O que eu aprendi sobre ser criativo com Austin Kleon

Eduardo Marques
hurb.labs
Published in
9 min readNov 10, 2022

O que é ser criativo?

Como designer, todos os dias tenho o desafio de resolver problemas. Para chegar na solução, em um produto final, ou seja qual for o resultado, eu preciso de um processo criativo que me ajude a entender onde estão os buracos para preenchê-los.

Para (tentar) encontrar as melhores soluções para tais desafios, tenho que entender o que já foi feito, o que deu certo, o que não deu e o que poderia ser uma solução.

Pra isso, busco referências e misturo elas até que vire uma nova proposta para o que quero resolver. Esse processo, é o que acredito ser a criatividade.

Trecho do livro Roube como um Artista, Austin Kleon.

Nesse artigo, eu vou contar um pouco sobre o que aprendi nos livros de Austin Kleon: Roube como um Artista e Mostre seu Trabalho. Também vou compartilhar minha visão sobre a criatividade e como engajar dentro de um grupo de interesse.

Quem é Austin Kleon?

Antes de começarmos, queria apresentar o autor dos dois livros que iremos discutir. Austin é um escritor e ilustrador, nascido no Texas, EUA. Kleon iniciou sua carreira trabalhando em uma biblioteca, onde escrevia poemas a partir de páginas de jornal. Ele os publicava em seu blog, ainda sem sucesso.

Nesse tempo, sentiu a necessidade de ensinar aos usuários da biblioteca a usar computadores e a encontrar livros e textos publicados online. Com o tempo, Austin viu a oportunidade nascendo nas plataformas digitais. Tornou autodidata e especializou em HTML e CSS. Assim, encontrou em seus blogs, um lugar melhor onde as pessoas pudessem encontrar seus poemas.

Escreveu seus primeiros livros e os publicou. Roube como um artista ganhou diversos prêmios, inclusive como bestseller do The New York Times.

Com isso, hoje, Austin é uma grande referência quando o assunto é criatividade.

Roubar como um Artista

O ser humano vive em uma sociedade cultural e plural, onde todos os dias aprendemos assuntos novos, vemos novas notícias nos jornais, lemos livros, vemos filmes, conhecemos pessoas novas, etc. Todas essas atividades nos geram referências e ideias, que escolhemos guardar ou não nas nossas memórias.

Austin Kleon fala que nós aprendemos a guardar (ou como ele gosta chamar, roubar) essas referências. Ao analisar essas referências, temos que parar de julga-las como ideias boas ou ruins. Quando entendemos que o que existem, são ideias que valem a pena serem roubadas naquele momento ou não, aprendermos a categorizar nosso acervo de referências de furtos criativo.

Para mim, essa afirmação faz muito sentido. Ideias que não são bem estruturadas ou que não foram bem elaboradas, podem acabar abrindo caminho para soluções de uma proposta melhor. E você só chegou lá, porque alguém deu um primeiro passo.

No livro, Austin fala sobre ter um caderno de furtos. Eu tenho alguns — leia-se muitos. Neles é aonde anoto referências e assuntos que aprendo e considero interessante e guardo meus furtos para o futuro. Considere ter um também.

Roubar é diferente de copiar

Até aqui, falei muito para olhar referências e criar a partir disso. Mas existe uma grande diferença entre roubar e copiar ideias.

Nós roubamos quando olhamos para diversas inspirações e as misturamos. Analisamos padrões e oportunidades em ideias existentes, em seguida fazemos nossa própria proposta, baseado no que aprendemos.

Já a cópia acontece quando olhamos para apenas uma referência e tentamos apenas reescrevê-la, de outra forma. Nós não contribuímos em nada nesse caso. Não trouxemos novos pensamentos e nem agregamos para a evolução daquela ideia.

Como roubar como um artista?

Em Roube como um artista, Austin fala que ser criativo também é sobre escrever o livro que você quer ler. As referências que vemos todos os dias, tornam-se novas histórias ao interpretamos elas em outras situações onde elas não haviam sido encaixadas ainda.

Tome como exemplo Walt Disney. Ao ler o conto da Branca de Neve e os sete Anões dos irmãos Grinn, provavelmente Disney se encantou pela história.

Contudo, ele entendia que estes contos eram de uma geração em que educava-se as crianças a partir do medo do desconhecido. Walt acreditava que os tempos eram outros, ele precisava contar histórias que precisavam inspirar, ao invés de causar medo. Com isso, seu estúdio de animação lançou uma releitura, como primeiro longa-metragem animado, do conto da Branca de Neve. Não preciso contar que foi um sucesso né?!

