Exponencial x Linear: discussões no 2° dia do SU Summit Brazil 2019.

Daniel Cobianchi
6 min readJun 13, 2019

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Chegou ao fim um dos eventos mais relevantes de inovação e tecnologia do Brasil em 2019: o SingularityU Brazil Summit. Ontem, compartilhei os insights do primeiro dia e, agora, trago o que foi apresentado e debatido no segundo e último dia do evento.

A arena no 2º dia do SU Brazil Summit 2019

A tecnologia é exponencial. E o humano, linear.

O dia começou com os 50 minutos intensos de Jason Silva, apresentador da série indicada ao Emmy, "BrainGames", da National Geographic. “Nós não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”, diz Jason, que reforça que a nossa visão sobre o mundo está diretamente relacionada à maneira como nós o abordamos. Ou seja, o mundo, para mim, é diferente do mundo que você vê, que é diferente do mundo que o outro vê… e por aí vai.

A tecnologia sempre existiu. O que mudou foi a velocidade de evolução dela. Vivemos hoje uma evolução muito acelerada e é justamente por isso que temos tanta dificuldade de acompanhar tudo. A tecnologia é exponencial (trajetória de crescimento das tecnologias que se aplicam à Lei de Moore — é quando a potência e/ou a velocidade dobra a cada ano e/ou o seu custo cai pela metade) e o nosso pensamento é linear (uma linha reta).

“A tecnologia é um mecanismo o e escassez é contextual. Com a tecnologia, o jogo muda. E a economia muda.”, conta Jason Silva.

Jason Silva abrindo o 2º dia do SU Summit Brazil 2019

Para Jason, nesse novo contexto de abundância, uma pessoa bilionária não é aquela que acumula 1 bilhão de dólares, mas aquela que consegue impactar positivamente 1 bilhão de pessoas. E o conselho dele foi simples: ser empático, indo além da nossa própria visão, e quebrar os filtros para dar espaço a novos conhecimentos. “Quebrar paradigmas é terapêutico. Maravilhe suas capacidades.”, finaliza.

Esperanças e exageros da Inteligência Artificial

O tema transversal em todas as palestras foi, sem dúvidas, a Inteligência Artificial (I.A.) — uma das tecnologias exponenciais que, de forma bem simplista, pode ser entendida a criação de máquinas capazes de pensar e aprender. E a Nathana Sharma, Professora Singularity University e Diretora Jurídica da Labelbox, foi a convidada para falar exclusivamente do tema.

Para a pesquisadora e empreendedora, a I.A. é, atualmente, como a eletricidade foi no passado, já que é uma tecnologia que está — e vai ainda mais — mudar todo o mundo e, até 2030, gerar um impacto de 13 trilhões de dólares nos negócios. “Você acha que a I.A. vai roubar o seu emprego?”, perguntou Nathana, e apenas algumas mãos se levantaram na plateia. E foi diante dessa resposta que ela reforçou que a tecnologia não toma o espaço, mas aumenta a capacidade dos humanos e gera novas oportunidades (de negócio, de emprego e de visão).

E já que “dados são o novo ouro”, Nathana sugere 5 passos para tornar a I.A. uma vantagem competitiva nos negócios:

  1. Defina um problema com alto potencial de retorno pro negócio;
  2. Reúna dados relevantes;
  3. Crie uma estratégia para numerar e organizar os dados;
  4. Treine um modelo de Machine Learning para resolver o problema;
  5. Itere (teste e melhore repetidas vezes).

Pra fechar, Nathana falou sobre o impacto das tecnologias e como a Inteligência Artificial “está no coração” de todas elas. Podemos ver pelo gráfico abaixo:

Fonte: ARK Investment Management LLC, 2019

Expandindo horizontes

Uma das palestras mais aguardadas por mim — e por outras várias pessoas, já que foi a última do última dia — foi a do John Hagel, que é copresidente do Center for the Edge, da Deloitte. Além de ser empreendedor, John é reconhecido por seus artigos publicados na Harvard Business Review, dos quais dois foram considerados um dos melhores artigos da revista.

O tema central de John é inovação corporativa: como as forças a longo prazo estão remodelando os negócios, como os pequenos eventos podem provocar uma grande disrupção e como podemos lidar com a pressão do mundo tão incerto e veloz.

