Uma janela para o novo mundo do jornalismo

Fernando Mello
Histórias pra Frente
4 min readMay 27, 2015

Machado de Assis, o mais genial dos escritores brasileiros, já ensinava por meio do seu Brás Cubas que a melhor forma de compensar uma janela fechada é abrir outra. No momento em que o jornalismo passa por transformações e incertezas, nosso grupo de repórteres, editores, designers, desenvolvedores e engenheiros — entre brasileiros, australianos, americanos e até um francês, baseados no Brasil e nos Estados Unidos — lança um projeto que pretende ser uma janela de oportunidades. Por um lado, para consumidores interessados em informação relevante e aprofundada. Por outro, para jornalistas e produtores de conteúdo que desejam fornecer ao mundo produtos de qualidade. Um grupo depende do outro. E BRIO, que inicia hoje sua jornada, depende de todos eles.

Este texto não é escrito com a pena — ou melhor, o teclado — da galhofa (tão comum entre nós jornalistas, costumeiramente irônicos) ou a tinta da melancolia (ainda mais comum, especialmente em momentos como o atual). São palavras de quem tem a vontade de arriscar, testar, apresentar possíveis soluções e até mesmo errar antes de acertar e oferecer algo relevante para a vida de consumidores e produtores de informação.

BRIO se propõe a facilitar o trabalho de criação dos jornalistas, por meio de adiantamento de custos, processos rigorosos de apuração e edição, tradução de textos para o inglês e português, e uma campanha específica de marketing e relações públicas para cada título produzido in-house, ou dentro da nossa casa, como gostamos de brincar. Pelo modelo do BRIO, que consideramos ser justo para todos, os autores ficam com 55% do lucro das vendas, enquanto nós ficamos com 45% para manter as operações.

É um trabalho árduo, muitas vezes tenso (já que não temos contato pessoal diário), mas cujo objetivo é apenas um: permitir que os autores produzam algo de que possam se orgulhar, atraindo cada vez mais leitores, ou melhor, consumidores.

Consumidores porque os produtos do BRIO não são apenas textos — trabalhado à exaustão em parceria com os repórteres. BRIO é uma plataforma porque busca encontrar a melhor linguagem para cada material, especificamente, como se costurássemos algo cuidadosamente. Por isso mesmo, temos vídeos, artes animadas, áudios, ensaios fotográficos etc. Tudo para tornar a experiência de consumir informação aprofundada muito mais prazerosa.

No último ano, sentimos na prática — entre muitas crises para se criar uma empresa e muito frio na barriga para torná-la real — a receptividade dos autores. Mesmo antes do BRIO entrar no ar, estruturamos a primeira parte do tripé que sustenta a empresa (freelancers, consumidores ávidos por informação de qualidade e nossa equipe própria).

Trabalhamos com mais de duas dezenas de pessoas em todos os continentes — pelo menos outra dezena já nos procurou para iniciarmos parcerias. Neste lançamento, temos jornalistas que, para contar as histórias que publicamos a partir de hoje, passaram pela Índia, China, México, Estados Unidos e, claro, Brasil. É uma mistura de juventude e experiência, unindo agraciados com os mais importantes prêmios do jornalismo, como o Pulitzer, a jovens talentos que se espalham aos montes pelo mundo. Todos confiaram no BRIO, uma plataforma desconhecida.

Eles compreenderam que estamos dispostos a dar o suporte necessário para que os parceiros possam correr atrás das histórias pelas quais têm paixão, curiosidade e desejo de se aprofundar. Não é um trabalho simples e por isso mesmo atraímos jornalistas tão qualificados. Estamos falando de pessoas que não se conhecem previamente, pessoalmente, que falam línguas variadas, estão em países diferentes e distantes. Os problemas são práticos e muitas vezes banais, como organizar uma reunião com um fotógrafo no interior da Índia com um dos nossos editores no Brasil e um repórter nos Estados Unidos.

Agora, chegou a hora de passarmos da criação de uma plataforma tecnológica e das conversas apenas com nossos parceiros para o encontro com o mundo. Das velhas práticas como ligações telefônicas ou encontros pessoais, até o uso de algoritmos e ferramentas de internet, já entramos em contato com interessados em compartilhar nossas histórias. Medium é uma comunidade de leitores e, por isso mesmo, um ator fundamental e um aliado de primeira hora nessa empreitada.

Se queremos facilitar a produção de conteúdo de qualidade e também a forma como esse conteúdo chega aos públicos específicos, também queremos fortalecer comunidades que compartilhem e discutam temas, o que é cada vez mais necessário em um mundo no qual a democracia é a principal regra do jogo, mas onde violência, ondas autoritárias, preconceitos e a falta de informação dificultam uma conversa respeitosa e proveitosa.

Eis a nossa promessa: encontrar os autores certos para escrever as histórias certas e levá-las a um público certo. Somos meio, não o fim. Quem decidirá o destino do BRIO são os produtores que apresentam histórias necessárias para o mundo e, por que não?, capazes de dar prazer. Quem decidirá o destino do BRIO são os consumidores que ainda têm interesse em se informar de forma aprofundada e gostosa.

BRIO está no ar. Sejam bem-vindos. Nossas portas e janelas estão abertas.

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