O que faz alguém ser trans “de verdade”?
Parte 2 — crianças
Tradução do texto de Lily Maynard. Leia aqui a parte 1.
Quais são as reais diferenças entre meninos e meninas?
O que realmente faz de um menino, um menino e de uma menina, uma menina?
Os garotos nessas imagens terão vidas muito diferentes em partes do mundo muito diferentes. Eles terão algumas experiências compartilhadas, mas o que os agrupa é sua biologia. Um menino tem cromossomos XY. Eles são do sexo heterogamético e seus órgãos reprodutivos, que se tornam funcionais durante a puberdade, são o pênis e os testículos.
As meninas nessas imagens terão vidas muito diferentes em partes do mundo muito diferentes. Elas terão algumas experiências compartilhadas, mas o que as agrupa é sua biologia. Uma menina tem cromossomos XX. Elas são do sexo homogamético e seus órgãos reprodutivos, que se tornam funcionais durante a puberdade, são os ovários e o útero.
Sim, isso é simplista. É absurdo ter de afirmar o óbvio, mas precisamos tornar deixar tudo claro desde o começo. Macho. Fêmea. Uma espécie. Dois sexos. Às vezes algo dá errado e crianças nascem intersexo. Ser intersexo é uma condição física e genética e não tem nada a ver com a condição psicológica da transgeneridade. Eu já falei disso em outro lugar, mas isso deve ser mencionado aqui também. A Sociedade Intersexo da América do Norte tem isto a dizer:
Pessoas que têm condições intersexo têm anatomia que não é considerada tipicamente masculina ou feminina. A maioria das pessoas com condições intersexo chegam à atenção médica porque profissionais da saúde ou pai e mãe notam algo incomum sobre seus corpos. Por outro lado, pessoas transgênero têm uma experiência interna de identidade de gênero que é diferente daquela da maioria das pessoas… esses dois grupos não deveriam e não devem ser pensados como um só.
Enquanto “menina” e “menino” são definições baseadas em potencial reprodutivo, isso não significa que todos os garotos e todas as garotas irão reproduzir. Algumas garotas talvez nunca menstruem; alguns garotas talvez nunca produzam esperma. Essas são condições físicas que ocorrem quando acontece algo de errado durante o desenvolvimento biológico, e elas não têm nada a ver com o funcionamento do cérebro ou com a transgeneridade.
Menina e menino, fêmea e macho, homem e mulher são, e sempre foram, descrições de categorias sexuais.
Masculino e feminino são descrições de comportamentos que determinada cultura associa a ser homem ou ser mulher.
Cérebros individuais são mosaicos desses comportamentos. Não nascemos com cérebros azuis ou cor-de-rosa. Nós temos personalidade, e elas são diferentes.
Christia Spears Brown, PhD, uma psicóloga social e do desenvolvimento, pergunta:
Por que o mito de cérebros cor-de-rosa e cérebros azuis permanece tão firme em nossa cosnciência coletiva? (…) Meu marido e eu somos sinceramente diferentes. Isso é primariamente porque nós somos de culturas diferentes, a minha (a cultura de ser criada como uma garota) encorajava a expressão de emoções, e a dele lhe disse que “meninos não choram”.
Então o que são, de fato, as diferenças físicas? Bom, em primeiro lugar, não dá pra diferenciar um menino de uma menina pelo tamanho de seus cérebros. Você pode fazer algumas generalizações: os cérebros dos meninos geralmente são um pouco maiores do que os das meninas, apesar de os cérebros das meninas terem mais “dobras”, o que lhes dá maior superfície. Meninos são um pouco maiores do que meninas, então isso faz sentido. (Aliás, é a superfície que determina quantos neurônios e conexões sinápticas o cérebro consegue armazenar. Então tamanho não é tudo.) As meninas atingem a puberdade antes dos meninos. Essas são diferenças físicas. Algumas diferenças sexuais mínimas no cérebro existem mas um cérebro é… bem… um cérebro. É também impossível prever qual mistura de características um cérebro possa ter. Você pode ler mais sobre isso aqui, aqui e aqui (artigos em inglês).
Neurocientistas não conseguem dizer se um cérebro aleatório é masculino ou feminino.
“Nós separamos meninas e meninos, homens e mulheres o tempo todo. É errado, não só política, mas cientificamente — todas as pessoas são diferentes.”
Daphna Joel
Você pode ler o estudo de Daphna Joel “Sexo para além da genitália: o mosaico do cérebro humano” aqui (em inglês).
