O tempo que já se perdia…
Certa vez, quando convidado a escrever para um site, me pus a pensar sobre o que gostaria de transmitir e o que acharia válido aos interessados. Em determinado momento, refletindo sobre o meu momento e escutando Paulinho Moska (“O Último Dia”) fui surpreendido. Essa música sempre me atraiu e me agradou, mas uma frase representava bem a reflexão na qual me encontrava e essa foi a minha surpresa. Agora, retomando minha preocupação sobre o que seria válido aos “interessados”, lembrei que o dito “válido”, em minha opinião, seria mostrar a face, talvez mais angustiante, da existência: o tempo, nossa temporalidade.
O trecho em questão diz:
“Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?
Corria prum shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?”
Tendo só mais um dia, o compositor pergunta se o expectador correria a uma academia. No mínimo curiosa essa proposta, pois academia não faria efeito algum em um dia e isso me chamou a atenção. O desfecho da proposta não poderia ser mais confrontante. O tempo não cabe em si e isso é um choque ao se pensar. Ao nos darmos conta do quanto deixamos que a única coisa real que possuímos, a saber, o tempo em que vivemos (que não retorna), passe sem que assumamos a responsabilidade por esse tempo (não) vivido. Neste ponto, muitas vezes iludimos a nós mesmos, nos enganando com atitudes pontuais para não realizarmos que perdemos, que, de fato, não retornará e não faz diferença o quanto tentemos mudar isso, o tempo se esvai.
E nós, vamos esperar o último dia pra mudarmos? Saberemos quando será?
Pare e pense: o que fazemos — o que deixamos de fazer — “Pra se esquecer de que não dá tempo, pro tempo que já se perdia”?
Pro tempo que já se perdia…
E assim, muitas vezes, me pego vivendo ou deixando o meu tempo passar. Bom termos a arte para nos apontar assuntos tão tensos de forma até agradável de ouvir. Desta maneira, Moska discorre sobre um assunto, muitas vezes corriqueiro, aparentemente descontraído e alvo de brincadeiras que é a temática suscitada pela música, a saber, o fim do mundo ou “O Último Dia” como o autor chama. Mas, cabe pensar mais a fundo sobre nossa temporalidade, sobre nossa limitação… Existimos sim, existimos agora. E agora, o que faremos? Escolha e responsabilidade de cada um! Eu?! Eu resolvi sair do meu “almoço, hora, apatia” e trazer essa reflexão proposta por Paulinho ao concreto e compartilhá-la com vocês.
Tempo… É o que temos, mas não ilimitadamente.
Originally published at horda.co.