Após enfrentar diversos obstáculos relativos a financiamento, a Parada Livre de Porto Alegre está garantida para este domingo graças a mobilização de apoiadores que colaboraram com o crowdfunding. Até a publicação desta reportagem, a meta principal, de R$ 20 mil, já tinha sido 90.9% atingida.
No ano passado, a organização do evento já tinha passado por um susto. O poder público municipal, que providenciava o palco e a estrutura do evento, suspendeu seu apoio. Após isso, os organizadores fizeram contato com uma produtora que fazia esses serviços em troca do direito de buscar patrocínios para o evento. Mesmo com as dificuldades, a 21ª edição ocorreu. No entanto, em 2018, um dia após a eleição do novo presidente, os organizadores do evento receberam um aviso da produtora relatando que não fariam a Parada neste ano.
Assim, faltando menos de um mês para a realização da parada, decidiram recorrer a parcerias. Alguns locais como Charlie Brownie, Agridoce Café, Cucko, Spoiler e Workroom produziram festas e até drinks especiais para ajudar. O lucro da venda desses produtos será repassado para o financiamento do evento. Também é possível comprar bottons, camisetas e canecas oficiais da Parada em alguns desses lugares. A mobilização segue válida, assim como é possível doar para o financiamento coletivo no site Apoia.se.
De acordo com Taynah Ignacio, uma das organizadoras, o atual tema da parada é diferente do que tinham planejado. “A gente tinha um tema que era ‘Qual é o teu privilégio?’, mas depois de todos esses processos políticos nacionais, decidimos mudar para ‘Resistir para não morrer’.” Ela fala que o momento é de resistência, pois com a eleição de Jair Bolsonaro, muitos LGBTQ+ sentem-se inseguros com as diversas afirmações homofóbicas do presidente.
O contexto político é o que motiva a presidente da comissão da Diversidade Sexual e Gênero do Conselho da OAB, Maria Berenice Dias, a recomendar os LGBTQ+ que desejam casar a realizarem a união até o final do ano. Ela explica que a ameaça real é a elaboração de uma medida provisória ou um decreto que proíba a união desses casais. Os direitos LGBT no Brasil vieram da Justiça, portanto não tem a força de uma lei que tramitou no Congresso. Um exemplo disso é a própria Resolução Nº 175/2013 que veda a recusa de autoridades competentes a habilitação, a celebração de casamento civil ou a conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
Por tudo isso, os organizadores da Parada Livre decidiram que não é tempo de recuar. Estão determinados a fazer o evento com o dinheiro que conseguirem arrecadar. Taynah considera a Parada Livre mais do que um acontecimento cultural, mas também um espaço de luta e resistência que aponta a necessidade de repudiar a violência contra lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e travestis. Se há ainda alguma ameaça ao evento, é a chuva: caso ela se confirme, o evento será remarcado.