Projeto do curso de Jornalismo da UERN aposta na realidade virtual como plataforma para produção de histórias imersivas e interativas

Inovação e empreendedorismo: um novo rumo dentro das universidades

HiperLAB UERN
Agência HiperLAB de Reportagem
9 min readDec 24, 2019

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André Mesquita — Da Agência HiperLAB

Aposta em cultura inovadora tem elevado patamar do Rio Grande do Norte em ranking nacional

Inovação e empreendedorismo são termos cada vez mais presentes nas instituições públicas de ensino brasileiras, ampliando suas atuações além do tripé tradicional de ensino, pesquisa e extensão. Esta aposta repercute não apenas no mundo acadêmico. Dados mais recentes do Índice FIEC de Inovação dos Estados 2018 aponta o Rio Grande do Norte como o 14º em inovação no ranking nacional e 4º no Nordeste, uma posição acima da conquistada na edição passada. O índice é uma publicação anual da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC).

Com um cenário econômico cada vez mais instável, incertezas sobre o futuro e um mundo em evolução, a inovação tecnológica e o empreendedorismo são elementos fundamentais dentro das instituições, possibilitando uma transformação e impulsionamento do cenário econômico regional.

Apesar de o estado de São Paulo ainda concentrar 71,1% do investimento em pesquisa e desenvolvimento do Brasil, O Nordeste começa a despontar como um polo de inovação nacional. Entre os 15 estados mais inovadores do País — conforme o Índice FIEC — quatro são nordestinos (Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Rio Grande do Norte). Por outro lado, a realidade mostra a necessidade de maior investimento no setor.

De acordo com os Indicadores Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação 2018 divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Brasil investiu somente 1,27% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano de 2016 na área de pesquisa e desenvolvimento. Desses, 52% foram de financiamento público e 48% privado.

Veja publicação completa

https://www.mctic.gov.br/mctic/export/sites/institucional/indicadores/arquivos/Indicadores_CTI_2018.pdf

Na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) o investimento no desenvolvimento de projetos de pesquisa e ações de inovação tem aumentado.

“Hoje nós podemos dizer que a universidade já desponta entre as grandes do país, uma vez que nossos projetos tem uma robustez, gerando impactos positivos na sociedade, de modo que a gente consegue se projetar nacionalmente e internacionalmente”, explica o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG) da UERN, Rodolfo Cavalcanti.

Ele conta que há uma década se tinha apenas dezenas de projetos de pesquisa, com poucos professores doutores e geralmente essas pesquisas estavam voltadas para esses professores. Hoje, já se tem um panorama completamente diferente. Na UERN, mais de 90% do corpo docente é formado por mestres e doutores.

No biênio de 2018/2019, a universidade teve 325 projetos desenvolvidos, com participação de 260 professores, o que representa um terço dos docentes da instituição, além de 480 estudantes.

“Dentro da sua característica de interiorização a universidade consegue desenvolver pesquisas em todos os seus campi, principalmente no interior do estado”, acrescenta Rodolfo. Segundo o pró-reitor, há alguns anos a UERN não tinha ainda o primeiro registro de patente e hoje está entre as que mais incentivam a criação de projetos originais no Rio Grande do Norte, chegando a quase 30 registros de patente.

No curso de jornalismo da universidade, estudantes trabalham para construir novos modelos jornalísticos que sejam inovadores e sustentáveis financeiramente para quem produz. Uma das apostas está sendo a construção de reportagens e documentários para visualização em óculos de realidade virtual. O projeto é conduzido no Laboratório de Narrativa Hipermídia (HiperLAB), coordenado pelo professor Esdras Marchezan. Depois de uma etapa de apresentação do projeto ao público, através de mostras de realidade virtual em praças e escolas, agora a equipe começa a planejar as primeiras produções próprias.

“Vamos começar a produzir nossas reportagens e documentários sobre histórias da nossa região. Acreditamos que através das imagens em 360° oferecemos ao público uma nova forma de conhecer essas histórias, colocando o expectador no centro da narrativa”, explica o professor.

