Resenha: Parahyba Vive, Vieira

Jhonattan
Hipercubo
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3 min readNov 1, 2018

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Vencedores da edição 2017 da Red Bull Breaktime Sessions, a banda Vieira recebeu como grande prêmio a chance de gravar seu novo EP na Red Bull Studios, em São Paulo. O resultado foi o EP Parahyba Vive, lançado em fevereiro deste ano, um registro de cinco músicas, onde a banda faz uma exortação à João Pessoa e experimenta novas sonoridades em relação ao seu álbum anterior, Comercial Sul, de 2015.

Lançado em fevereiro deste ano Parahyba Vive, a banda explora sua relação com sua cidade, João Pessoa. Essa exortação à cidade vem em detalhes que podem passar despercebidos para quem é de fora, afinal, em momento algum do álbum o nome da cidade é citado. João Pessoa, no entanto, se mostra através de nomes de bairros e pontos importantes para os pessoenses, revelando que, muito mais que uma simples homenagem mecânica ou de aparências, se trata de uma relação de afeto e desejo puro de representar seu lugar.

As letras o álbum fazem várias referências à cenários da cidade, como ao bairro do Tambiá, em Superwlad, assim como a pontos importantes do mesmo bairro, como a “Bica”, e ao Hospital Santa Isabel, ou ainda ao Bar do Contorno e à avenida Dom Pedro II, citados em Portugês Ambíguo, ambos velhos conhecidos da vida boêmia universitária pessoense. O disco também conta com uma curta participação de Totonho, cantando alguns versos na faixa Português Ambíguo, e reforçando a “paraibanidade” do álbum. Essa busca por identidade já havia sido apresentada em Comercial Sul, que aliás, a título de curiosidade, continha na capa uma pixação com os dizeres “Parahyba Vive”, assim como a antiga bandeira da cidade.

O nome Parahyba, aliás, é uma referência ao antigo nome da cidade, que foi trocado, junto com a bandeira na década de 30, para o nome atual na intenção de homenagear o então presidente do estado da Paraíba, João Pessoa, assassinado nessa época. Há certos movimentos atuais na cidade que buscam resgatar o nome antigo da capital, tornando o nome Parahyba uma espécie de símbolo dessa identificação com a cidade, uma forma de se situar no mundo ao encontrar suas raízes.

Mas o álbum de forma alguma se limita aos ouvintes pessoenses. Apesar dessa forte ligação com suas origens, o som da banda passa longe de ritmos tipicamente nordestinos, e se aproxima do indie rock, com algumas doses moderadas de psicodelia, exibindo em Parahyba Vive também influências de estilos americanos como blues, funk e soul. Estas últimas podem ser percebidas nos vocais vigorosos de Arthur Vieira, que não economiza em tons agudos e trejeitos, no trabalho virtuoso e criativo da guitarra de Pedro Chico, e no groove entre o baixo de Jonathas Beltrão e bateria de Marcus Menezes.

No geral, o clima do álbum é mais alegre e dançante que seu predecessor, com tons, digamos, mais “praianos” e em certos momentos até cômicos (e isso não é uma crítica negativa), como na faixa Português Ambíguo, sem, no entanto, ser um som fácil ou apelativo. Cheio de viradas no andamento das músicas, o Vieira consegue experimentar bastante, trazendo construções complexas e bem elaboradas ao longo dos curtíssimos 17 minutos do EP.

Resumindo, Parahyba Vive é um álbum corajoso e audacioso. A banda ainda busca sua maturidade e aposta na experimentação, mas o faz com originalidade, produzindo um indie de qualidade e com cara nordestina. Um registro de peso que coloca o Vieira não apenas como peça chave nesse novo cenário musical que vem se descrevendo em João Pessoa, mas uma banda que, a depender do rumo que tomarem, podem muito bem alcançar destaque no cenário do indie nacional. Tudo isso em seu segundo EP.

Ouça o disco:

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Jhonattan
Hipercubo

Amante de música e escritor; jornalista nas horas vagas