Miopia e astigmatismo

Mariana Costa
historietas
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3 min readJul 8, 2016

Eu não sei ao certo quando que comecei a ter problemas de visão. Só percebi que aquilo estava me fazendo mal — sentia muitas dores de cabeça, na época — em 1998, quando eu estava na 6ª série. Eu sempre sentei nas primeiras carteiras pra poder enxergar bem o que estava escrito no quadro-negro, porém, minha turma era infernal e tiveram que mapear a sala. Acontece que eu era bem tranquila e não ficava de bate-papo e, fatalmente, me colocaram no fundão.

O motivo de não conversar na aula não era porque eu gostava de estudar, mas por odiar a escola e querer me ver livre daquilo o mais rápido possível. Por não promover o caos durante as aulas de Ciências ou qualquer outra, fiquei na última carteira da segunda fileira. Minha vida piorou muito, era dificílimo enxergar o que os professores escreviam no quadro, eu tinha que copiar dos colegas e sentia muitas dores de cabeça por forçar demais a vista. Resultado, minha mãe me levou ao oftalmologista e fui diagnosticada com miopia e astigmatismo. Foi assim que comprei meu primeiro par de óculos.

A primeira vez que os coloquei no rosto, nem conseguia andar direito e levei um tempo para me acostumar, devia ter uns 11 ou 12 anos. Era muito estranho enxergar as coisas de longe com todos os detalhes, mas sempre tem uma resistência, porque existem crianças muito pentelhas que enchem o saco de quem é diferente delas. Nessa época, eu só usava durante as aulas e para assistir de TV ou ir ao cinema. Na hora do recreio, tirava pra poder jogar bola ou correr de forma desembestada pelo pátio do colégio.

Depois de um tempo, passei a usar em tempo integral. E foi assim até 2002, quando comecei a usar lentes de contato, porque cansei de usar óculos. Mas era uma dificuldade colocar lentes todos os dias. Chegou ao ponto em que desisti e voltei a usar os óculos em tempo quase que integral, isso deve ter uns dez anos.

Há algumas noites, sonhei que tinha perdido meus óculos e foi muito desesperador. Acordei ofegante, olhei para o lado e lá estava eles perto da cabeceira da minha cama. Muitas vezes, vou dormir sem tirá-los ou entro no banho e só lembro que estou usando quando embaça ou uma gota cai na lente. Não tem jeito, eles fazem parte de mim, são extensões do meu corpo. Me sinto incompleta e aflita quando não encontro um par assim que abro os olhos. Tenho três pares de óculos, mas sempre dou um jeito de esconder todos. O alívio que sinto quando encontro algum deles em cima da mesa da sala é incomparável.

Quando estou de lentes de contato, repito o gesto típico de ajeitar os óculos e algumas vezes os coloco mesmo assim, só percebo que não preciso deles porque a vista fica embaçada. A força do hábito é enorme e eu gosto deles. Muitos me perguntam se não penso em fazer cirurgia de correção e sempre respondo: “viva os óculos!”.

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Mariana Costa
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Jornalista, fotógrafa e finjo que escrevo nas horas vagas e nas ocupadas também