Te dou a fórmula: propósito + contexto + autonomia

Ana Julia Ghirello
HoneycombLAB
Published in
4 min readDec 2, 2015

Tem sido uma reflexão recorrente pra mim a forma de trabalho dentro de empresas, como funcionam novas organizações e como experimentar novos modelos de colaboração.

Hoje li um artigo excelente da Camila Haddad. Cito uma passagem:

"Nesse mundo de escassez, ser bem sucedido implica em ter reservas de tudo aquilo que pode vir a faltar. E, se tudo passa pelo dinheiro, significa ter dinheiro suficiente para acessar todas essas coisas. É ser independente. É vencer sozinho. É não precisar da ajuda de ninguém."

Me remeteu novamente a maneira como as organizações estruturam seu modelo de trabalho. E ao poder. À noção de que ter acesso a tudo aquilo que pode vir a faltar (que vem de ter o salário mais alto) é ter poder e controlar. Saber o que vai acontecer e ditar como as coisas devem ser feitas.

Isso, infelizmente, é mais regra do que exceção na maioria das organizações.

Até naquelas que, da porta pra fora, dizem contribuir para uma nova economia, mas que da porta pra dentro são mais focadas em quem tem mais, cargos, controle e poder do que em seu próprio propósito e em como isso impacta a vida das pessoas.

Semana passada fui convidada a palestrar no evento do Man in the Arena. O tema era Cultura em empresas e pensei muito em tudo isso novamente, no que já experimentei e senti que deu certo (desde os tempos de bomnegócio.com até hoje com a abeLLha e GoodPeople), no que eu observo e entendo como ultrapassado e no que eu tinha pra falar pra tanta gente incrível que estava naquele auditório.

À medida que escutava as histórias de outras empresas e como eram suas culturas (Sergio Herz da Livraria Cultura, Eric Santos da Resultados Digitais, Paulo Lima da revista Trip, Diego Reeberg do Catarse, Edmour Saiani pra citar alguns) reforcei a noção de que não sou só eu que falo muito sobre propósito e autonomia.

Todos ali construíram isso em seus times e empresas. Um foco incrível nas pessoas como ponto central do negócio.

Nas minhas reflexões, encontrei um outro componente que vai muito bem ao lado de propósito e autonomia: contexto.

Pra mim funciona nessa ordem: Propósito, contexto e autonomia. Mas nada vai funcionar se um dos 3 não estiver presente.

Vou explicar:

Propósito

O porquê sua empresa existe e como isso faz o mundo melhor (porque não adianta tuchar coisas desnecessárias pras pessoas. Isso aí não ta funcionando mais). Na maioria das vezes o propósito é muito ligado ao fundador e à sua busca pessoal, ao que acredita, a que caminho deseja trilhar e como deseja contribuir para o mundo. É o sonho e é o que vai atrair outros na mesma frequência, outros que buscam o mesmo sonho.

Contexto

Uma vez que se tem o sonho, vai ser muito difícil materializá-lo sozinho. Contexto é dividir esse o propósito com outros que te complementam, que podem fazer muito melhor a parte que você não domina. Que podem te ensinar e aprender com você.

É conectar o propósito de cada um com o propósito do negócio. É se perguntar sempre: será que o que buscamos alinha com o que cada um busca para si?

É dividir responsabilidades e entender que todos juntos compõem o sonho e não essa noção limitada de que os outros executam (pois você paga salário) para que seu sonho seja realizado.

É simples, mas tem muita gente que não percebeu isso ainda.

Pra que isso aconteça é importantíssimo clareza no papel de cada um, transparência no todo e em tudo que acontece, comunicação não-violenta, disciplina, pensamento coletivo e escutar. Este último talvez o mais difícil, pois esse tipo de contexto não se cria ditando e sim construindo juntos.

Autonomia

Se o porquê de tudo está claro, existem talentos complementares, está definido o papel de cada um, assim como os acordos, não tem porque ficar tentando ditar o que nem como cada um deve fazer o que precisa ser feito.

O conceito de que você precisa colocar uma pessoa pra gerenciar (ser babá) de outra é uma grande balela se existe propósito e contexto. Serve muito mais pra alimentar o ego e essa vontade de controle e poder — algo que (que bom!) naturalmente não funciona nesse modelo.

As empresas tem medo de dar autonomia e perder o controle (isso pode acontecer, sim, se não existir link com propósito e contexto) e não conseguem enxergar o quão poderoso é um colaborador autônomo, que trabalha porque acredita e porque caminha, dia a dia, na direção do seu propósito individual.

É simples assim? É.

O que acontece é que as empresas não tem paciência pra trabalhar dessa maneira. Leva tempo criar isso, entender o que cada um busca, evoluir, ver o que dá certo e o que não dá, criar acordos, e transparência.

Falar é fácil mesmo. Colocar na prática requer processo, organização, comprometimento, e revisão constante do que funciona e o que não agrega.

É focar em qualidade e não em quantidade. É não subestimar. É escutar em sua forma mais ampla. É entender o que as pessoas buscam e saber que, na grande maioria, é muito mais do que só salário.

Fazer isso é poderosíssimo e afeta diretamente métricas, lucro, engajamento e comprometimento de cada um ali dentro.

Vivi isso no bomnegócio.com, onde a gente começou essa caminhada e já víamos uma transformação maravilhosa nas mais de 300 pessoas ali dentro. Sinto isso todos os dias ao dividir e ver se transformar o sonho da abeLLha e do GoodPeople.

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Ana Julia Ghirello
HoneycombLAB

Meu foco é compartilhar conhecimento prático e aplicável para quem tem ou deseja ter uma empresa ou startup. Fundadora da abeLLha e VP na HBO Max.