito tímida — do tipo que evita ativamente contato com as outras pessoas! Mas, de alguma forma, percebi que toda a minha dificuldade social no lidar com outras pessoas desaparecia quando eu me dirigia a um grupo. Então, lá com os meus primeiros seminários e apresentações, eu fui percebendo que ser professor seria algo que viria com naturalidade para mim.

E aí, aos poucos, as coisas foram se somando: como eu também desenvolvi cedo um apreço bem grande pela Ciência, então ensinar, orientar, pesquisar — e praticamente tudo o que um professor universitário faz — se tornou algo que eu realmente amo. :) Tá certo, eu pulei um monte de coisas aí, mas em resumo, me tornei professor por ser algo que eu gosto, e que faço com alguma facilidade (faço com facilidade por que gosto ou gosto por que faço com facilidade???).

E então, sendo professor aqui na UFAL.

Quando fui aprovado no concurso e vim aqui para ser professor na UFAL, o objetivo era claro: o nosso instituto precisava de alguém da biologia que pudesse dar aulas de matemática e estatística (além de fazer pesquisas e as outras coisas, claro). Eu também me tornei responsável por parte das disciplina de Ecologia (que é a minha área de formação), mas o desafio principal era conseguir dar uma boa base quantitativa para os alunos do nosso curso de Ciências Biológicas. Encarei a tarefa (claro, senão não estaria aqui!), e um bocado das tais ideias que estão na minha cabeça foram nascendo ao longo destes anos aqui como professor.

O que rola nestas disciplinas?

Olha, as duas são beeeem diferentes. Colocando de maneira simples:

  • A Biomatemática é uma disciplina básica sobre Funções e Cálculo Diferencial e Integral aplicados à Biologia. Encaro ela como uma disciplina de base: depois dela você deve ser capaz de não arrancar os cabelos e correr em desespero por aí após abrir um livro de Ecologia e dar de cara com um monte de equações. :D
Argh, não sei a fonte desta imagem; se alguém souber, avise, que corrijo aqui. ;)
  • A Bioestatística é uma disciplina aplicada, sobre ferramentas práticas. Depois dela, eu quero que você seja capaz de pensar em como bolar um experimento, colocar hipóteses à prova, interpretar e apresentar os seus resultados.

Então, em termos de ensino, a Bioestatística é mais tranquila: assunto com aplicações práticas e aulas no computador, para a galera colocar a mão na massa e ver acontecer. Complemente isso com um pouco de leitura crítica de artigos científicos, e pronto: temos uma disciplina bem estruturada. Já com a Biomatemática, ah, aí o desafio é bem maior. E é principalmente nela que eu ando pensando ultimamente!

Uma das questões centrais pra mim neste momento é como ensinar e avaliar os conteúdos: será que vale à pena cobrar resoluções, no estilo “questão de matemática”? Ou seria melhor partir para questões mais conceituais e de interpretação? Será que devo tentar aplicar provas tradicionais (de novo entra aí a “questão sobre as questões”), ou seria melhor jogar fora este modelo e aplicar várias avaliações de outros tipos? Será que tento modificar o que tenho construído… ou chuto o balde e reformulo tudo de uma vez?!

Beleza, beleza, acho que podemos ir parando. A deixa está aí, e depois eu volto para falar mais. Olhando agora para o que eu escrevi, percebi que na verdade tem vários ganchos! :D Então depois dá para falar mais sobre alguns dos assuntos abordados e tal. Mas, por enquanto, a ideia é falar sobre o que eu fiz até agora e o que pretendo fazer (incluindo a tal virada de cabeça pra baixo) com a Biomatemática.

Querem cenas do próximo capítulo? Tá aqui um texto que me fez pensar um bocado:

Abração, e até a próxima!

Prof Marcos

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Marcos V. C. Vital
Hipótese Nula

Prof. da UFAL, coordenador do LEQ, apaixonado por ensino, ciência, R e jogos!