O paraíso: A > B > C

Rita Serra (A costureira)
histórias da serra
2 min readJun 4, 2021

Dos três modos de trabalho decorre o paraíso e o inferno.

O paraíso é a atividade humana que flui de nós para o mundo.

Que flui de nós para o cuidado de nós, um nós cada vez maior, ou mais forte, ou mais íntimo.

Que flui de nós para um nós anónimo, uma sociedade anónima feita de pessoas como nós, só que ainda não conhecemos, ou ainda não nasceram.

Ou mesmo de nós para outros, outros que mesmo assim compartem connosco pelo menos a capacidade de nos apreciar, ou apreciar os nossos produtos. Um público.

Porque o paraíso é sempre essa extensão do nó que somos nós mesmos. Esse botão primordial, esse novelo com sentimento de si, que experimenta e valoriza.

O inferno, em contraposição, é a morte em vida, a zombificação, o núcleo vazio, rodeado de carne.

O inferno é o comando de C.

O inferno é C > B > A.

O inferno é sermos sempre ameaçados de existir.

O inferno é onde o existir é um atrevimento tão insuportável que temos de nos retirar do mundo.

Quando C comanda, B é escravizado.

Alguém acredita que os seres escravos são capazes de cuidar?

Acreditamos no cuidado por escravos?

Então acreditamos no trabalho não remunerado.

Quando C comanda, B é fortemente atacado — é o trabalho de nós.

Quando C e B atacam, A pode desaparecer.

Ficar um empty core.

Um zombie.

https://amywilentz.com/from-the-newsstands/response-to-i-walked-with-a-zombie/

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