Subterrâneo
Ia ser-te difícil contar-me uma história sobre quando entraste num buraco para a terra e mais tarde saíste num sítio onde a cidade já era diferente. Em cima há um casal a bebericar cerveja no parque, dois vizinhos discutem e na porta da igreja há um pedinte novo. Dançando num banco rijo, passas por baixo deles a grande velocidade. Nos rostos deles isso não existe, não há uma única ruga preocupada com o que se passa aí, abaixo. Parece haver dois mundos na cidade, no teu é sempre noite e há tubos de metal gigantes a empurrar ar respirável. Não sei porque escolheste descer essas escadas, não sei porque deixaste de gostar da brisa irregular, de tantos barulhos, da chuva que te surpreende à dobra da esquina. Não sei com que paixão olhas o cinzento. Uma vez um velho disse-me haver no céu um pássaro por cada um de nós, que nos seguia os passos do céu, vigilante. Deves confundir tanto o teu.