Naturalmente, somos avessos aos riscos e essa mentalidade não nos ajuda a aproveitar as oportunidades. O grande desafio é lidar com essas reações naturais e, por isso, precisamos expandir nossos horizontes. E John nos ajuda sistematizando isso com três óticas: olhar adiante; olhar ao redor; e olhar para dentro.

Olhar adiante: para longe, para o futuro.
O censo comum sobre futuro nos direciona para algo muito distante, que não sabemos como é e que "nunca vai chegar". É aqui que John apresenta a visão de futuro sob dois horizontes — o que chama de “Zoom out/Zoom in”. Zoom out é um olhar para daqui 10 a 20 anos. É importante para sabermos o que queremos ser enquanto negócio. É aqui também onde as grandes empresas investem mais tempos (os famosos planejamentos estratégicos de longo prazo). Mas esses planejamentos só fazem sentido quando conectamos essa visão de longo prazo à de curto prazo, que é o Zoom in — uma visão de 6 a 12 meses e a definição de duas a três coisas práticas que são necessárias fazer rumo à visão de longo prazo. É dessa combinação que empresas como a Microsoft, como John citou, obtêm êxito.

No esquema abaixo conseguimos compreender a estratégia apresentada:

Fonte: Zoom out/zoom in. An alternative approach to strategy in a world that defies prediction

Olhar ao redor: mobilizar parceiros
É bem comum uma outra atitute nas grandes empresas: identificar uma oportunidade e começar a trilhar uma jornada solitária. “Afinal, se realmente é uma oportunidade, é melhor que eu chegue primeiro e sozinho, certo?”, podemos pensar. Fazer sozinho ou comprar: essas são estratégias de crescimento tradicionais. Para John, existe um terceiro caminho, que é o do crescimento alavancado. É quando uma empresa se conecta a parceiros/terceiros para agregar e capturar valor. “No momento de rápidas mudanças, podemos cair em estratégias reativas. Mas parceiros podem nos ajudar a suportar essas mudanças”, explica o pesquisador. O exemplo citado aqui foi o da Visa, quando o fundador Dee Hock se aproximou de bancos (primeiramente do Bank of America) para criar uma solução que centralizasse uma dor de todos. Se aproximando dos bancos, olhando ao redor e adiante, Dee foi capaz de motivar e mobilizar parceiros, criou uma rede e alavancou o próprio negócio.

Olhar para dentro: reconhecer emoções
A terceira forma de expandir horizonte é olhando para dentro de si. Para John, passamos pouco tempo pensando sobre a nossa real motivação e sobre a motivação das outras pessoas. E não estamos falando de persuasão, mas de um interesse genuíno em conhecer mais das emoções, já que elas motivam nossas ações.

“Com o tempo, descobri que tem menos a ver com estratégia, e mais com psicologia. Se não entendemos o que nos motiva, teremos dificuldade em atingir o que precisamos. E falando em emoções, precisamos falar sobre o medo. Ele é a emoção dominante nas organizações: o mede de errar, de ser julgado, de ser demitido. O medo pode ser visto como uma fraqueza e isso é um grande problema. Precisamos, então, minimizar o medo e expandir a esperança, já que ela nos ajudará a aproveitar as oportunidades exponenciais que estão aí”, afirma.

Pra fechar, o pesquisador e empreendedor falou sobre “vulnerabilidade”. Uma discussão que tem ganhado cada vez mais relevância e que foi cunhada pela professora e psicóloga Brené Brown (assista o seu especial na Netflix aqui). Para John, estamos acostumados a considerar um líder forte aquele que tem as respostas para todas as perguntas, mas ele acredita que, para o nosso contexto atual, a força de um líder está ligada à capacidade de fazer perguntas (e não de responder!), e mais: admitir que não tem as respostas e pedir ajuda para encontrá-las. “O elemento principal da confiança é mostrar a vulnerabilidade e pedir ajuda. Precisamos reunir pessoas para lidar com essas oportunidades exponenciais já que elas são parte do que estamos vivendo”, aponta.

Podemos olhar adiante, ao redor e para dentro. Mas começamos a aprender de fato quando fazemos. O real aprendizado está na ação — e foi com esse convite que John finalizou.

Hoje o dia foi denso e igualmente empolgante. E isso porque eu nem falei do meu tema favorito e amplamente discutido por aqui: o futuro da comida. Eu realmente acredito que podemos mudar o mundo começando pelo nosso prato.

Amanhã, farei o último post pra compartilhar mais novidades e insights do SU Summit Brazil 2019, agora com um único foco: a alimentação.

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