As sobras

E eu aqui aos pedaços enquanto o cigarro termina de queimar no cinzeiro cheio, as esperanças mais mortas do que as flores recebidas no dia de nosso aniversário, o carpete manchado pelo vinho avinagrado, a dor impregnada nas paredes cheias de infiltrações, o ar pesado do abandono e o cheiro de coração quebrado. Nada mais resta do que um dia chegou a ser promissor, a morte não foi um ataque fulminante, definhamos juntos, tornamo-nos estranhos que viviam sob o mesmo teto. Chegamos ao fim sem um tiro de misericórdia e só restou um silêncio amargurado.

E o cigarro queimou até o filtro enquanto eu tentava colar os pedaços do que ainda restava de mim.