Mariah Trotta
Hurb.com
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3 min readJul 22, 2020

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ACEITAÇÃO

A gente ( ou a maioria de nós ) passa a vida buscando aceitação, tentando entender nosso lugar no mundo, nosso valor pra sociedade. Eu sempre soube que eu era diferente, sempre. Mas ser diferente, demanda coragem, por a cara pra bater e enfrentar uma chuva de olhares, comentários e brincadeiras.E foi nessa de tentar me enquadrar pra não ter que lidar com esses enfrentamentos todos, que eu fui me moldando pra caber. Caber em um padrão que não era confortável, nunca foi e nunca seria. Passei anos com um sentimento de inadequação constante.

Até que eu resolvi me assumir gay, resolvi que tava na hora de me conhecer e das pessoas me conhecerem. ALIVIO.

A sensação que deu foi parecida com a que você tem quando brinca de quem fica mais tempo sem respirar. Você aguenta ali firme ate o ultimo vestígio de ar, ate que não aguenta e respira. Essa sensação de alivio foi a que senti quando falei. O silencio DÓI gente, e ele é perigoso. Algumas dores a gente não escolhe.Mas essa foi uma dor que eu escolhi não sentir mais.

Depois disso, a minha relação não só comigo mas as trocas que eu tinha com as pessoas começou a melhorar. Eu viva passiva agressiva, sempre arisca com o mundo por que meu incomodo com o mundo vinha de dentro. A gente passa a vida toda sendo criado com mil pré definições de como as coisas deveriam ser, do que é certo e do que é errado. É difícil re-significar aquelas expectativas todas.Nossas e dos outros em cima da gente.

E da medo. Mas a gente PRECISA falar, mesmo que não seja fácil.

Eu tive sorte.

A gente passa mais tempo no trabalho do que em casa.Em casa já estava tudo bem, agora era preciso a coragem de verbalizar isso no trabalho. Tinha necessidade das pessoas saberem? Não. Mas eu optei falar para as pessoas próximas a mim, eu não queria mais me esconder de ninguém. E aquelas pessoas eram uma segunda família. Eu fui ouvida e apoiada pelos meus amigos do trabalho e nesse momento, foi um segundo respirar depois de segurar o folego.

Como eu disse, eu tive sorte. Também não fui posta pra fora de casa, não apanhei, não quiseram fazer tratamento psicológico em mim e não fui mandada embora do trabalho.

Mas eu AINDA não sofri preconceito… Ainda. E cada vez que eu falo isso meu coração aperta de medo. Ainda… Por que eu sei que em algum momento eu vou sofrer. É tão difícil se aceitar, quando a gente consegue dar aquela respirada funda ai vem alguém preconceituoso e manda a gente segurar o ar de novo. Ser LGBT significa lutar contra preconceito e violência todo dia. Em 76 países é crime ser gay, e em 7 deles ainda é pena de morte.

E eu não quero deixar que minha sexualidade seja um problema. Eu quero garantir que a minha, a sua, a sexualidade de qualquer pessoa não faça eu perder meus direitos, minha dignidade, ou minha própria vida.

Existem 7 bilhões de vidas no planeta, 7 bilhões de jornadas, de descobertas, de vidas complexas de mais para caber em um armário ou em um padrão que alguém — que nem conheço — resolveu que tinha que ser daquela forma.

E a gente pode resolver esse problema. A gente só precisa falar. Quando a gente verbaliza a gente vê que não ta sozinho, que aquela sensação de não pertencimento não é só minha, ou só sua, e que falando a gente pode se ajudar.

Então hoje eu acabei resolvendo escrever aqui por que eu percebi que verbalizar era importante não só pra mim, mas pra outras pessoas que poderiam ta só precisando daquele empurrãozinho, daquela motivação pra ir la e fazer o mesmo. Lembra da primeira respiração que mencionei que senti depois de ficar muito tempo segurando o ar? Espero que meu texto ajude alguém a tomar coragem para sentir esse respirar.

PENSE FORA DO ARMÁRIO

Mariah Trotta
Alguém que executa | Branding

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