Cérebros humanos se desenvolvem por meio de experiências. Mostre a bebês de 6 a 12 meses um caminhão e uma boneca e ambos vão preferir a boneca. Não há base científica para nossos estereótipos e preconceitos sobre o que meninos e meninas devem ou não fazer.
Porém, essa neutralidade rapidamente muda. Pergunte a um grupo de crianças de cinco ou seis anos de idade qual desses brinquedos relativamente unisex é feito para meninas e qual é feito para meninos, e a maioria será bem clara sobre o que é esperado que digam. É razoável presumir que crianças humanas não evoluíram para ter uma preferência específica para certo estilo de brinquedo de plástico imitando uma espécie desconhecida de criatura. Crianças aprendem quais comportamentos são aprovados; e, geralmente, os seguem.
Tricia Lowther, que trabalha com a campanha “Deixe que brinquedos sejam só brinquedos” (Let toys be toys), conta a história de comprar caixinhas de suco de “carrinhos” para sua filha amante de carrinhos ao invés de caixinhas de suco de princesas. Sua filha escondia as caixinhas e dizia a sua mãe que eles eram “de menino”. Ela gostava de carros, garantia à sua mãe, “mas eu não quero que ninguém saiba”.
As imagens abaixo são de coisas que não têm um gênero específico, e, apesar disso, nós conseguimos identificar rapidamente quais devem ser preferidos por meninas e quais devem ser preferidos por meninos.
Hoje em dia, mais do que nunca nós atribuímos gênero a tudo. Até brinquedos como conjuntos de mágica, Lego e globos agora são vendidos a garotas em diferentes tons de rosa. Quando uma garota chega aos quatro anos de idade, ela já tem uma ideia bem razoável de que ela “tem” que gostar de tudo em cor-de-rosa, enquanto que um menino já tem uma ideia bem razoável de que ele não pode gostar de rosa — ou de flores, ou de corações ou de amor. Um menino tem que gostar de caminhões e de super-heróis e de quebrar coisas. Um menino é BARULHENTO. Uma menina é QUIETA. Uma menina barulhenta é mandona, mas um menino barulhento é quem manda.
Como Alice Baumgartner-Papageorgiou descobriu em seu estudo de 1982 (vide Sociology — a global perspective, de Joan Ferante), meninos e meninas sabem que suas vidas seriam muito diferentes se fossem do sexo oposto. Meninos acreditam que suas vidas seriam piores; e meninas, que seriam melhores. Desde “eu teria que depilar meu corpo inteiro” e “eu não poderia ter um canivete” (meninos) até “pessoas levariam minhas decisões e minhas opiniões mais a sério” (meninas), ficou claro que crianças têm consciência das diferentes regras para os sexos, e muitas ficam compreensivelmente confusas se elas não têm uma inclinação natural para seguir essas regras.
E a criança que não se encaixa em estereótipos, como fica? Quem está empurrando esses estereótipos para as crianças? É claro que ninguém de nós quer restringir ou limitar nossas crianças (?)
Uma vez eu fui a uma festa de piscina com minha criança mais jovem, então com 4 anos. Era numa grande casa vitoriana de tijolos brancos com sua própria piscina; os anfitriões eram hipsters e educados. Muitas das mães lá tinham sua própria carreira em ascensão. Se eu lhes tivesse perguntado se elas tratavam meninas e meninos de forma diferente, eu imagino que teriam dito que não. Eu não perguntei. Ao longo da tarde eu assistia enquanto os meninos eram aplaudidos por pularem e espirrar água e as meninas eram elogiadas por quão fofos eram seus biquínis e por quão educadamente elas brincavam juntas. As meninas pulavam e espirravam água. Nem todas brincavam “educadamente”. Os meninos também usavam sungas legais e brincavam juntos. Nenhuma das pessoas adultas de lá fez isso conscientemente — elas simplesmente fizeram.
Globalmente, é claro, o sexismo é mais profundo do que o dano impensado causado em festas de piscina de pessoas de classe média. O que separa meninas de meninos não são biquínis floridos e com pedrinhas coloridas e sungas do Incrível Hulk. Meninas são discriminadas por causa de sua biologia feminina, não porque elas têm um desejo inato de vestir sutiãs cor-de-rosa brilhantes e laços imensos.
Fetos femininos têm maior chance de serem abortados; meninas bebês, de morrerem de fome; jovens meninas, de serem estupradas. Meninas estão sujeitas a mais pressão midiática sobre seus corpos, mais sujeitas a terem seu valor atrelado a seu corpo e mais sujeitas a serem exploradas por seus corpos por meio da prostituição e da “barriga de aluguel”. Meninas têm mais chances de serem estupradas e mais chances de serem vítimas de abuso físico por parte de pessoas próximas a elas. Meninas têm menos chances de receber educação; menos chances de aprender a ler; mais chances de serem casadas jovens.
