Não Importa

Hynx
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4 min readMay 26, 2017

Logo no começo de Horizon uma coisa fica bem clara para o jogador: o mundo do jogo tem uma estrutura social bem diferente da nossa. Isso não é uma descoberta feita com esforço, eles praticamente esfregam na sua cara incessantemente durante as primeiras duas horas de jogo. As matriarcas comandam a vila, não ter mãe é uma vergonha, um homem claramente faz o papel que temos como maternal para a protagonista, a pessoa mais forte da vila é uma mulher e por aí vai.

Então, essencialmente, a vila da nossa protagonista é quase uma inversão completa da nossa sociedade atual, ou pelo menos do que pessoas mais ativistas e/ou pessimistas acham que é a nossa sociedade atual. Nada de errado eles terem colocado isso em seu jogo, é claro. Como eu sempre defendo, cada um é livre para abordar qualquer ideia em sua obra; mas a mensagem total que é absorvida não para por aí.

Após passar esse período inicial glorificando essa visão que eles modelaram, começa a despontar a real mensagem, aquela que é vista desfocada e passando por trás de todo esse lacre virtual inicial. O que fica claro após você desbravar o mundo e perceber todas suas peculiaridades é que a sua vila é uma bosta. O mundo inteiro é uma merda, na verdade, mas a sua vila é uma das piores coisas desse gigante dejeto metafórico.

Essa é o primeiro baque que o jogo passa, logo quando você tem o choque de realidade ao conhecer outras tribos: a inversão de realidades não adiantou porra nenhuma. Foi uma simples passagem de poder de homens para mulheres. Todas as nossas falhas e idiotices ainda permanecem lá, ainda mais evidenciadas pelo estágio primal no qual o mundo se situa. Nosso fanatismo, nossa intolerância, a burrice do ser humano em observar só a crosta de algo que se estende e se elabora por diversas outras camadas, tudo isso ainda está lá, com muita força.

Mais para frente no jogo encontramos com um Imperador que é inseguro, impotente, que está precisando da ajuda da nossa guerreira, e apenas ela pode salvá-lo. Ou seja, novamente eles fazem questão de apenas reverter o que a galerinha estava reclamando na internet. Nesse caso é basicamente uma troca de gêneros quase, chegando ao ponto de até incluir na trama fraquezas sentimentais do imperador. Chega a ser quase uma sátira.

E bem… foda-se. Nada disso do que eu elaborei até aqui é uma mentira, e eu iria continuar sobre como os desenvolvedores tentaram forçar uma visão da moda sobre o mundo criado e seus personagens mas acabam provando sem querer que essa pura inversão é uma ideia babaca. Mas e daí? Azar o deles. Horizon é um jogo bem derivativo, um título de mundo aberto bem conciso mas se pá um pouco covarde com suas passadas; esse tipo de coisa não agrega nada para o jogo deles.

Quem é fã de toda essa festa de imposições sociais e seriedade que é misturada nos jogos hoje em dia não vai gastar seu dinheiro só porque o jogo parece mais progressista, como as vendas têm provado recentemente. Quem não curte ou não liga não vai deixar de jogar também só por isso, como o próprio Horizon é prova devido seu amplo sucesso entre o público geral. O que importa de verdade é que esse assunto não importa.

Não importava eles terem colocado isso no jogo, não importa eu estar escrevendo sobre isso, simplesmente não importa nada. É ridículo eu estar dando qualquer palco para isso. Essa moda de tentar fazer jogos serem sobre outra coisa que não sobre os próprios jogos faz parecer que todo mundo se importa com essas discussões sem sentido algum, mas na verdade só quem gera essas problematizações liga pra essa merda. Todo o resto do mundo só reage com o que é cuspido por eles constantemente, e embrulhado em uma embalagem que soa mais cara do que é.

Fazem mais de dois meses que eu comecei a escrever esse texto, e Horizon é um jogo… OK. O fato é que olhando em retrospecto o único ponto que ficou comigo é algo que não é realmente importante ou interessante para mim, mas que os outros com sua politicagem e chatisse fazem parecer que é. Eu apenas estava reagindo tentando provar que o oposto. Desde quando eu passei a tentar provar algo pra alguém?

Eu sinto falta das épocas que eu simplesmente escrevia qualquer merda que vinha a cabeça para tentar explicar por que eu adorei ou odiei um jogo. Hoje soa mais como “”Caralho, como vocês estão pensando assim? Vocês deveriam pensar assado!” e isso é horrível demais. O próximo texto, que realmente é uma continuação temporal desse, deve explicar melhor tudo isso que eu tento colocar no final aqui.

Mas o que quero dizer é que vou parar de reagir diretamente com os meus textos. Obviamente não no podcast ou na minha retórica em sites sociais (que, absurdamente, é levada mais a sério que meus textos). Afinal, tem muita treta ainda para rolar na internet, e muita gente babaca pra peitar. Mas se algo não importa pra mim, se é um assunto que eu acho tão ridículo de ter sido sequer inventado, para que mencionar de maneira séria apenas para negar? O atual combinho de representatividade, moralidade disfarçada de justiça social, e menosprezo pelo popular já me deu no saco. Não faz sentido nem tentar debater a sério, ninguém quer conversar ou pensar, só lacrar.

Isso estava tirando completamente minha energia de escrever e produzir da forma como realmente flui. Então vamos voltar pra época onde eu escrevia o que eu realmente achava que importa em jogos, não o que os outros vomitam por aí pra fazer bonito. Não sei se vai funcionar (eu apenas posso torcer que sim). Bom foda-se tudo isso.

Ah, e o pós créditos do Horizon é um câncer do caralho, daquele tipo “Não existe mais motivo de a história continuar, mas fica aqui esse cliffhanger, para a gente produzir mais uns trinta jogos desses até a galera passar a odiar anualmente” bem especial. Agora acho que pronto. Fim.

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