O fato é que sem o conto dos irmãos Grinn, provavelmente a Disney não seria como conhecemos hoje. Eu enxergo os roubos que fazemos no nosso dia-a-dia, como referências para ideias futuras que passamos ter.

Pode ser que hoje você tenha tomado nota de algo que achou interessante e decidiu guardar. Quando chegar o momento em que a união de diversas referências e contexto, fizer você reviver aquele roubo, com certeza você vai ter um processo criativo muito rico.

Nada é original

A verdade seja dita. Nada nesse mundo, hoje, é criado do zero.

Todo trabalho criativo parte de algo que o artista já havia aprendido ou visto. Soube de alguém que reinventou a roda desde sua criação?

Temos esse entendimento que a originalidade é o caminho para sermos reconhecidos por certa genialidade. Mas provavelmente, se você já teve a impressão de achar alguém original, é por que você não viu suas referências e inspirações. Não tente achar que você tem que ser um gênio que nasceu com talentos artísticos. Ninguém é assim.

Gênios não existem

Nossos livros de história estão cheios de artistas que criaram pinturas, músicas ou que contribuíram filosoficamente com frases únicas, etc. Todos esses são considerados gênios de suas épocas.

Refletindo sobre isso, eu interpreto que na realidade, artistas de outras épocas não compartilhavam seus estudos, processos criativos e nem colaboravam com grupos e seus nichos.

Isso nos fez conhecer apenas o resultado de um produto final, ao invés de toda evolução. Não acredito que Leonardo Da Vinci tenha pintado a Mona Lisa em uma tarde de domingo, apenas por que se sentiu inspirado. Ele com certeza estudou muitos outros artistas, testou diversas técnicas, errou muito e — principalmente — aprendeu muito no processo.

Não me entenda errado, tivemos sim diversos artistas que se destacaram em suas épocas. Mas de longe eles se tornaram gênios por algum tipo de dom natural.

Diria que eles souberam expor seus trabalhos finais para o grupo de pessoas certas.

Entre em cenas. Colabore. Seja visto. Roube e compartilhe

Com o boom da globalização, a comunicação ficou cada vez mais integrada ao redor do mundo. Isso significa que você pode discutir sobre qualquer assunto com uma pessoa do outro lado do mundo.

Com isso, artistas encontraram com mais facilidade espaços de conversa sobre assuntos em comum. Compartilhar ideias, aprender e ensinar ficou muito mais fácil.

Aprenda e compartilhe. Aprenda novamente ao ouvir o que outros aprenderam.

Trago esse tópico porque vejo designers bons que ainda não compartilham seus aprendizados. Muitos por medo de serem julgados. Você provavelmente já deve ter escutado que quem não é visto, não é lembrado.

Precisamos perder essa ideia de que só podemos compartilhar nossas ideias quando elas já estão perfeitas e bem polidas.

Deixa te contar uma coisa, elas nunca chegarão a esse ponto. Nós temos que nos acostumar a compartilhar projetos durante seu processo de desenvolvimento. Só assim as pessoas nos notarão pelo nosso trabalho. Elas entenderão nosso processo criativo, e poderão também compartilhar suas ideias, ajudando a evoluir esse projeto.

No livro Mostre Seu Trabalho, Austin fala que, como no teatro, existem diversas cenas no mundo. Cada cena, é uma bolha, um nicho sobre um assunto. A partir dessa cena, você é capaz de encontrar pessoas que entendem muito do assunto e pessoas que não entendem muito, mas que estão dispostas a aprender. Quando você participa ativamente dessas cenas, você sempre rouba, compartilha ideias, conhece novas referências para roubar e vira referência para outros, gerando um ciclo de conhecimento infinito.

Encontre um assunto que você gosta de discutir. Encontre uma cena para compartilhar suas ideias. Use sua voz para que as pessoas possam te escutar.

Você não encontrará sua voz, se não a usar

Uma vez perguntei para um atleta de musculação qual o segredo para alcançar o shape. Ele me contou que o resultado que eu via, foi fruto de muita prática, paciência e consistência.

Encontrar o nossa voz, personalidade como artista, não é diferente.

A voz não é uma qualidade inata que temos ou não. Ela aparece aos poucos. E fica mais perceptível conforme usamos mais e somos mais ouvidos.

Austin Kleon, no livro, cita que se não usarmos nossa voz, nunca iremos encontrar nosso tom. Só conseguiremos alcançá-la através da prática. Fale sobre coisas que lhe interessam. você verá que aos poucos, começará a ser escutado.

