Que sejam felizes para sempre

BRIO
Histórias pra Frente
3 min readJul 7, 2015

Um é espirituoso. Quando você olha pra ele todo concentrado, barba cheia, óculos de grau, o cenho franzido, irritado com qualquer injustiça ou imbecilidade, mesmo aquela mínima, provocadora de um verdadeiro mau-humor, dá até medo. Não foram poucos os relatos de quem, numa primeira vez por perto, sentiu-se intimidado com aquele paulistano de 1,85m. Bobagem, viu? Por trás do semblante está um cara sensível, doce, pronto a se desarmar diante de uma simpatia, um oi, obrigado, aquela anedota ou piada, da conversa, de tudo aquilo que vier do coração e com sinceridade.

Não que isso o faça esquecer de suas preocupações — consigo mesmo, com a mulher amada, a família de dois gatos e uma cachorra, os amigos-irmãos, as pessoas do bairro, da cidade, do mundo. Os encontros amenizam a dor das durezas da vida, claro. Dão força pra seguir em frente, pode crer. E inspiram quem, como Raul Andreucci, de 30 anos, escolheu uma profissão capaz de derrubar presidentes. Não importa presidentes de que, com que nomes, todos conhecemos crápulas capazes de passar por cima de qualquer um por qualquer coisa, inclusive as que mais prezamos, como, para esse também Mestrando em Ciência Sociais, o futebol.

O outro é um garoto calado. Tem um ar ocupado e de enfado, que alguns dizem blasé — de barba e óculos também, indispensável à fachada pseudo-intelectual da moda. Como bom jornalista, passa parte das suas noites no boteco — às vezes sozinho, como bom blasé. Mas é um parceiro ruim de bar. Não presta lá muita atenção na conversa se o assunto não toca em cheio sua mente e seu coração. Caso contrário, silêncio e um aceno, um comentário sem graça.

Tulio Kruse é um moço instigado atrás do jeito quieto. Se não fala, é porque está pensando nas histórias que quer contar. Recém-formado, 24 anos, natural de Mogi das Cruzes, de volta a São Paulo há menos de um ano após terminar sua graduação em Florianópolis, está cheio de fôlego.

No início de 2014, Raul e Tulio não se conheciam. O encontro se deu por meio de um site da internet, desconhecido naquele momento — hoje ainda desconhecido, mas estamos na luta para mudar essa realidade. Não, eles não procuravam sites de namoro (ambos garantem estar muito bem com suas respectivas). O que uniu os dois jornalistas foi a paixão pela reportagem.

Naquele momento, Raul queria “vender” para o BRIO — jargão jornalístico para apresentar uma ideia de reportagem — a história sobre como a construção de uma arena no Amazonas para a Copa do Mundo não fazia muito sentido, já que o futebol local praticamente não existia. Raul havia passado semanas entrevistando jogadores, cartolas, torcedores, e correndo alguns riscos, já que lidou com gente armada e dinheiro vivo no banco de trás do carro de um dos seus entrevistados.

Alguns dias depois, Tulio também entrou em contato com o site. Estava no meio de uma investigação sobre como a cadeia produtiva do aço que era utilizado nas estruturas do estádio estava repleta de suspeitas de irregularidades e investigações sobre possíveis crimes ambientais e uso de mão de obra análoga à escravidão. Ambos tinham um objeto a ser desvendado: a Arena da Amazônia.

Raul e Tulio se conheceram por meio do BRIO e iniciaram uma parceria de repórteres. A Copa do Mundo passou. O BRIO atrasou o seu lançamento. Mas os dois não perderam a fé no nosso site, apesar de perderem a cada dia um pouco da fé no futebol brasileiro. No microcosmo do Amazonas descobrimos como a mistura entre bola e política afeta o futebol brasileiro. Também aprendemos como as decisões tomadas nos altos escalões da Fifa ou da CBF, como a construção do estádio, afetam a vida de milhares de pessoas.

A investigação continuou até o mês passado e agora os dois repórteres brindam o leitor do BRIO com uma história sobre A Selva do Futebol. Estamos felizes que o primeiro casamento jornalístico do BRIO tenha dado certo. Que venham muitos outros. Que sejam felizes para sempre.

No país do futebol, o futebol é uma selva.

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