Resenha: ‘Trilha’, Banda-Fôrra

Jhonattan
Hipercubo
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3 min readNov 1, 2018

A Banda-Fôrra lançou seu primeiro trabalho em 2015, o EP homônimo Banda-Fôrra, onde a banda explora, ao longo de suas seis faixas, uma grande quantidade de sons, desde um pouco de psicodelia até um pouco metal. Em 2017 a banda lançou dois singles, Trilha Sonora e Apego, nos quais os fãs mais atentos do quinteto formado por Gustavo Limeira (vocais), Ernani Sá e Hugo Limeira (guitarras), Matteo Ciacchi (baixo) e Lucas Benjamin (bateria), puderam identificar uma mudança significativa no som da grupo. As duas músicas de sonoridade doce e animada eram um preâmbulo para o álbum Trilha, que saiu em janeiro deste ano.

No novo álbum a Banda-Fôrra entrou de cabeça no indie rock, abandonando o estilo mais experimental apresentado no EP de 2015. Ao longo de suas oito faixas, Trilha se apresenta mais brando que seu antecessor, com uma sonoridade mais colorida e dançante, voltada para algo entre o indie e o pop. As guitarras estão mais limpas e menos agressivas, com teclados discretos, apesar de sempre presentes, e uma bateria simples, mas assertiva.

Em Trilha, a Banda-Fôrra busca fazer mais com menos, se afastando dos virtuosismos, dos solos e da psicodelia. A estrutura das músicas também ficou menos disruptiva, abandonando as digressões e os momentos instrumentais, e entregando faixas curtas e leves, que prezam pelo padrão verso-refrão e dão ênfase aos vocais de Gustavo Limeira.

O vocalista aproveitou esse espaço para abusar de construções melódicas mais doces e ‘chicletes’. As melodias açucaradas do vocalista são complementadas por suas letras sentimentais, que não economizam nos versos românticos. O amor é nesse disco o grande personagem central, presente na tristeza agridoce de Abril, na qual Gustavo divide os vocais com Arthur Vieira; na impaciência da espera pela pessoa amada em Trilha Sonora, faixa que dá nome ao álbum; ou na dor do rompimento em Diz Nos Meus Olhos.

Menos experimental, Trilha tem uma orientação clara para o pop, com músicas mais fáceis e palatáveis para o grande público. Com fácil, no entanto, não se quer dizer inferior. Se a Banda-Fôrra optou por se enveredar pelo Pop, conseguiu fazer uma obra de qualidade dentro desse gênero. A banda consegue utilizar das fórmulas da música pop de uma maneira bastante orgânica e arrojada. Gustavo Limeira já admitiu em entrevistas (uma delas para o Hipercubo, que você pode conferir aqui), que a sonoridade do novo álbum foi um movimento natural em relação ao método como ele foi gravado. Todos passaram meses em estúdio analisando as músicas amiúde e trabalhando para que cada som encontrasse seu papel dentro do disco. O que esse álbum perde em ousadia, ganha, por outro lado, em homogeneidade.

O resultado é que trilha é um registro mais objetivo, onde a Banda-Fôrra consegue fazer mais com menos e transmitir de forma bastante direta qual é o seu som. Ao longo de 2018 a banda alcançou novos fãs na cena de João Pessoa, levando sua turnê também para outras regiões: um sinal de que com Trilha a Banda-Fôrra conseguiu encontrar seu público.

Ouça o disco:

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Jhonattan
Hipercubo

Amante de música e escritor; jornalista nas horas vagas