Messias Targino vira celeiro de craques potiguares no futebol de salão

HiperLAB UERN
Agência HiperLAB de Reportagem
4 min readMay 2, 2022

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João Vitor Guilherme de Souza — Da Agência HiperLAB/UERN

Para o povo potiguar que acompanha futsal, já não é novidade que Messias Targino, no Rio Grande do Norte, é um celeiro de craques do esporte. Cidade pequena, contando com cerca de 4.600 habitantes, segundo o IBGE, o local surpreende com a quantidade de jogadores profissionais formados na cidade, além dos bons resultados em campeonatos de base e regionais.

Rogério Jales está há alguns anos à frente do futsal messiense, juntamente com outros professores. Autor do projeto “10 na escola, 10 no esporte”, Rogério dedica-se primeiramente a formar cidadãos íntegros, sendo o futsal o esporte para a formação humana de vários jovens messienses.

A formação de caráter e personalidade, juntamente com o bom desempenho escolar, é o principal objetivo do projeto, que busca fazer jus ao poder disciplinador e formação ética das práticas esportivas, indo além do desempenho em quadra, da performance dentro das quatro linhas e da formação de atletas profissionais.

O projeto foi criado em 2015, viabilizado por meio de recursos do programa Criança Esperança. Durou três anos, sendo finalizado por falta de verbas. Em 2021 o projeto foi reativado, e está em vigor até os dias atuais. Foram criadas categorias sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17, em breve será criada a categoria sub-9. Os atletas participaram de campeonatos de escolinhas, tendo alguns chegado às quartas de final e semifinal.

Algumas figuras que se dedicam a instruir os atletas, além de Rogério Jales, são o educador físico Diogo Monteiro, e os atletas Celismar e “Dadá”. O projeto conta com apoio financeiro de alguns empresários messienses, que têm seus negócios tanto em Messias quanto em outras cidades.

A agência NC2 Sports, que tem a sua frente o ex-jogador de futsal, o renomado Neto Caraúbas, que chegou a vestir a camisa da seleção brasileira, também voltou o seu olhar para o futsal messiense. Caraúbas conheceu de perto a prática esportiva em Messias, e hoje, sua agência é responsável pelo agenciamento de alguns atletas da cidade.

Rogério destaca alguns dos motivos que fazem Messias Targino ser diferente em relação às outras cidades do estado quanto a formação de bons atletas. As categorias de base messiense são bem trabalhadas, desde cedo é inserido aos jovens treinos de fundamentos, algo superior ao “mero” “jogar bola”. Outro ponto, é que existem profissionais adequados e que estão dispostos a investir seu tempo no treinamento dos atletas. Algumas destas personalidades foram destacadas anteriormente. Por último, e que acredita ser o mais importante, é a valorização do atleta messiense. Para a disputa de campeonatos, Rogério prioriza a formação de um elenco com jogadores da cidade. Em outros municípios, é mais comum que as equipes busquem compor seu elenco com jogadores de outras cidades.

Fundamental para a prática esportiva, é a competição. Como nem todas as competições acontecem na cidade, é necessário o deslocamento. As personalidades a frente do projeto conseguiram a confiança dos pais dos jovens atletas para levá-los à disputas em diferentes municípios. Um dos sinais do sucesso do projeto, que busca uma formação disciplinadora, é o bom comportamento das crianças e adolescentes quando sob a tutela de seus treinadores.

Guilherme Alves, o Guigui, foi campeão da Liga Nacional de Futsal dos Emirados Árabes Unidos.

Atletas espalhados pelo mundo

Hoje Messias Targino conta com seis atletas espalhados pelo Brasil e pelo Mundo. O jogador Arthur Alves Cardoso defendeu, na última temporada, o Zalgiris Futsal, da Lituânia. Também no exterior, o atleta Hugo Cardoso veste a camisa do Sport Clube União Torreense, de Portugal. Guilherme Alves, também conhecido como Guigui, jogou a sua segunda temporada em Dubai, pelo Al Batayeh, tendo sido campeão da Liga Nacional de Futsal dos Emirados Árabes Unidos.

Em quadras nacionais, Márcio Fernandes, ou “Marcinho”, atua pela Associação de Vacaria de Futsal — AVF, do Rio Grande do Sul. André Ferreira defende as cores do Palmas Esportes, do Paraná. Foi o único que permaneceu na equipe após a reformulação do elenco, responsável pela braçadeira de capitão. E por fim, a jovem promessa Thiago Cardoso, que recentemente integrou a equipe do Missal Futsal, também do Paraná. Rogério Jales acredita no caráter promissor de Thiago.

Em termos brutos, seis atletas podem representar um número pequeno. Mas quantas pequenas cidades têm seis atletas profissionais jogando futsal em alto nível? Vale lembrar que estamos também falando de uma cidade com menos de cinco mil habitantes.

O fenômeno é confirmado pela quantidade de jovens que, inspirados no exemplo de sua terra, demonstram o desejo de treinarem para serem profissionais um dia. Rogério ressalta ainda que, jovens de outras cidades, sentem o desejo de participar dos projetos em Messias Targino. Os atletas profissionais formados “na casa”, que hoje buscam conquistar o Brasil e o Mundo, demonstram indiretamente que é possível que mais messienses alcancem os seus objetivos de ganharem a vida por meio do futsal.

Desacreditado, Rogério Jales criou o projeto “10 na escola, 10 no esporte”. Seu objetivo inicial era a formação de cidadãos íntegros, como já foi dito. A formação de atletas profissionais é tido como consequência, embora o próprio Rogério também esteja envolvido em articulações que ligam os jogadores aos clubes.

É óbvio que nem todo aquele que quer ser jogador de futsal, ou futebol, conseguirá, e não há demérito nenhum nisto. Tanto as oportunidades são escassas, como toda criança que gosta do esporte, um dia sonhou em ser jogador profissional. Porém, as chances aumentaram. Os atletas messienses hoje são frequentemente observados, e têm mais próximos de si, um canal que lhes pode auxiliar a chegar às quadras e campos profissionais. Na “pior” — entre muitas aspas — das hipóteses, a cidade contará com inúmeros cidadãos honestos, formados por meio do esporte. O profissional é secundário diante da transformação que o esporte pode proporcionar no íntimo do ser humano.

Reportagem produzida para a disciplina Jornalismo Esportivo, do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Orientação: Profª Drª Lígia Coeli.

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O HiperLAB UERN é o Laboratório de Narrativas Multimídia do curso de Jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).