Um gesto de generosidade
Não precisou de muita coisa para que Josiane Caetano, nossa Analista de Suporte, sentisse brotando nela uma vontade imensa de ajudar o próximo. Não foi necessário um parente ou amigo surdo ou mudo para que ela se interessasse pelo universo da LIBRAS. Bastou apenas um momento diferente, em uma situação especial para que ela ficasse fascinada pela ideia de fazer o bem.
Certa vez, aos 13 anos, durante um evento promovido pela igreja que frequenta, Josy — apelido carinhoso que ela ganhou por aqui — notou um menino um pouco mais novo que ela parado no palco, onde artistas que ela admirava muito iam se apresentar. Quando a música começou, o garoto começou a traduzir com gestos as letras das canções. Aquele público adolescente não estava entendendo muito do que estava acontecendo, mas Josy já estava tão hipnotizada que mal prestou atenção nos artistas que ela tanto havia esperado para ver.
Com tão pouca idade, Josy nem considerava trabalhar com aquilo um dia, mas tinha certeza que alguma coisa dentro dela estava gritando por mais. Foi aí que decidiu aprender mais sobre o assunto e começou a frequentar aulas de LIBRAS, que foram suficientes para que ela aprendesse o básico, mas que não tiveram continuidade por diversos motivos.
A vocação para ajudar as pessoas, no entanto, não acabou junto com as aulas. Ela começou a se interessar cada vez mais pelo assunto, buscou músicas para traduzir e, inclusive, passou a cumprir o mesmo papel que um dia aquele garoto que tanto a encantou havia cumprido na igreja. O mais gratificante de tudo, segundo ela, foi que a partir disso, muitas pessoas desenvolveram o mesmo interesse e quiseram aprender com ela.
Josy sempre auxilia as pessoas onde quer que vá e fica emocionada ao lembrar de situações em que ela pôde fazer a diferença no dia de alguém. Certa vez, em uma padaria, um senhor não conseguia comunicar à atendente que queria um refrigerante retornável e, por isso, pagaria mais barato na compra. Após muitas tentativas frustradas do homem e, depois de compreender o que estava acontecendo, Josy saiu da fila, se comunicou com ele e traduziu o que ele tentava dizer para a atendente. Quando tudo se resolveu, o olhar de alívio do homem e toda sua expressão de gratidão foram um verdadeiro presente pra ela, que foi para a casa feliz.
Houve, também, uma vez em que a atendente era ela, em uma loja de produtos de beleza, quando a cliente havia ignorado a ajuda de outras duas funcionárias, que ficaram chateadas e até um pouco bravas com a situação. Quando Josy se aproximou e viu que a mulher estava completamente alheia ao mundo enquanto tentava compreender a diferença entre dois produtos semelhantes, ela ficou frente a frente com ela, olhou em seus olhos e, novamente ofereceu ajuda. Com uma mistura de leitura labial e linguagem de sinais, as duas se entenderam e, finalmente, a cliente conseguiu a informação que precisava para concluir a compra. Mais uma vez, Josy sentiu aquela sensação gostosa de ter feito o dia de alguém um pouco melhor.
Uma impressão muito comum que surdos e mudos causam em pessoas que não compreendem o que acontece nesse universo é a de eles estão sempre um pouco nervosos e estressados. O que Josy questiona é: “você já experimentou a sensação de tentar se comunicar e nunca ser compreendido? Saberia descrever essa frustração? Por que não se colocar no lugar do outro em vez de tirar conclusões precipitadas?” Não é à toa que ela é tão grata por ter um dom que traz um pouco mais de alívio para quem vive essa realidade e, do seu jeitinho, acaba fazendo com que outras pessoas também sintam interesse em fazer o mesmo.
Como analista de suporte na Hotmart, Josy aprendeu a entender as entrelinhas, a interpretar além do que pode ser falado e afirma com toda a certeza do mundo que isso se deve à habilidade que desenvolveu, se comunicando com pessoas que não falam e não ouvem. Cheia de ideias e sugestões para implementar mais inclusão no ambiente de trabalho e no mercado em que atua, ela sonha com um mundo em que todas as pessoas consigam se expressar e ser compreendidas, não é por acaso que quer muito fazer parte da comunidade de funcionários que será responsável por orientar os colaboradores com deficiência que a empresa já está se adaptando para receber.
A lição que Josy deixa hoje é que é muito importante não ignorar aquela voz que grita dentro de você, mesmo que aquilo não faça muito sentido na hora. Pode ser algo muito maior te dizendo que sua missão no mundo vai muito mais além daquilo que você pensa.
