Um convite aos contadores de histórias

Breno Costa
Histórias pra Frente
6 min readJun 9, 2015

Isto não é um manifesto, mas um convite a todos os jornalistas e interessados em boas histórias.

Falar aqui dos problemas do jornalismo, da crise da mídia impressa e da forma de se produzir informação seria cair na repetição de argumentos já apresentados. Por isso, é preferível focar somente sobre possibilidades de solução.

Uma delas — uma janela, como apontou meu sócio Fernando Mello — envolve o BRIO, site de grandes reportagens que acabamos de lançar. Antes de continuar aqui, podem dar uma olhada inicial lá: http://brio.media/pt Degustem e formem sua própria opinião.

Nosso plano inicial, agora em execução, é publicar uma história a cada duas semanas. Para o lançamento, decidimos colocar logo cinco à sua disposição, tudo de graça — além de um projeto especial coordenado pelo Fernando Mello, também um de nossos editores, que joga luz sobre o uso de recursos bilionários do BNDES na América Latina, impactando diretamente a vida da população desses lugares.

Um comboio de vigilantes em Michoacán, México, na história Lobos vs Coiotes. Foto: Erik Meza

Já estamos estudando maneiras de ampliar a frequência das nossas reportagens, mas sugestões sobre como fazer isso de maneira sustentável serão muitíssimo bem-vindas.

Temos, tecnicamente, o potencial de publicar tantas histórias quanto forem necessárias. Mas queremos aquelas que provocam em vocês, ao terminar de ler, uma vontade genuína de indicá-las para algum amigo, porque sabem que estão indicando algo realmente diferente, surpreendente.

Vocês podem argumentar que jornais e revistas já produzem boas histórias. Sem dúvidas. Mas não em uma frequência previsível. Eventualmente, um veículo pode vir com “A” reportagem, aquela merecedora de todos os louros. Na maioria dos casos, no entanto, por mais gana que tenham, repórteres e editores fantásticos esbarram em um formato inflexível, de prazos exíguos e de restrições de investimentos que tendem a eliminar aquela sensação de queixo caído no leitor.

Não falo necessariamente de um furo monumental que vá derrubar um presidente ou levar empresários à prisão (embora isso também esteja naturalmente no nosso escopo), mas de histórias com H maiúsculo.

Falo de histórias com drama, com potencial narrativo de fato, cinematográfico, com personagens reais, descrições e material audiovisual que consigam transportar o leitor para o ambiente onde ela se desenrola. E isso abrange tudo: política, esportes, meio ambiente, economia, religião, urbanismo, crime, economia, mundo corporativo, cinema…

Matheus Leitão durante a produção da saga A Espera. Foto: Eduardo Gomes

Se eu, como responsável pelas histórias do BRIO, tiver de citar uma palavra que buscamos repelir do léxico que o público pode nos impor é: chatice. Declaramos guerra ao modo maçante e careta de fazer jornalismo, valorizador de microcosmos, tribuna do declaratório, dependente de autoridades, propulsor de um círculo vicioso da informação, em que só é notícia aquilo que já é notícia e onde o filtro do que realmente merece ser publicado desaparece dia após dia, até o momento em que o tsunami do momento se transforme em marola.

Também rejeitamos a postura jornalística pseudointelectual, que entende que qualidade tem de estar associada a algum grau de hermetismo. Mas não confunda isso com jornalismo alienado. Pelo contrário, buscamos trazer à tona histórias que estimulem a reflexão sobre temas do momento a partir de novos ângulos e que também coloquem em perspectiva assuntos que vocês sequer faziam ideia de que estavam no limiar do estado de ebulição. Queremos trazer novos ângulos para assuntos já em debate e, paralelamente, inaugurar novas conversas.

Para isso, queremos formar parcerias com os melhores escritores, os melhores fotógrafos, os melhores videomakers. Queremos dispor do que há de mais inovador e ousado na indústria dos contadores de história. Temos certeza de que muitos de vocês, produtores de conteúdo, têm um grilo falante que os lembra diariamente que aquilo que vocês fazem pode ser muito bom, mas não é o suficiente.

