Tentando Turistar pela CCXP Worlds

Lucas Ferreira
HQnoBlack
10 min readDec 10, 2020

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Disclaimer 1: Esse texto é uma mistura de cobertura da CCXP Worlds com uma análise da plataforma do evento.

Disclaimer 2: Para fazer a análise da plataforma me utilizei de três dispositivos diferentes; notebook Acer com Ryzen 7 (3700U), placa de vídeo Radeon 540x (GDDR 2GB) e 8GB ram; notebook Samsung com Intel Celeron (2ª geração) com 6GB de memória; Moto G6 8 Core 1.8 GHZ com 3GB de RAM. Nos notebooks o navegador utilizado foi o Microsoft Edge e no mobile foi utilizado o Google Chrome.

Disclaimer 3: Sim, eu sei que a plataforma foi criada do zero em quatro meses.

A sétima edição da Comic Con Experience — CCXP, aconteceu entre os dias 5 a 7 de Dezembro de 2020. Com a pandemia muitos eventos tiveram de se adaptar ao formato digital e com a CCXP não foi muito diferente. O evento em sua versão gratuita totalmente digital, a CCXP Worlds, contou com uma plataforma online dividida em cinco grandes cenários e não incluía MasterClass e a opção On Demand, funcionalidades exclusivas para aqueles que compraram o ingresso digital, o Home ou o Epic.

A Thunder Arena, o principal espaço do evento, conhecido pelos grandes anúncios e conteúdo exclusivo em primeira mão, o Artists’ Valley, o coração do evento que reuniu mais de 500 artistas e quadrinistas de diferentes países; o Omelete Stage, o espaço apresentado pela equipe do próprio Omelete TV reagindo e comentando sobre os principais acontecimentos da CCXP; o Creators & Cosplay que traz mais criadores de conteúdo do que cosplay (o palco, além da final do concurso de cosplay, teve pouco painéis para esse assunto); e a Game Arena com os destaques do mundo dos games com a presença da The Enemy, pro-players e apresentadores de E-sport.

Palcos CCXP Worlds

Dissecando a plataforma CCXP Worlds

Primeiro Login

Para o primeiro login foi necessário encontrar o código da minha credencial, independente do ingresso, era necessário o cadastro para acessar a plataforma. Na noite de quarta-feira (2/12) foi mandado um tutorial por email para auxiliar no cadastro.

Diferentes Mapas

Imagem da esquerda: Mapa CCXP Worlds 2D. Imagem da direita: arquipélago flutuante de Grand Chase.

Dentro da plataforma temos duas versões do mapa do evento. Uma versão 2D e uma 3D. Ambas as versões são bonitas, mas acabei optando pelo mapa 2D. Além de ter gostado dele por lembrar o arquipélago flutuante de Grand Chase, ele é bem mais otimizado. Segundo as informações oficiais do evento, a versão 3D demandava 6GB de RAM e um processador de 64 bits, logo, smartphones não têm suporte a esse mapa. Tanto no notebook Acer quanto no Samsung recebi notificações sobre a performance do mapa estar abaixo do ideal. Tive problemas de lentidão com o carregamento da interface e ainda precisei atualizar a página algumas vezes para conseguir acessar a plataforma com o 3D ativado.

Imagem da esquerda: Mapa 3D CCXP. Imagem da direita: Notificação sobre baixa performance.

Barra superior

Barra superior da plataforma.

A barra superior que fica fixada no topo da tela conta com seis botões: ligar/desligar a trilha sonora, ligar/desligar o mapa 3D, Perfil, notificações (mais informações ao longo do texto), troca de idioma (a plataforma tinha suporte para português e inglês), e o botão para abrir a aba de menu. Dentro dela tinha a programação completa, line-up, informações sobre ingressos e acesso rápido a todos os palcos do evento.

Perfil

Aba credencial no perfil.

Nessa página tem um dos destaques da plataforma que faz eu querer que ela permaneça ativa nas próximas edições do evento, a Agenda. Ela possui uma interface bem organizada, separando os painéis selecionados por dia e horário. Dentro do Perfil essa é a única ferramenta interessante. Há também uma aba sobre os horários dos Meet & Greet adquiridos, Drops (uma caixa de spam de cupons e propagandas) e a aba de Ingresso, que só serve para induzir os usuários com pouco conhecimento de informática ao erro. Em vez de mostrar a credencial adquirida, ela dá destaque à credencial Epic (ingresso mais caro do evento), enquanto as informações sobre a sua credencial estão minimizadas. Pode parecer uma bobagem pontuar isso, mas para pessoas sem muita afinidade com o PC dá a entender que para desbloquear a experiência completa (mesmo com umas das credenciais já pagas) era necessário comprar o ingresso mais caro.