Finja, até conseguir

Nós nos penalizamos ao tentar sair da nossa zona de conforto para aprender algo novo. Seja achando que não somos capazes ou que o resultado não será o melhor.

Quando nos desapegamos da ideia do julgamento alheio e de que o que importa é só o resultado final, entendemos que em todo processo existe um início. Um lugar de onde partimos, um ponto zero. Fingimos até nos tornarmos aquilo que queremos alcançar.

A prática de qualquer habilidade sempre vai nos levar ao seu desenvolvimento. O erro também faz parte da jornada do aprendizado. Então não precisamos ter medo de não acertar.

A criatividade também não é binária. As vezes a solução que você propôs, pensando que era errada, pode ser apenas uma porta para novos acertos. Afinal, como as pessoas vão olhar para este caminho, se você não as tivesse apresentado?

Seja um eterno amador

“Quem acha que sabe de tudo, não sabe de nada, pois não se dá a oportunidade de aprender.” — Simone Frangelli.

Já percebeu como quando estamos aprendendo algo novo, ficamos muito empolgado? Sempre queremos participar das discussões, nos tornar parte daquele assunto, aprender mais e compartilhar nossas ideias sobre.

Amadores são apaixonados pelo que fazem e estão sempre abertos a aprender. Contudo, quanto mais nos especializamos em algum assunto, temos a tendência de achar que não precisamos desenvolver mais o aprendizado. Entendemos que nosso papel é apenas espalhar o que já sabemos ou colocar em prática.

A verdade é que nenhum assunto é imutável o suficiente a ponto de sabermos tudo sobre aquilo. Sempre temos que estar estudando, desenvolvendo, roubando novas referências. Só assim, iremos aprender e refinar mais nossa criatividade.

Seja um procrastinador produtivo, saia da sua rotina

Ninguém é produtivo 24 horas por dia. Todos nós precisamos dar pausas de descanso para o nosso cérebro quando nos sentimos com algum bloqueio criativo.

Algo que tenho levado como aprendizado é como tornar esses momentos de procrastinação, produtivos. Esse é o momento que temos para enxergar referências ocultas.

Já teve aquele momento durante um banho de ter uma ideia brilhante? Ou então de achar a solução para uma tarefa enquanto dorme. Você acredita que metade desse artigo foi feito durante um rolê na praia?

Alguns conselhos podem ter falhas

Tudo que trouxe aqui, são minhas interpretações sobre o que estudei dos livros de Austin Kleon. Muito do que li me fez sentido e compartilhei com colegas do trabalho, a partir da minha visão. Mas outros assuntos que li, também deixei pra trás no livro. Talvez em algum momento me seja útil.

Roubei o que entendi que valia a pena. Fique à vontade pra roubar desse texto que lhe foi interessante e passe pra frente!

Obrigado!

Bibliografia

KLEON, Austin. Roube Como Um Artista (Steal like an artist). Rocco; 1ª edição, julho de 2013.

KLEON, Austin. Mostre Seu Trabalho (Show Your Work). Rocco; 1ª edição, novembro de 2017.

KLEON, Austin. Steal Like An Artist: Austin Kleon at TEDxKC. Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=oww7oB9rjgw

PraGente, Perca o medo e coloque seu trabalho no Mundo! Podcast, Spotify: https://open.spotify.com/episode/4zYKbJcMdRMheQ756lAVbf?si=d5f98d1051ca4c82

Masterclass, 003-Roube como um Artista. Podcast, Spotify: https://open.spotify.com/episode/0YocS3kN4hmOJFFxpveFNf?si=4d9a64ecef0649bd

The way Walt Disney inspired his team to make ‘Snow White’ reveals his creative genius — and insane perfectionism: https://sg.news.yahoo.com/way-walt-disney-inspired-team-143500083.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAAAwQr5UvoTrVYFJi9w-YS8BhEUxAGLBtKITTbxeNnm6DJU8EPqCCjBEIcUIBg9ddLxz8a3YWD4u2px9JzmqqzBhgtS3NefdHF6DWKzgFgkNb3Rw7U8dksIl25S4yYFXDD7VzRhdndqcDkOizlw-E68qys3bOuaZTEbhs8VSCWXi4

Pílulas de Design, Episódio 14 — Como desenvolver a criatividade(Resenha do livro Roube como um Artista). Podcast, Spotify: https://open.spotify.com/episode/6i5eyMqsYwwnLjKXdFhVjT?si=f6e584e737504090

O que é globalização: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-globalizacao.htm

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