RN é o 5º estado do País com mais mestres e doutores na indústria

O desenvolvimento da indústria nacional passa também pela relação do setor com a pesquisa e inovação desenvolvida nas universidades. A presença de mestres e doutores no setor industrial é elemento importante para o fortalecimento da cadeia produtiva nacional.

Neste aspecto, o Rio Grande do Norte assume posição de destaque. O estado é o 5º do país com maior inserção de mestres e doutores na indústria e ocupa o 1º lugar no Nordeste. O Rio de Janeiro desponta como o líder neste quesito, com forte atuação na indústria extrativista e de transformação. Em solo potiguar, a atuação na indústria extrativista também se destaca.

Multidisciplinaridade na busca por soluções

Ciências da Computação, Engenharia e Educação Física. Diferentes áreas de conhecimento, que juntas realizaram um modelo de inovação tecnológica. Estudantes e professores desses cursos resolveram misturar pesquisa e inovação e, juntos, criaram um protocolo para auxiliar nos treinamentos de natação, em especial o “nado”.

“A ideia surgiu do protocolo desenvolvido em seu doutorado pelo professor Adalberto Veronese, o Progressive Swimming Teste, que é um teste que utiliza a audição para balizar os nadadores durante o nado. E a gente queria transformar esse teste em algo que pudesse ser mais inclusivo, então decidimos desenvolver um equipamento que pudesse executar o protocolo de forma visual”, explica Alefy Almeida, que se formou recentemente em Ciência da Computação, na UERN, e hoje faz mestrado na área na mesma universidade.

O projeto de Trabalho de Conclusão de Curso de Alefy acabou virando um equipamento que permite o funcionamento do protocolo do professor de Educação Física, Adalberto Veronese. O Ghost Swimmer ou Nadador Fantasma consegue marcar antecipadamente o tempo que o nadador vai tentar realizar na piscina.

Equipe multidisciplinar desenvolveu equipamento que pode aperfeiçoar desempenho de nadadores

“Como muitos nadadores, especialmente aqueles que estão começando no nível de treinamento, ocorre dificuldades de mensurar pelo nadador a intensidade de execução do nado proposto ao treinamento. Outra situação é que temos pessoas com algum tipo de deficiência auditiva e nadar olhando as luzes de led permitirá realizar os nados em diferentes ritmos. São poucos os testes na água de baixo custo para avaliar o condicionamento físico de nadadores, a proposta foi desenvolver um equipamento de baixo custo e de fácil manuseio”, destaca o professor de Educação Física da UERN, Adalberto Veronese.

No Brasil não existe nenhum equipamento com a mesma função. Além, disso, segundo Alefy, o diferencial do equipamento criado em seu TCC é estar sendo desenvolvido dentro da academia sempre utilizando o método científico para validar o desenvolvimento.

“A equipe de Tecnologia e Inovação da UERN tem nos ajudado nos registros de patentes e acompanhamentos de processos de inovação, sendo hoje uma das instituições que mais tem registros de patentes no RN”, ressalta o professor Adalberto.

Atualmente o equipamento está disponível no Laboratório de Avaliação de Desempenho Aquático (LADA) do Departamento de Educação Física da Instituição. A ideia é produzí-lo para comercialização. “Podemos vender nosso equipamento para outras universidades e clubes de natal. Inclusive já apresentamos ao Ideal clube da cidade de Fortaleza-CE, onde demonstraram interesse. Então, agora vamos trabalhar nesse sentido”, conclui Alefy.

Amor, cuscuz e Nordeste

Moda, amor, cuscuz e Nordeste foram inspiração para uma grande ideia. Um jovem casal reuniu esses ingredientes com a vontade de empreender e criou uma nova marca de T-Shirts exclusivas, a ´Pissilone´. Namorados há quatro anos, Lucas Brilhante (21) e Beatriz Lima (18), resolveram apostar no Nordeste e explorar as raízes locais numa marca exclusiva de camisetas personalizadas.

“O nordestino tem muito orgulho de ser nordestino e o Nordeste é muito respeitado. Somos a maior região do país. Pensamos porque era tão difícil encontrar uma T-Shirt no Brasil, que representasse essa essência, pois vemos muitas representando várias outras coisas, mas do Nordeste era muito difícil”, explica Lucas.