Artists’ Valley

O Beco dos Artistas, agora com um novo nome, é dividido em três espaços: palco, apresentando conversas com quadrinistas com Papo Reto, painéis ao vivo e pré-gravados; MasterClass (com três MasterClass exclusivas para quem adquiriu um dos ingressos pagos); e mesas virtuais, aqui é o lugar em que você (abre a carteira e joga dinheiro na tela) conhece quadrinista de diferentes países em live ou a partir de seus trabalhos à venda na loja.

Intérpretes de Libras, closed caption e legendas.

Com muitos painéis pré-gravados, a impressão que eu tive é que se você não entende inglês a maioria do conteúdo não é pra você. A organização não teve o cuidado de preparar legenda para todos os vídeos pré-gravados. Algumas conversas com convidados internacionais têm legenda, outros painéis têm um closed caption bem atrasado (entendo que o closed caption não seja uma tradução perfeita em tempo real, mas o delay estava maior que o comum) e temos situações em que o closed caption ficou ligado sem gerar nenhuma tradução, tampando a legenda original do vídeo. Tirando da equação a programação com convidados internacionais, a maioria dos painéis se apoiava na presença de intérpretes de Libras. Mesmo com alguns deles voando pela tela em alguns vídeos, boa parte da programação podia contar com essa inclusão.

Retrato de uma artista quando jovem — Jéssica Groke

(Descaso) Video On Demand

Esse foi o “benefício” incluso nos ingressos pagos que fez eu querer adquirir o ingresso Home, a possibilidade de assistir ao conteúdo do palco após a transmissão. Como eu trabalho à noite e não tenho a melhor internet do mundo, quis garantir o VOD (Video On Demand) para conseguir assistir tudo sem dificuldades, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. “Video on Demand: assista ao conteúdo dos palcos depois da live quantas vezes quiser. Os vídeos estarão disponíveis em até 24 horas para visualização na plataforma até 13/12.” foi a descrição, ambígua, fornecida. O On Demand está todo bagunçado pelos palcos, a descrição fala sobre o tempo para a disponibilidade ser “em até 24 horas”, mas não descreve qual é o ponto de referência. Não sei se são em até 24 horas do fim do dia de evento, se são em até 24 horas do fim do painel ou se são em até 24 horas do fim da própria CCXP Worlds. O que eu sei é que todas essas possibilidades já foram descartadas, uma vez que o evento finalizou e nem todos os VODs estão disponíveis ainda.

Minutagem do VOD

Os VODs disponibilizados são brutos das gravações jogados nos palcos de qualquer jeito. Neles a gente assiste CGI desligado, teste de som, pedaços da Thunder Arena no VOD do Artists’ Valley (que são do meu interesse já que o VOD da Thunder do primeiro dia, que continha a conversa com Neil Gaiman, ainda não está disponível). Mesmo com a minutagem demarcada na maioria deles (porque nem todos tiveram a minutagem), estamos falando de um vídeo de aproximadamente 12 horas de duração. Se pegarmos o primeiro dia da Game Arena a minutagem deixa claro que o conteúdo do palco começa às 4h57m de duração do vídeo, antes disso são momentos aleatórios de backstage e trechos de outros palcos.

VOD do primeiro dia do Artist’s Valley.

Tentei entrar em contato com a organização pelo Twitter e não obtive uma resposta clara. Durante a live do Universo HQ na segunda-feira com o cidadão mais famoso de Gotham, Ivan Freitas (Co-criador da CCXP), perguntei como estava a situação do On Demand e ele mencionou que a liberação dos painéis dependia da autorização do estúdio, dono do conteúdo, informação essa que não foi mencionada na descrição para a compra do ingresso, nem na sessão de dúvidas do site e muito menos nos emails que eu recebi questionando sobre o ingresso. Entendo eu que se os Video On Demand são brutos de gravação de um inteiro, a não autorização de um painel significa a perda do dia inteiro.

Atualização: quase 48 horas depois do final do evento sem nenhuma nova manifestação da organização. Os últimos VODs foram liberados e todas as minutagens estão organizadas. Os brutos de gravação permanecem como o VOD oficial do evento.

Outros problemas técnicos

F5 é a melhor arma ao seu favor. Foi muito comum entrar em um palco ao vivo e ver uma tela preta de um player que não carregava. Após várias atualizações da página até dava pra assistir o painel, mas por esse problema eu perdi 20 minutos do painel do Neil Gaiman ao vivo. Os VODs também têm problemas de carregamento, o player travou algumas vezes ao tentar avançar o vídeo.