Não é possível que meninos se identifiquem ou que meninas não se identifiquem com esse tipo de destino (citado acima). Eles simplesmente acontecem com as meninas porque elas têm corpos femininos.
Esse é o X da questão. Se nós conseguirmos realmente entender isto (abaixo), nós podemos começar a entender como nós chegamos a um ponto em que estamos prazerosamente transicionando crianças, dizendo-lhes que elas nasceram no corpo “errado” e enganando-as para pensarem que isso é algo que possam mudar. O problema não são as crianças, é a importância que a sociedade atribui a comportamentos estereotipados.
Brinquedos e moda mudam. Nossas preferências pra certas coisas não são inatas. Em muitas culturas, meninos usam saias ou vestidos e cabelo longo é normal. Ninguém lhes diz que são garotas. Tempo, lugar e situação todos afetam qual tipo de comportamento de gênero é considerado “normal”.
Historicamente, rosa era considerado uma cor de menino, uma versão aguada de vermelho, a cor de Marte e da guerra. O pequeno Henry Wentworth é apresentado aqui em um vestido rosa escuro/vinho (suas irmã e mãe usam branco) com seu cabelo encaracolado preso em uma touca de renda. Ele era o próprio resumo da masculinidade jovem da época.
Eis aqui alguns pensamentos retirados do Twitter sobre a história das convenções de gênero ao longo das eras.
Sim, não vamos nos esquecer dos ditames da moda em eterna mutação. Enquanto algumas de nós que cresceram mulheres nos anos 70 e 80 foram poupadas dos horrores da “rosificação”, homens do século XI (abaixo, à esquerda) ficavam satisfeitos em usar vestidos. Esses protótipos guerreiros da masculinidade dos séculos XVI e XVII (abaixo, à direita) tomavam decisões estilísticas bem criticáveis pelos padrões de hoje. Esses homens eram entusiastas de seus saltos e saias. Há um excelente artigo sobre a história do vestuário masculino aqui (em inglês).
A maior diferença entre cérebros masculinos e femininos? Cérebros masculinos são encontrados nas cabeças dos homens & cérebros femininos nas cabeças das mulheres. Isso é biologia. Homem. Mulher. Menina. Menino. Nós precisamos dessas palavras para descrever diferenças sexuais e nós precisamos delas agora mais do que nunca por conta das diferenças que se formam depois que nascemos.
Há sem dúvidas algumas diferenças no nascimento. Meninos e meninas bebês nascem com diferentes níveis hormonais. Diz-se que meninos bebês nascem com tanta testosterona quanto um homem de 25 anos (esses níveis caem rapidamente depois do nascimento). Lise Eliot argumenta que os cérebros infantis são tão maleáveis que essas poucas pequenas diferenças no nascimento se tornam amplificadas ao longo do tempo, com a sociedade, professores/professoras e pais/mães — como os da nossa festa na piscina — involuntariamente (e geralmente até com boas intenções) reforçando estereótipos de gênero. O que isso significa para garotas, então?
Como Sarah Ditum escreveu no New York Statesman:
Eis uma história que gostamos de contar para nós mesmos. Era uma vez em que éramos sexistas, mas então o feminismo aconteceu e nós não somos mais sexistas. Mas meninos e meninas seguem sendo diferentes porque são diferentes.
No programa da BBC “No more boys and girls” (“Basta de meninos e meninas”, em tradução livre), Dr Javid Abdelmoneim descobre que aos sete anos, meninos tendem a superestimar suas habilidades e que meninas tendem a subestimar as suas — e, ainda assim, a essa idade, não há diferenças de força ou de habilidades entre meninos e meninas.
Como Ditum observa, “colocando os genitais de lado, são simplesmente crianças.”
Então por que estamos dando corda à narrativa de que gostar de certos brinquedos ou roupas faz uma criança ser “transgênero”?
Quase desde o dia em que nascemos, as pessoas ao nosso redor reagem diferentemente a bebês meninas e a bebês meninos. Pessoas adultas percebem bebês meninas como menores e mais frágeis (Robin, Provenzano & Luria, 1974), e lidam com meninos de forma mais bruta do que com meninas.
Um estudo mostrou que mães de meninos recém-nascidos tendem a descrevê-los como mais fortes (do que realmente são), mesmo quando não há nada que indique ser o caso. Outro estudo demonstrou que quando mães de bebês de 11 meses estimavam as habilidades de seus bebês de engatinhar, mães de meninas subestimavam suas performances e mães de meninas superestimavam suas performances. Esse viés não tinha base nenhuma, na verdade. Meninas e meninos atingem marcos motores (como pegar, sentar, engatinhar e andar) em basicamente a mesma idade.