É aí que entramos. Os primeiros feedbacks espontâneos que temos recebido apontam o BRIO como uma iniciativa de jornalismo independente. Numa análise rasa, sim, de fato. Mas é mais do que isso. Perseguimos um jornalismo livre. Livre de rótulos, livre de amarras para a criatividade, livre de partidos, de governos, da correria.

Mãe acompanha filho rumo a um pau de arara no Ceará, na história Eles Fizeram Foi Morrer. Foto: Jarbas Oliveira.

Nesse modelo, o valor da pauta é medido pelo grau de brilho nos olhos que ela é capaz de gerar. Quando você lê um texto e fala “puta história”, bom, eis aí uma reportagem que o BRIO publicará com gosto. Tudo isso associado a um modelo econômico que valoriza o papel de quem produz a história, numa relação bilateral. Eliminando intermediários, a maior parte da receita de venda vai para você, autor.

Não importa se quem nos propõe a história é um estudante de jornalismo, um jornalista freelancer ou um premiado jornalista empregado em alguma das principais redações do país. Estamos abertos a negociar com todos, livremente. E também não teremos constrangimento em levar as nossas próprias ideias para que jornalistas que admiramos possam executá-las.

Importante deixar claro que liberdade não é sinônimo de falta de controle. No processo de construção do site, ficamos em dúvida. Seria interessante abrir as comportas do nosso publicador para qualquer história que atendesse critérios mínimos de razoabilidade jornalística? Ou valeria o esforço de analisar detidamente cada proposta apresentada para estabelecer um filtro que permita que, no longo prazo, BRIO seja reconhecido como um site de grandes e ótimas histórias (na acepção mais ampla da palavra)?

Decidimos pela segunda opção. É um desafio. Demanda horas de avaliação sobre propostas que, eventualmente, podem até nem ser produzidas. Os critérios a serem analisados estarão evoluindo a todo momento (os atuais estão aqui), mas há pontos bem objetivos, como espaço no nosso calendário, custos envolvidos (buscamos ser generosos com as ideias que fazem nossos olhos brilharem) e eventual repetição de temas.

Fomos à Índia e ao Tibete contar o que se passa com a sucessão do Dalai Lama. Foto: Zishaan Latif.

Isso tudo pode parecer pretensioso, e é. Se não houvesse pretensão, teríamos permanecido em nossos empregos, buscando fazer o chamado “bom jornalismo” nos principais jornais e revistas do país. Pode ser que tudo isso naufrague daqui a algum tempo, mas temos um otimismo ancorado na percepção de que boas histórias sempre irão gerar interesse.

Queremos, no BRIO, permitir que essas histórias sejam contadas de maneira plena. Três meses de apuração, pelo menos, mais um mês de pós-produção. No caminho, edição rigorosa, checagem independente de fatos, revisão minuciosa. Até a publicação, com campanhas de marketing que atinjam o público que precisa ser cutucado para aquela história específica.

Sabemos, do ponto de vista de marketing, que nem todas as nossas histórias interessarão de imediato a todos os públicos. Mas o que garanto, da área de conteúdo, é que, uma vez que você tenha lido qualquer uma de nossas histórias, terá a sensação de que valeu a pena, de que seu tempo não foi desperdiçado. Na pior das hipóteses, você terá informações interessantes para jogar conversa fora no bar.

Nesse processo, humildemente pedimos paciência. Somos uma equipe pequena (somos cinco co-fundadores, mas nunca estivemos todos juntos num mesmo lugar), que está há dois anos se esforçando de todas as maneiras para transformar o projeto em realidade. Estamos engatinhando. Queremos inovar no formato e no conteúdo, cada vez mais. Nosso lema, como uma boa startup iniciante, é testar, testar e testar. E, no caminho, acertar e errar — mas sempre com brio.

Jornalistas do mundo, uni-vos e contem suas histórias!

Se interessaram? Podem mandar sugestões ou outras dúvidas para publique@brio.media

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Breno Costa
Histórias pra Frente

Jornalista, responsável pela newsletter Brasil Real Oficial, de acompanhamento das ações concretas tomadas pelo governo Bolsonaro.