Afinal, o que é Gamification?

Renan Martins
Horizon Four
Published in
7 min readFeb 9, 2018

Vou resumir: gamification é o uso de conceitos, técnicas e métricas de game design em contextos diversos que não seja um jogo (um app, um site, uma aplicação, etc.) melhorando pontos como usabilidade, produtividade, foco e engajamento do usuário.

Tá, ok! Mas o que isso quer dizer na real?

Como cativar e reter um usuário de forma tão eficaz em um app, em um site ou numa aplicação? Foi aí que as pessoas trouxeram a gamification ou “gamificação” para dentro de seus serviços. Ao observar o comportamento de jogadores, os tais “gamers”, é possível perceber certos conceitos que os atraem e os retêm para continuar jogando. Estes conceitos e técnicas lúdicas que dão ao game a cara de game, podem e devem ser utilizadas para entregar a melhor experiência ao usuário.

Ok, ok, mas você deve estar pensando: “então eu vou ter que criar um jogo?”. Claro que NÃO! Como eu disse, a gamification utiliza conceitos de games, tais conceitos podem ser utilizados sem a necessidade da criação real de um jogo.

Mas, quais são esses conceitos? Como colocá-los, definitivamente, em um produto/serviço? Pois bem, deixa eu falar um pouquinho deles…

Competitividade

Alguns jogos são muito famosos por criarem disputas saudáveis entre os jogadores, os mantendo sempre dispostos e competitivos, com vontade de ultrapassar seu rival em um ranking ou disputa direta, para que, no final, o usuário tenha a sensação de vitória. Isso pode ser algo totalmente positivo e enriquecedor para o seu projeto! Duvida? Vou te dar alguns exemplos…

Apps de corrida fazem isso o tempo todo, mas você não deve ter parado para observar. Aplicativos como “Nike+ Run Club” trazem o conceito de ranking para uma disputa saudável (bem, literalmente saudável), que mede e compara com os seus amigos quem correu a maior distância no mês, quem tem o melhor tempo, o melhor passing, etc. O app te entrega isso de forma lúdica e fácil, pois entende um comportamento comum entre muitos usuários: O sentimento de conquista ao escalar um ranking! Afinal, é natural que as pessoas busquem pelo primeiro lugar. No caso de um app de corridas, isso significa correr mais, e ter uma vida mais saudável, menos sedentária. Imagine que você sai para correr com o seu app ligado e se dá por satisfeito, mas, naquele momento, percebe que se você correr só mais um pouquinho, você pode passar aquele seu amigo do trabalho no ranking. Isso é totalmente lúdico e, ao mesmo tempo, estimulante.

App: Nike+ Run Club

Você sempre tem metas, mas nunca consegue cumprir? Então, porque não olhar para suas metas como desafios? Nos games, é muito comum que você tenha objetivos e metas em destaque, para incentivar os jogadores a avançar e passar pelos próximos desafios. Na vida, não temos uma interface que nos faz ver nossos desafios e objetivos todos os dias, ou temos? Bom, essa é a proposta do “Proof”, um app onde você desafia a si mesmo e seus amigos a cumprir sua meta e, assim, receber pontos e medalhas. É isso aí, você desafia a si mesmo e seus amigos a cumprir seus objetivos e ainda recebe status e recompensas por isso! Ah, essas recompensas…

App: Proof

Depois eu volto a falar sobre recompensas, agora é hora de falar de um conceito contrário ao de competição, mas que pode funcionar muito bem, dependendo da proposta do seu projeto!

Cooperação

Bom, nem sempre é bom ter um clima de competitividade, né? Vai depender muito do seu objetivo e projeto. Pensando nisso, existem certas formas de trabalhar diferentes conceitos com o seu usuário.

Como a game designer Jane McGonigal prova em seu estudo, após as pessoas jogarem e interagirem juntos, os laços entre elas se tornam mais fortes. Então, como esse laço pode trazer benefícios para um projeto ou app? Deixa eu te mostrar um super exemplo de como um engajamento cooperativo pode trazer benefícios…

Sair de casa sem saber o caminho, quanto tempo vai levar para chegar ao destino ou, até mesmo, se tem trânsito ou não. Isso parece passado, né? Pois é, o “Waze” é um app conhecido por muitos como “o novo GPS”, mas ele não é simplesmente algo que indica direções. Bom, não só isso. O aplicativo tem diversos conceitos de gamification, como recompensas cooperativas sempre que você ajudar a “comunidade Waze”, ou seja, você pode ganhar títulos, ícones exclusivos e destaque por colaborar! Sério, pare por um tempo e dê uma olhada no sistema complexo, atrativo e lúdico do Waze, é realmente incrível. Poderia fazer um artigo somente para mostrar e exemplificar cada aspecto e ponto específico do app.