Tudo começou com a relação de Lucas com o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), em Mossoró. Ele contou que já há algum tempo, ainda como estudante do IFRN, tinha a vontade de participar da incubadora tecnológica, porém era necessário ter um projeto e passar por todas as etapas do processo seletivo. Em meados de novembro de 2018 começou a projetar a Pissilone com a namorada, Beatriz, mas apenas em 2019 veio a concretização.

Beatriz e Lucas usaram o conhecimento adquirido no IFRN sobre empreendedorismo para apostar em novo negócio

“Encontrei Levi (Administrador da Incubadora) no início do ano aqui nos corredores quando vim buscar meu diploma e ofereci a camisa, só que não tínhamos nenhuma produzida. Apenas o Instagram da pissilone, com dois modelos que postei lá. E aí eu vendi a camisa para Levi, que era com a frase ´oxente, cuscuz é melhor que muita gente´. Isso eu já sabendo da paixão dele pelo cuscuz, rsrs”, conta o empreendedor.

Após vender uma camisa que ainda não existia, Lucas buscou produzi-la para entregar no prazo combinado. O Administrador da Incubadora apresentou o projeto aos coordenadores, credenciando a empresa a partir do Hotel de Projetos.

“Fomos convidados a participar do Hotel de Projetos, que teve a primeira edição este ano, onde nos formamos agora em setembro. A ideia do Hotel de Projetos é justamente preparar ideias, para pessoas que querem. Nossa relação começou aí, através de uma camiseta que não existia, o cuscuz e o nordeste”, explica Lucas.

Atualmente, com 05 meses de atuação apenas pelas mídias sociais, a Pissilone já comercializou mais de 300 camisetas e abriu seu primeiro ponto físico itinerante no dia 18 de dezembro.

“Iniciamos o projeto de uma loja móvel no dia 18 de dezembro. Algo jamais visto em Mossoró, fora de todos os padrões e lançamos nessa semana, que é justamente a semana do aniversário de Luiz Gonzaga e dia nacional do forró, dia 15, então não existia uma data mais oportuna para gente lançar”, comemora.

Com o primeiro ponto físico os jovens buscam aliar a qualidade investida na marca a comodidade das pessoas terem a opção de ver o produto pessoalmente antes de comprar, o que não era possível apenas nas mídias sociais. Para eles, a Incubadora Tecnológica do IFRN teve grande participação em tudo que estão projetando.

“Se eu fosse resumir a importância da incubadora em uma palavra seria: networking. A gente conheceu muita gente que nos proporcionou chegar onde estamos chegando e caminhar da forma que estamos caminhando. Quando a gente chegou no Hotel de Projetos a gente tinha uma ideia, éramos dois jovens sonhadores que planejavam fazer camisas para vender. A gente saiu do Hotel de Projetos com uma empresa na cabeça e CNPJ aberto, porque entendemos que uma empresa não é só uma ideia. Ela precisa de vários outros fatores”, conclui Lucas.

Levi (ao centro) incentivou o casal e deu o suporte que eles precisavam

“Para nós da Incubadora é uma felicidade enorme ver esse trabalho dando frutos. Fico muito feliz em saber que tudo começou quando passei nas salas falando sobre empreendedorismo, despertando esse olhar dos meninos”, ressalta Levi Cunha, Administrador da ITMO, que incentivou o casal desde o início.

O nome genuinamente nordestino, tem uma explicação. “O nome da empresa é uma homenagem que resolvemos fazer a Luiz Gonzaga e os Nordestinos, porque o próprio Luiz Gonzaga costumava falar que o nordestino não fala Ypisilon, ele fala Pissilone, então foi uma referência que pegamos para construir nossa marca e é nosso orgulho”, conta Beatriz Lima.

A Agência HiperLAB é uma ação do Laboratório de Narrativa Hipermídia (HiperLAB), projeto de extensão do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), coordenado pelo Prof. Ms. Esdras Marchezan.

O autor da reportagem é estudante do 7º período do curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo da UERN.

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Agência HiperLAB de Reportagem

O HiperLAB UERN é o Laboratório de Narrativas Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).