Então pegamos essas pequenas diferenças, misturamo-as com nossas expectativas de desenvolvimento masculino e feminino, e como resultado muitos dos resultados que imaginamos se tornam realidade. A maioria da crianças quer agradar. A maioria das meninas bebês recebe aprovação quando brincam com crianças: pessoas adultas ao seu redor sorriem e admiram suas qualidades de cuidado. Menininhos recebem sorrisos quando correm por aí gritando: eles estão gastando energia, e “meninos sempre serão meninos”. Menininhas são admiradas por seu cabelo e suas roupas. Meninos são admirados por sua energia e seu poder. Meninos são ensinados a focarem neles mesmos, meninas são ensinadas a focarem em outras pessoas. Quem duvida da verdade disso não precisa olhar muito além da seção de roupas infantis da Primark de Oxford, onde eu tirei essas seis fotos no mesmo dia.
Uma garota não é um “cara épico” ou uma “criança legal”. Uma menina “vê beleza em tudo”, ela é a “princesinha da mamãe” ou o “amorzinho”. Uma menina pode pisar fora dessa caixa mas só se cruzar, física e metaforicamente, até a seção claramente demarcada “masculina”.
Quando meus amigos e amigos-de-amigos no facebook postam fotos de suas meninas, a maioria dos comentários vão na linha de o quão “linda”, “deslumbrante”, “maravilhosa” ou “fofa” a garota é. Isso aconteceu mais recentemente em uma história em que uma amiga postou a foto de sua filha que tinha acabado de ganhar uma medalha em uma grande competição de judô.
Sociólogas e sociólogos chamam o processo de empurrar meninas e meninos para diferentes caminhos de “canalização” e é à “canalização” que Juno Dawson se refere quando ele escreve sobre sua infância.
Quando eu pulava alegremente pelo parquinho, me diziam pra andar. Quando eu escolhi My Little Ponies na loja de brinquedos, me negaram com firmeza.
Susie Green, CEO do Mermaids nos diz, em sua palestra no TED, que ela ficou “assustadíssima” quando seu filho de 4 anos lhe disse que ele era, na verdade, uma garota. O marido de Green a fez jogar fora todos os brinquedos e roupas “de menina” da casa porque ele “não aprovava o comportamento efeminado de nossa criança”. Para poder usar uma saia pra ir à escola, brincar com tutus e bonecas, e usar cabelo longo, sua criança tinha de “viver como uma garota”. Ele foi levado para o exterior, onde ele se submeteu a uma “cirurgia completa de redesignação de gênero” aos meros dezesseis anos.
Seu filho, cantor, modelo e ex-princesa de concursos, Jacky Green, agora com 24 anos, diz
Está em meu DNA. Eu sou uma garota.
Não está, obviamente.
Alguns pais e mães parecem acreditar que medicação e cirurgia são ambos inevitáveis e essenciais para suas crianças trans-identificadas. Alguns desses pais e mães estão dando dicas para os pais e mães preocupados de crianças que não se conformam a estereótipos de gênero. Susie Green, por exemplo, tweetou recentemente que “o que está entre suas orelhas precisa combinar com o que está entre suas pernas. Não cabe a você escolher.”
Se você leu a parte 1 desse artigo, você vai lembrar que termina com a mãe de Corey Maison falando sobre como ele está “ansioso” para se submeter à cirurgia de redesignação sexual aos 18 anos. Parece tudo tão razoável e seguro. Nós ouvimos histórias fofas sobre Jazz Jennings e outras crianças perguntando quando a “fada de gênero” viria “consertá-las”, e como “Deus cometeu um erro” e nós imaginamos que a ciência e a tecnologia chegaram a um ponto em que é simples recriar uma genitália funcional. A fada do gênero move sua varinha e “plim!”, tudo fica bem. Na verdade, a realidade é bem diferente.
O próximo pedaço desse artigo é meio chocante, mas, acredite em mim, não é nem de perto tão chocante quanto poderia ser. As fotos que eu escolhi pra apresentar aqui não são exemplos extremos — não são cirurgias que são consideradas fracassos. Se você quiser — eu não recomendaria — você pode achar muitas, muitas mais fotografias de falsas genitálias com alguns cliques no Google.
Eis aqui alguns dos resultados da “cirurgia de readequação de gênero” feminina.
