“Teal ain´t real”?

O que há de melhor no debate gerado pelo ácido texto publicado pelo site Corporate Rebels e pela resposta de Frederic Laloux.

Fel Mendes
HoneycombLAB
4 min readMar 5, 2018

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Em 20 de dezembro de 2017, o site Corporate Rebels publicou o seguinte texto: Bursting the Bubble: Teal Ain´t Real, que basicamente falava sobre “a interpretação dogmática que alguns leitores vem fazendo do Reinventing Organizations, de Frederic Laloux”. Em um tom crítico e com pitadas de ironia, o texto dizia basicamente que é preciso deixar de levar tão ao pé da letra os ensinamentos do livro, já que na prática as coisas são mais complexas. Leia os principais trechos abaixo:

“Temos visto organizações e pessoas que estão acreditando cegamente em tudo o que está no livro. Ainda pior, algumas levam o ideais do livro mais ao pé da letra do que o próprio Laloux.”

“Muitos leitores assumiram que só pelo fato de as empresas terem sido citadas no livro, elas possuem necessariamente os três pilares do ‘paradigma teal’: propósito evolutivo, autogestão e totalidade. Isso está longe de ser verdade”

Eles falam, por exemplo, de como na Patagonia o propósito é um valor muito caro para a empresa, mas a autogestão não. Ou como a Morning Star não tem exatamente um propósito evolutivo. O que eles querem é produzir tomates da melhor maneira possível.

“Vamos ser claros. Não estamos dizendo que o livo está errado. O que estamos dizendo é que a realidade tem muito mais nuances do que está sendo interpretado”.

E segue:

“Estes chamados ‘níveis de consciência’ tendem a criar um sentimento de superioridade ao dar a entender que alguns são mais evoluídos do que outros”.

E termina com o conselho:

“É urgente que paremos de levar tão ao pé da letra tudo o que lemos ou ouvimos sobre gestão”

A resposta de Frederic Laloux

O autor do livro e do conceito de “Organizações Teal” comentou no texto a seguinte resposta, que foi republicada pelo site Enlivening Edge. Ele começa com a seguinte frase: “Concordo com muito do que vocês escreveram”. E segue dizendo:

“Eu usei o termo “Teal” e uma perspectiva evolutiva porque achei que seria útil para os leitores entenderem que não estamos falando de um bocado de novas práticas legais, mas de uma nova forma de olhar para organizações, pessoas e trabalho (…) Também achei que esta perspectiva evolutiva ajudaria os leitores que não conseguem se encontrar nos tipos tradicionais de gestão não achem que eles são os desajustados, mas que olham para o mundo de formas diferentes.”

“Dito isso, depois que o livro foi publicado eu raramente uso a palavra Teal para falar sobre o novo modelo de gestão que as pessoas querem. Quando alguém me diz ‘Eu quero que minha organização seja Teal”, eu paro e pergunto: ‘O que você realmente quer? Você não quer ser um conceito! O que é que você não quer mais fazer, que fere a sua integridade? O que é que te chama?’ Esta é a real conversa que sinto que devemos ter”.

“Quando as pessoas falam sobre “Teal” e fazem convenções sobre o tema, eu também tenho sentimentos dúbios. Fico contente, claro, com a ideia de que é possível estar juntos de diferentes formas nas organizações está espalhando. Mas também me preocupo que algumas pessoas estejam transformando “Teal” em uma coisa, em um modelo, em algum tipo de padrão-ouro.”

Laloux fala que deixou claro no livro que algumas organizações estavam em níveis mais avançados em alguns aspectos e menos avançados em outros. Ele cita o trecho em que fala que “algumas das organizações que ele havia pesquisado eram quase puramente Teal. A maioria era uma mistura de práticas, mais inovadoras em uma área e mais tradicional em outras”.

“Eu compartilho da sua inquietação de que haja pessoas usando a perspectiva evolutiva para sentirem-se mais evoluídas do que outras. O livro tem uma longa passagem sobre isso. (…) Eu acho que é uma tolice deixar de lado toda evidência de uma evolução humana simplesmente porque estamos incomodados com o fato de que algumas pessoas estejam usando isso erroneamente.”

Laloux encerra o texto afirmando que, sim, algumas pessoas tendem a tornar o “Teal” em uma coisa e olham para o Reiventing Organizations como uma Bíblia ou muito literalmente. Mas que a sua experiência trocando com os leitores mostrou que muita gente também pega aquilo que faz sentido para elas e deixa o resto de lado. E que talvez o pessoal da Corporate Rebels estava pegando a parte pelo todo. E encerra com um ótimo ponto:

“A realidade é maravilhosa nesse sentido. Você só pode se um escravo de um modelo conceitual no papel, quando você não encara a realidade. Qualquer um em uma organização que está tentando criar mudança ou fazer uma transição para um novo tipo de gestão terá que encarar a complexidade da realidade. O modelo mental com o Teal pode ser um bom mapa, mas é impossível aplicar o conceito em sua pureza. Até as pessoas que tenham a ideia de que querem tornar-se Teal rapidamente percebem que não é possível tornar-se um conceito, e que elas estão em sua única trajetória pessoal.”

+ LAB

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