Quem faz: Gabriel Toueg, jornalista

Meu nome é Gabriel Toueg, sou jornalista. Fui correspondente no Oriente Médio, baseado em Jerusalém e Tel Aviv, por sete anos. Atuei como editor de importantes jornais brasileiros. Colaboro com veículos da imprensa brasileira em diversos temas desde pelo menos 2012.

Desde 2012 tenho mergulhado nas histórias de adoções ilegais de crianças brasileiras por casais estrangeiros promovidas especificamente pela quadrilha de Arlete Hilu. Dar uma resposta a essas pessoas — filhos adotivos, mães biológicas — tem sido uma missão pessoal.

Muita gente me pergunta: mas por quê?

Porque acredito que todos temos direito a conhecer nossa própria história, de onde viemos, quem são os que vieram antes de nós, por onde estiveram, como pensavam, pelo que passaram em sua trajetória. Uma história de adoção ilegal é uma história que sequestra dessas pessoas esse direito.

Porque morei em Israel, o país para o qual a imensa maioria dessas crianças foi levada. A estimativa é de mais de 3 mil, mas o número preciso só quem pode dizer é quem esteve envolvido. Conheci por acaso uma dessas histórias: era uma amiga minha, israelense no agir, com uma brasilidade que ela não sabia entender. Quando soube que fora adotada no Brasil, as respostas começaram a vir. Mas ela jamais encontrou a mãe adotiva, por fundo que tenha ido na pesquisa e nas buscas.

Faço isso também porque eu mesmo busco as minhas raízes. Minha história é diferente: sou neto, sobrinho e filho de pessoas brevemente apátridas após deixar sua terra natal, o Egito. O êxodo deve ter deixado nelas um trauma tão profundo que ninguém — nem meus avós, nem minha tia, nem mesmo meu pai — toca no assunto até hoje. Absolutamente nada. Fui procurar entender a história deles por meio da história de outras centenas de pessoas na mesma situação.

As crianças, hoje com 30, 40 anos, não têm a sorte que eu tenho de poder buscar em outras pessoas a própria história pessoal. Por isso assumi a missão de pesquisar tanto quanto eu puder, no meu tempo livre, para dar a elas a maior quantidade possível de pistas sobre seu passado.