Neurocientista Miguel Nicolelis é um dos coordenadores do Comitê Científico do Consórcio Nordeste.

Comitê científico do NE alerta: “Flexibilizar distanciamento social pode gerar tragédia humana sem precedentes no Brasil”

HiperLAB UERN
Agência HiperLAB de Reportagem

--

Em boletim divulgado nesta quinta-feira (9), cientistas e médicos que integram o grupo demonstraram preocupação com afrouxamento de medidas em algumas cidades brasileiras

Esdras Marchezan — Da Agência HiperLAB/UERN

Os especialistas que integram o Comitê Científico do Consórcio Nordeste para a COVID-19 fizeram um alerta aos brasileiros, em novo boletim divulgado ontem (9), a respeito da flexibilização adotada em alguns municípios brasileiros em relação ao distanciamento social. De acordo com o comitê — coordenado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e pelo físico e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende — não há justificativa alguma para qualquer tipo de relaxamento no distanciamento social. “Qualquer flexibilização agora vai gerar tragédia humana sem precedentes no país”, afirmam no documento.

O Consórcio Nordeste é formado por todos os governadores do Nordeste, presidido pelo governador da Bahia, Rui Costa. Diante da situação de pandemia do novo coronavírus, o grupo decidiu formar um comitê científico com especialistas de todos os estados nordestinos. O professor Ricardo Valentim, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), representa o estado potiguar no comitê.

De acordo com o comitê, as determinações de distanciamento social e medidas restritivas correlatas são, no momento, as medidas mais eficientes de combate à pandemia. O grupo aponta que as medidas garantindo o isolamento social nos estados têm apresentado bons resultados. “O isolamento social reduziu a velocidade de contaminação por coronavírus em Fortaleza e no Estado do Ceará. Estudo realizado pelo Grupo de Sistemas Complexos, do Departamento de Física, da Universidade Federal do Ceará (UFC), com apoio da Secretaria de Saúde do Estado (SESA-CE) e da Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Fortaleza, concluiu que em 24 de março Fortaleza registrava 542, e o estado do Ceará, na mesma data, 607. Sem o isolamento determinado pelo governo estadual o número seria 1.194 para a capital e 1.349 para o estado”, explica o comitê.

Os especialistas também alertaram sobre os riscos do uso da hidroxicloroquina, baseados em estudos de relevância científica.

“O Comitê Científico enfatiza que, neste momento, não existe nenhum embasamento científico ou clínico que justifique o uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes em qualquer fase da infecção produzida pelo coronavírus. Artigos publicados nos últimos dias em diversas revistas científicas de grande relevância, corroboram esta compreensão e indicam os graves riscos, inclusive de morte súbita, que o uso indiscriminado deste medicamento pode acarretar”.

Professor Ricardo Valentim (UFRN)representa o Rio Grande do Norte no comitê

O grupo reforça que, “Em meio a uma pandemia, não se justifica aumentar ainda mais o risco a que estão submetidos pacientes infectados, com a possibilidade de submetê-los a graves efeitos colaterais de uma droga que não foi devidamente testada neste tipo de infecção”.

O boletim do comitê cita a experiência de uma equipe médica francesa com o uso da medicação em pacientes com COVID-19 e reforça o fato de não haver ainda estudos científicos que aprovem o uso neste momento. “Uma equipe da Universidade de Paris e do Hospital Saint-Louis, também na capital francesa, avaliou 11 pacientes consecutivos internados com o mesmo curso de tratamento que o grupo criticado. Um paciente morreu (e outros dois foram para a UTI) e, dos dez sobreviventes, 8 ainda eram positivos para o vírus 5/6 dias após o tratamento. Um paciente teve que interromper a terapia no dia 4 por causa do prolongamento do intervalo QT, efeito colateral conhecido da hidroxicloroquina que pode levar à arritmia cardíaca fatal”.

Monitoramento

O comitê anunciou também a criação do aplicativo Monitora Covid-19, desenvolvido por instituições privadas, em parceria com o Consórcio Nordeste, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia (Secti), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) e a Fundação Estatal Saúde da Família (Fesf-SUS/FESF-tech). A ferramenta pode ser baixada gratuitamente no Google Play. A expectativa é que o Monitora Covid-19 esteja também disponível na Apple Store nos próximos dias.

O Monitora Covid-19 será viabilizado progressivamente pelo Consórcio Nordeste para os 57 milhões de habitantes dos nove estados que compõe o grupo e visa suprir falta de testes no mercado, evitar aglomerações em hospitais, orientar recursos médicos para cada localidade, além de garantir a fiscalização adequada do distanciamento social em locais com índices elevados de contaminação.

“Os dados vão gerar informações e mapas sobre como a pandemia desloca-se no território, locais que possam ter contaminação mesmo sem que haja testes confirmando pessoas com covid19, tempo de quarentena, dentre outras informações que servirão de base para tomada de decisões em saúde pública e de atendimento”, explica o boletim.

Confira o boletim do comitê científico na íntegra.

A Agência HiperLAB é uma ação do Laboratório de Narrativa Hipermídia (HiperLAB), projeto de extensão do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), coordenado pelo Prof. Ms. Esdras Marchezan.

--

--

HiperLAB UERN
Agência HiperLAB de Reportagem

O HiperLAB UERN é o Laboratório de Narrativas Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).