O suspeito tem cor

Igual aos sutis tiros de silenciador do começo da música Gelo do rapper Djonga em Histórias da Minha Área, o racismo velado tem a mesma eficácia desses tiros, ele pode parecer que não machuca por não deixar marcas pelo corpo, mas destrói psicológico de quem é atingido.

A sutilidade vai minando a pessoa aos poucos, deixando ela cada dia mais receosa, mais paranoica. Por que mais um olhar te julgando de cima para baixo acompanhado de uma ajeitada firme na bolsa e sacolas pode te afetar? Por que andar com as notas fiscais das compras sempre a vista é um problema? Por que piadinhas sobre sua aparência, sobre o seu cabelo que te dá tanto orgulho pode te deixar mal se é “só uma brincadeira”? Todas essas situações acontecem na rotina, com hora e local para acontecer, todos os dias, todos os dias, todos os dias…

A ficha demora para cair sobre o que esta acontecendo, você foi criado de forma adestrada para não perceber isso, para não saber qual é a sua etnia, para entender que só existe lápis para uma cor de pele e ela não é a sua. Tudo não passa coincidências, procedimento padrão o segurança “acompanhar” o suspeito pelo mercado e pelo shopping e as vezes dar uns tapinhas na arma como um simples sinal de “oi, eu estou te vendo”.

E seguindo essa linha, também aprendemos que quando um jovem preto comete suicídio, o suicídio nunca é incitado.

“o racismo ficou na época dos escravos, é muito mimimi você se importar essas brincadeiras, alias… porque você usa o cabelo desse jeito se nem preto você é?”.

Andar olhando pro chão em certos lugares porque eu não sei mais lidar com os olhares brancos com suásticas tatuadas, guardar notas fiscais por medo que confusões aconteçam, pensar todo dia, em toda madrugada se enganando que não está em um pico de ansiedade, se vale a pena levantar da cama. E desde quando existe escolha?

“Mas não é só revidar?”.

Racismo velado tem um parceiro chamado deslegitimação, responda a essas situações e você será tachado de louco, vai ouvir que isso é apenas um coincidência, pois sua cor não se encaixa na escala de preto da pantone, você é apenas um clarinho, queimadinho, um queimado do sol, só tem o cabelo ruim, seminegro, talvez até role um pardo mas preto não.

Eles vão fazer de tudo para que você reaja
Se você responder a um palavrão com outro palavrão
eles só vão ouvir o seu
Ouse responder a um soco com outro
eles vão dizer: “Ó lá, o neguinho perdeu a cabeça
eu disse que ele não servia para isso. “
O inimigo e seus lacaio vem com tudo, joga sujo
e você não pode simplesmente reagir com a mesma baixeza

Se tudo o que foi relatado são apenas coincidência isentas de cor, cadê as coincidência em que somos tratados com educação e respeito? Ou essas não são isentas de cor?

O dedo
Desde pequeno geral te aponta o dedo
No olhar da madame eu consigo sentir o medo
Cê cresce achando que cê é pior que eles
Irmão, quem te roubou te chama de ladrão desde cedo

Esse texto não tem o menor interesse em ser didático ou fazer algum sentido, ele apenas é um compilados de pensamentos de uma mente caótica.