Saída dos EUA da Parceria do Transpacífico marca estratégia internacional de Trump

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4 min readJan 26, 2017

Com seis dias de mandato, Trump retira os EUA de um dos maiores acordos comerciais do mundo. A Parceria reunia 40% da economia mundial e a saída do país, na prática, inviabiliza o tratado.

Reprodução / Reuters

Por Paulo Nemitz Junior

Em apenas seis dias de mandato, Trump começa a cumprir com as suas propostas de governo. Na segunda-feira (23/1), o mais novo presidente dos EUA, Donald John Trump, decretou a saída do país da Parceria do Transpacífico (TPP), um dos maiores acordos de comércio do mundo. O professor de Relações Internacionais da ESPM, Camilo Pereira Carneiro, analisa os possíveis desdobramentos dessa decisão.

O acordo foi assinado, após oito anos de negociações, no ano de 2015, durante o governo do ex-presidente Barack Obama, que queria ampliar o mercado e a influência na Ásia para conter a China que ficou de fora desta parceria. O acordo tem como objetivo aprofundar laços econômicos entre os 12 países membros, aplicando uma redução das barreiras tarifárias e de regras uniformes. Japão, Malásia, Vietnã, Cingapura, Brunei, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, México, Chile e Peru são os países que atualmente fazem parte do acordo, tirando os EUA — pela sua recente saída.

A medida tomada por Trump afirma, cada vez mais, as propostas de um governo que visa a fortalecer o seu mercado, com a diminuição de importações e de concorrentes estrangeiros. Tais ações afetam também as relações dos Estados Unidos com os países vizinhos, principalmente quanto ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), que envolve Canadá, México e EUA. Segundo o professor de Relações Internacionais da ESPM, Camilo Pereira Carneiro, há uma onda de desemprego no país, causada por montadoras aplicadas no México, que acabam por diminuir as oportunidades de emprego para os norte-americanos. Mesmo com esse cenário, os mexicanos recebem um salário seis vezes menor do que os norte-americanos, o que caracteriza uma mão de obra barata — que é o grande interesse de empresas. “A população perdeu empregos com o NAFTA, pois as fábricas começaram a ser instaladas no México, então quem não tinha algum curso superior ficou vulnerável e teve que ser realocado em empresas menores, ganhando salários menores”, ressaltou o professor.

Antes da saída dos Estados Unidos, o TPP reunia 40% da economia mundial, um mercado de 800 milhões de consumidores. A retirada americana, na prática, inviabiliza o tratado, já que para entrar em vigor o texto precisa ser ratificado por países que representam 85% do PIB total dos signatários. Como os EUA detêm 60% do PIB dentro do bloco, não há como retificá-lo com o seu aval.

Reprodução / Folha de São Paulo

A Parceria do Transpacífico representaria novos lugares para que os Estados Unidos conseguissem implantar montadoras. “Países que estivessem no acordo também fariam parte de áreas com a mão de obra barata, como acontece no México”, afirmou o professor Camilo. Mas, essas eram medidas a serem tomadas pelo ex-presidente do país, Barack Obama, que tinha como estratégia de governo abrir o mercado norte-americano. Hoje, enfrenta-se um movimento totalmente contrário, com ações protecionistas tomadas pelo republicano Donald Trump, que busca fechar as portas de seu mercado para o restante do mundo.

Essa medida dos EUA não afeta diretamente o Brasil. Em sua campanha, Trump se mostrou despreocupado com a América Latina como um todo — até agora não vista como uma prioridade econômica. Os produtos fabricados no Brasil e exportados para os EUA sofrem inúmeras taxações, por exemplo, o suco de laranja e o aço. Essas medidas dificultam as relações de mercado entre o Brasil e o país norte americano. E, na quarta-feira (25/1), o Ministro da Indústria, Comércio, Exterior e Serviços, Marcos Pereira, disse, em entrevista à agência de notícias G1, que as medidas de caráter protecionista anunciadas pelo novo presidente dos Estados Unidos significam uma “oportunidade para o Brasil” estabelecer novos acordos de livre comércio com outros blocos econômicos.

“Ora, quando nós, Mercosul e Brasil, nesta nova configuração, com o Brasil mais aberto, com a Argentina mais aberta e com a suspensão da Venezuela, começamos a negociar um acordo de livre comércio com o mundo e vem a maior economia do mundo se fechando, é uma preocupação. No entanto, entendemos que podemos usar as medidas protecionistas do governo americano como oportunidade. Como eu disse, é fazer do limão uma limonada”, afirmou o ministro.

São medidas iniciais, tomadas por Donald Trump, que já traçam a política externa do país, de fechar as portas para o mundo, e fortalecer o seu próprio mercado. Para o professor Camilo Pereira, as medidas de Trump podem significar “um primeiro passo no sentido de um novo movimento protecionista global”, ações que vão de marcha a ré às formações de blocos econômicos que presenciamos desde o final do século XX. Mas, ainda é cedo para sabermos qual o real impacto das medidas do republicano, principalmente no que se refere à saída do país da Parceria Transpacífico.

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