Um neopênis é feito com pele retirada do braço ou da coxa. Alguns são funcionais para sexo, mas necessitarão de uma bomba para ajudá-los a imitar uma ereção (e devem ser murchados depois). Muitos neopênis infeccionam; alguns têm vazamentos de um fluxo lento, porém contínuo de urina. Cirurgiões ainda estão fazendo experimentos com o procedimento. Uma criança pode verdadeiramente entender isso? A menininha que ouve que ela pode “virar um menino” e “conseguir um pipi” quando ela crescer tem a habilidade de captar as implicações dessa cirurgia?
Aqui, o que acontece com um homem quando ele se submete à “cirurgia de redesignação de gênero”.
Uma “neovagina” vai precisar ser dilatada diversas vezes por semana para sempre, porque para o corpo é como se houvesse uma ferida que devesse ser cicatrizada. Às vezes um homem vai vivenciar a “síndrome do pênis fantasma”, em que ele sente como se ele ainda tivesse um pênis quando ele se excita. Na realidade, uma vagina funcional não é criada. O máximo que um menino pode esperar é que ele acabe com um tipo de túnel de carne, uma “bainha de pênis” que o permita ser penetrado pela frente.
E aqui algumas garotas que fizeram cirurgia na parte de cima do corpo.
As fotos acima não são o que jovens adolescentes em conflito com seu gênero encontram quando olham o YouTube. Ao invés disso, veem vídeos como este e fotos como estas (abaixo): tudo parece tão simples. As cicatrizes da cirurgia,a acne das injeções de testosterona são retiradas como photoshop e os sorrisos felizes dizem que tudo está bem. Pessoas jovens que transicionam parecem pensar que estão quebrando estereótipos de gênero: na verdade, estão se conformando a eles de forma tão extrema e por completo que nem elas mesmas conseguem enxergar. Na verdade, os níveis de automutilação, desordens alimentares e pensamentos suicidas disparam entre crianças transidentificadas e pessoas jovens.
Então, é claro que pessoas adultas em posição de poder estão falando contra a transição de crianças? É bem o contrário. Nessa semana foi revelado que o Mermaids estão fazendo apresentações à polícia sugerindo seriamente que a “identidade de gênero” de uma pessoa jovem se encaixa em algum lugar entre uma Barbie e um boneco de ação — e a polícia está chamando isso de “perspicaz e prático”.
Então onde nisso tudo fica a ideia das “reais” crianças trans? Nos anos 80, quando garotas tinham cabelo curto e os “brinquedos de menina” não eram todos cor-de-rosa, comportamentos em desacordo com o gênero geralmente seriam interpretados como um sinal de que a criança seria gay. Só isso. Sem necessidade de rezar para que a homossexualidade vá embora — uma garota pode “virar” um garoto agora! Com exceção de que não pode.
Apesar de ter lido tudo em que eu possa colocar minhas mãos e de ter assistido vídeos no youtube até sentir que meus olhos precisavam ser desinfetados, eu não consigo achar nada que sugira que é de fato possível que uma criança nasça no corpo errado. O que quer que seja “trans de verdade”, ainda está por vir algo que me convença que é algo para além de problemas em lidar com estereótipos. Eu já pedi várias vezes para que alguém me respondesse “o que faz com que uma criança seja trans?” e só fui respondida com silêncio, estereótipos e/ou definições circulares.
Eu não nego por nem um minuto que essas crianças estão confusas que elas realmente acreditam que “nasceram no corpo errado” mas o fato é que não nasceram. Nós precisamos mudar a sociedade, não nossas crianças: ensinar crianças a amar seus corpos únicos, maravilhosos e poderosos, não torná-los parte do problema. Nós estamos privando crianças da experiência da puberdade — raramente divertida para qualquer pessoa, mas essencial a nosso desenvolvimento — com medicamentos bloqueadores de puberdade, e mudando o equilíbrio de hormônios em momentos cruciais do desenvolvimento de jovens cérebros. Nós estamos colocando crianças em tratamentos hormonais que as deixam estéreis. Isso não é progressista, isso é eugenia.
Uma criança que acredita ser algo que não é está sofrendo de um problema mental, não físico, que é tornado pior por uma sociedade que idolatra estereótipos de gênero e por pessoas adultas que dizem para crianças “sim, você está errada e você pode ser arrumada — desse jeito”.
Eu posso entender que pais e mães confusos e preocupados querem fazer o que é melhor para sua criança, eu realmente entendo. Mas uma criança não consegue nem começar a entender as implicações da “cirurgia de redesignação de gênero” e uma vida inteira como paciente.
É hora de falarmos como a moda de transicionar crianças desviantes funciona. Precisamos ensinar às crianças que está tudo bem em acabar com estereótipos, não idolatrá-los.