Aos mestres, com carinho.

Dorly Neto
HTPC da QEdu
Published in
4 min readOct 15, 2017

Ainda não encontrei, em nossa sociedade, profissional mais apaixonado pelo exercício de sua profissão que os professores. Mesmo com a falta de valorização frente à sua importância e a baixa remuneração que dificulta a plena realização de sua função, os professores estão lá, dia após dia, transformando positivamente a vida de centenas de milhares de jovens pelo país.

É preciso não romantizar essa situação na qual nossos professores se encontram. Todas essas adversidades precisam acabar — não há país desenvolvido onde um dos pilares de seu desenvolvimento não passe pela extrema valorização (financeira e de formação) do professor. E, diante da situação alarmante da educação pública brasileira, não existe a possibilidade deste tema não ser prioridade para todos nós.

Educação básica de qualidade e com equidade é a forma mais eficiente de combater injustiças e reduzir desigualdades.

A educação é um assunto global. Por exemplo, desde 2002, a Global Partnership for Education (GPE) reúne centenas de iniciativas de países em desenvolvimento que possuem o intuito de ampliar radicalmente o acesso de crianças e jovens à escola para que aprendam o que têm o direito de aprender. São grupos de professores, organizações internacionais, doadores, fundações, etc.

A ideia é articular essas instituições em volta de um mesmo objetivo, estipulado pelo Global Goal Education, da ONU: criar uma educação com equidade e inclusiva, para todos, até 2030. Um sonho grande e, aos olhos dos incrédulos, impossível. Mas desafios estão aí para serem superados. A GPE estabeleceu um plano estratégico com 3 metas e 5 objetivos a serem alcançados até 2020, como um indicador de que estamos chegando lá.

Falando de Brasil, vivemos em uma realidade onde apenas 14% dos jovens brasileiros possuem aprendizado adequado em matemática, ao chegarem no 9º ano do ensino fundamental. Menos da metade das escolas têm acesso à internet banda larga. O salário de nossos professores está entre os piores do mundo. Menos de 5% das escolas possuem infraestrutura ideal prevista pelo Plano Nacional de Educação.

A pintura geral é de um quadro trágico. E trabalhar para gerar mudanças significativas nesse cenário têm se tornado uma missão para diversos empreendedores preocupados com o futuro de nossas próximas gerações.

Destaco o trabalho da Fundação Lemann que, desde 2002, desenvolve e apoia projetos educacionais, cria pesquisas que influenciam políticas públicas e oferece formações para profissionais de educação. Um dos projetos apoiados pela Fundação Lemann é a Associação QEdu (onde trabalho). Nossa missão é utilizar tecnologia e dados para auxiliar a tomada de decisão inteligente de gestores educacionais, professores, diretores e todos que são envolvidos na melhoria do aprendizado de nossos jovens e da educação como um todo.

Outro trabalho muito relevante é realizado pela movimento Todos pela Educação. Eles traduziram algumas necessidades urgentes de melhoria da educação em 5 metas a serem alcançadas até 2022, ano do bicentenário da nossa Independência. Não são as metas de melhoria ideal, visto que não se faz uma revolução educacional em tão pouco tempo num país de proporções continentais, mas são balizadores de que estamos no caminho certo.

Os desafios para chegarmos na educação de qualidade e com equidade que nossos jovens merecem, e com a remuneração e formação que nossos professores precisam, são imensos. E isso não é só um problema do governo, das ONGs e Fundações ou dos projetos educacionais que se propõem a transformar essa realidade — melhorar a educação tem que ser um projeto de todo mundo.

Imagino que seu dia-a-dia seja super atribulado e você não pode se dedicar 100% a essa causa. Sem problemas! Se cada um de nós já fizer um pouquinho, a ajuda será imensa e contribuirá para a transformação.

Procure a escola que você estudou e converse com os estudantes, por um dia. Conte sua história. Mostre para eles como a educação foi importante para você; como os professores mudaram sua vida. Procure uma escola pública perto da sua casa ou trabalho e pergunte como você pode ajudar; se ofereça para ser voluntário por um dia. Seja mais próximo da escola dos seus filhos ou sobrinhos, conheça melhor os professores deles. Organize uma reunião com outros pais interessados e proponham uma ação que possa ajudar a superar algum problema que a escola esteja enfrentando. Comece com ações pequenas mas incentive outras pessoas a também se engajarem, essa corrente só tende a crescer.

Uma certeza: nossos professores amam o que fazem e odeiam a situação em que se encontram. Mas o amor pelo ensinar e pelo futuro das crianças e jovens é maior do que as adversidades encontradas no processo. É fundamental que nós, da sociedade civil, estejamos perto dos professores, ouvindo suas reivindicações e ajudando, como possível, na luta pela melhoria de suas condições de trabalho.

Aos mestres, com carinho. Estamos com vocês.

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