App: Waze

Outro exemplo incrível, é o novo “Foursquare”, um dos apps mais antigos para check-in e localização utilizados no passado. Voltou totalmente reformulado e muito mais focado na “experiência” do que no check-in. Trouxe uma interface mais lúdica, com prêmios, recompensas, pontos, barra de experiência e, de forma que você coopera com seus amigos e usuários da aplicação, ganha mais pontos e prêmios. Se você ainda não conhece o novo Foursquare, vale a pena dar uma olhada!

App: Foursquare

Mas, eu não posso deixar de falar sobre três conceitos que são de grande valor e, até mesmo, pilares para que o nosso “usuário-jogador” se mantenha dentro do “círculo mágico” (Johan Huizinga).

Recompensas, feedbacks e evolução

O que os jogos têm de mais satisfatório, que a “vida real” não tem?

Pode até parecer bobo, mas pense a respeito… Jogos possuem uma forma de recompensar o jogador e dar um feedback palpável e rápido ao mesmo tempo. No mundo dos jogos, você sempre enfrentará um desafio adequado para o seu nível e o seu momento no jogo. Ou seja, mesmo que pareça difícil, ou que você perca e fracasse no desafio, você volta e tenta de novo, porque sabe que é possível, que a recompensa vai chegar, e que será satisfatória!

As recompensas, os feedbacks, a evolução visual e a rapidez são instigantes. É visível o quanto importa para um usuário ver que sua realização foi grande, épica e, de fato, uma vitória para ele. Por menor que possa parecer um troféu, uma conquista, um título, um item único, ou algo só seu que represente seu triunfo, que te recompense pelo que foi feito, isso é encorajador, isso te faz querer ir além e te faz sentir especial.

Eu poderia citar inúmeros exemplos de como esses pilares são utilizados, mas queria mostrar um em especial, que, além destes conceitos, abstrai de uma forma bem imersiva e gamificada algo “tradicional”, como o ensino de línguas.

Estou falando do aplicativo que atualmente é o número 1 no ensino de línguas no mundo todo… O “Duolingo” tem conceitos de gamificação aplicados para o ensino rápido e prático de línguas estrangeiras. Além de possuir recompensas, feedbacks e evolução através de níveis, ele tem “mini-games”, uma espécie de mini desafios, que servem para a fixação do que foi aprendido de forma prática e rápida, além de utilizar um sistema de “punição” através da perda de corações sempre que errar algo, isso faz com que o usuário tenha mais foco e concentração para que não perca seus corações, pois, ao zerar o número de corações, deverá aguardar um tempo determinado para poder voltar a praticar. A princípio, pode parecer algo insano, pois impossibilita o usuário de continuar utilizando o app. Porém, faz todo o sentido, uma vez que incentiva o usuário, aumentando seu foco no estudo da língua e o trazendo de volta ao app mais tarde quando seus corações forem restaurados.

App: Duolingo

Toda essa “carinha” de jogo que o Duolingo tem, fez com que ele se tornasse, em apenas 3 anos, a maior referência digital no ensino de idiomas do mundo, o que comprova a enorme capacidade que os conceitos de gamificação tem!

Game é coisa séria!

Agora que você conheceu o básico de alguns dos diversos conceitos de gamificação, cabe a você pensar em como trazer essa realidade para o seu projeto.

E sempre que você ouvir algo do tipo “ah, mas é só um joguinho”, lembre-se que talvez esse “joguinho” possa ter algo especial que vai fazer a diferença para você e o seu projeto.

Você se interessa pelo assunto? Quer saber mais? Tem algum ponto que gostaria de comentar? Deixa seu feedback, ele é sempre muito bem-vindo!

Ei, quem escreveu isso?

Renan Martins — Game Designer

Me chamo Renan Martins, formado em Game Design pela Universidade Anhembi Morumbi, sou apaixonado por tecnologia, comunicação, inovação e claro Games!

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