Considerações finais sobre a plataforma

Ainda que ela precise de algumas otimizações e correções, eu gostaria de ver essa plataforma auxiliando o evento presencial. A agenda e os filtros de pesquisa do Artists’ Valley são ferramentas muito boas para se organizar durante o evento. Pela experiência que tive nessa edição, percebi que a maioria dos problemas aconteceram mais por decisões errôneas da organização do que pela plataforma em si.

Destaques na programação do evento (e outras dores de cabeça)

Entre muitos problemas técnicos, trocas de horários e descobertas no bruto de gravação, consegui acompanhar o evento de forma caótica. O ponto alto do evento são os MasterClass, com material pré-gravado e legendado, e seguindo essa linha, o Artist’s Valley teve muito conteúdo pré-gravado, mas infelizmente nem todos tinham legenda para os convidados internacionais. A impressão que eu tenho dessa CCXP é que se você não sabe entender inglês, este evento brasileiro não é pra você. “Mas tem closed caption”. Não existe uma boa explicação para um conteúdo pré-gravado ser apresentado com closed caption no lugar da legenda.

MasterClass

MasterClass do Artist’s Valley.

Além do anúncio do Neil Gaiman no evento, os nomes envolvidos no MasterClass me animaram bastante para acompanhar a CCXP. O MasterClass do Mark Waid (Reino do amanhã, de 1996) sobre roteiro foi um dos meus favoritos. Waid deu dicas para novos roteiristas sobre tripés de roteiro e os encorajou a quebrar as regras básicas quando se sentirem preparados. Outros pontos interessantes foram “Pintura, com Jill Thompson” (para um fã de carteirinha dela como eu, ver ela apresentando técnicas e seu método de trabalho com aquarela foi incrível) e “A menina que matou os pais / O menino que matou meus pais”, ministrado pela dupla criativa de Boa noite, Verônica (livro em 2016 e série em 2020), Ilana Casoy e Raphael Montes, com o diretor Mauricio Eça, que divulga mais detalhes sobre o projeto de contar a história do caso Richthofen sob duas óticas diferentes no cinema.

Experiência ao vivo

Um SONHO realizado: Neil Gaiman é o convidado de honra da CCXP Worlds.

Tentei assistir poucos painéis porque meu objetivo era assistir tudo gravado depois. Como já comentado, foram 20 minutos de F5 até o player sair da tela preta. Houve mais problemas durante a transmissão, como perder a imagem durante o MasterClass do Gaiman, áudio duplicado e tweets na frente do closed caption. Já no segundo dia de evento, uma nova dupla tentativa frustrante de assistir o Papo Reto de Marcelo D’Salete com Andreza Delgado e o painel da Editora Conrad. Seria azar demais dizer que os dois mudaram de horário no último momento? Sim e foi o que aconteceu, o Papo Reto do D’Salete foi alterado das 11h para às 23h e depois para às 20h35. O painel da Conrad era às 12h30 originalmente, também foi jogado para as 23h e minutos antes de começar, foi informado que o painel foi adiantado para às 13h06.

Foto e tweet sobre o painel da Conrad.

No terceiro e último dia, tive mais sorte para conseguir acompanhar o evento, durante a programação da Warner (Thunder Arena). Entre os conteúdos da Cartoon Network, assisti a conversa sobre a importância de diversidade nas suas animações e em sua equipe criativa. O painel de Irmão do Jorel (2014) contou as novidades da quarta temporada do desenho e a importância da Lara nessa temporada. Uma surpresa muito agradável foi a apresentação do primeiro episódio da animação Primal (2019) do Adult Swim, a série foi lançada oficialmente no Brasil nesta última segunda-feira (07/12) após o evento. A obra sem diálogos foi criada e produzida pelo grande Genndy Tartakovsky (Samurai Jack, de 2001) e nela acompanhamos a jornada de um homem das cavernas e dinossauros em um mundo brutal e selvagem.

Em um evento com mais frustrações do que momentos épicos, a organização da CCXP deixou muito a desejar esse ano. Não me sinto frustrado pela falta de anúncios, conteúdos que me agradam ou por não ser um evento presencial, meu problema foi a falta de organização e preparo. Entendo que tiveram quatro meses para montar a plataforma, aliás parabéns por terem feito uma plataforma do zero em tão pouco tempo, mas em grande parte, os problemas que eu tive com o evento não estavam ligados a plataforma.

Revisão: Asbahr Nasser.

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Lucas Ferreira
HQnoBlack

Estudante de linguística que quando não está perdido no mundo da lua está lendo quadrinhos e bebendo (muito) café. Cyber Necromancer nas horas vagas. Ubuntu ✊🏾